Luísa e Ana Garrido deram continuidade às “Trouxas da Cuca”
Uma receita de uma família da Chamusca que já deve ter um século de existência. São trouxas de ovos e a receita não é secreta mas quem sabe de doces e bolos afiança que as “Trouxas da Cuca” são realmente diferentes de todas as outras.
São trouxas de ovos mas não são apenas trouxas de ovos. A receita que está na posse de uma família da Chamusca há mais de um século e antes disso deve ter feito outro longo caminho, provavelmente entre as paredes de um convento. Chamam-lhe as “Trouxas da Cuca” e agora são feitas pelas irmãs Garrido.
Luísa Garrido, 42 anos, lembra-se que a tia-trisavó Emília, que tinha alcunha de Cuca, era conhecida por ser uma doceira de mão cheia. “Eram muitas as pessoas da Chamusca que subiam à zona do mirante, onde morava, para lhe encomendarem trouxas de ovos, lampreias de ovos e outros doces”, diz.
Luísa e Ana Garrido, que tem agora 37 anos, decidiram pegar na receita antiga e dar-lhe continuidade, já lá vão cinco anos. A receita já tinha passado para a avó Ana e da avó para a mãe de ambas, Laura Garrido. “As trouxas de ovos eram um doce caro, pedido sobretudo pelas casas mais ricas da vila. Conta-se que a minha avó Ana chegou a fazer trouxas para um Presidente da República da altura”, lembra Luísa.
Ela ainda se lembra de ver a avó confeccionar aqueles doces e lampreias de ovos no fogão a carvão que tinha em casa. Ana Cuca não gostava que ninguém a ajudasse. Dizia que tinham que ser feitas apenas por ela para ficarem como deve ser.
Nunca passou pela cabeça de Luísa e Ana que um dia seguiriam os passos das suas avós e mãe. A ideia surgiu-lhes por altura do Natal com Ana a desafiar Luísa para recuperarem a receita de família. “A minha mãe tinha deixado de fazer as trouxas e as lampreias por motivos de saúde e a minha irmã teve a ideia de darmos continuidade. Foi assim que começou”, afirma.
Contactaram os antigos clientes da mãe e as encomendas foram crescendo aos poucos. A irmã mais velha garante que começou só por ajudar Ana, fazendo o papel, como a própria intitula, de Gata Borralheira. Limitava-se a partir os ovos, limpava e enrolava os doces. “Mantinha-me um bocado à margem para não atrapalhar”, conta. Entretanto, há cerca de três anos Luísa resolveu deixar o emprego e como a sua irmã trabalha teve que se aventurar a fazer a receita. “Eu não era grande adepta de cozinhar mas apaixonei-me pelos doces. Descobri que afinal até tinha jeito. Deve ser coisa de família”, graceja.
Actualmente, esta é a principal ocupação profissional de Luísa Garrido. Vai a feiras dar a conhecer os seus doces e os clientes não param de aumentar. Ela e a irmã trabalham só com clientes particulares. As épocas festivas, nomeadamente o Natal, a Páscoa e a Semana da Ascensão na Chamusca são aquelas onde existem mais encomendas e o trabalho não pára. Ana Garrido ajuda nas alturas de maior movimento. A receita não é segredo e dão-na a quem pedir mas não garantem que as trouxas fiquem tão boas como as que fazem.
A filha de Ana Garrido, de oito anos, já demonstra interesse e gosta de participar na confecção dos doces. As irmãs esperam que pela menos a menina dê continuidade às receitas da família que têm passado de geração em geração.