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Teatro Maior de Idade prova que nunca é tarde para aprender

Teatro Maior de Idade prova que nunca é tarde para aprender

No Teatro Virgínia, em Torres Novas, está em curso um projecto destinado às faixas etárias mais avançadas. A intenção é realizar um espectáculo cénico em Novembro. Para já, o trabalho que está a ser desenvolvido é de descoberta e de partilha das experiências que cada um traz consigo. Os participantes têm entre 58 e 78 anos.

O Teatro Maior de Idade, em Torres Novas, é constituído por 15 elementos com idades compreendidas entre os 58 e os 78 anos, alguns deles a descobrir pela primeira vez o que é pisar um palco e representar, ao mesmo tempo que se criam novos laços de amizade e se foge à rotina do dia a dia.
Fernando Giestas e Rafaela Santos são os encenadores do grupo que têm desafiado os actores continuamente neste processo, que irá culminar com a realização de um espectáculo em Novembro próximo. Para já, o trabalho que está a ser desenvolvido é de descoberta através da partilha das experiências pessoais que cada um traz consigo.
Fernando Giestas, da Companhia Amarelo Silvestre, de Canas de Senhorim, refere que já não é primeira vez que trabalha com esta faixa etária. Nota que já conseguiu criar o sentido de grupo entre eles. O objectivo passa também por desconstruir a ideia base de teatro e alargar-lhes novos horizontes. O grupo é muito bem-disposto e não tem medo de responder aos desafios que vai colocando o encenador durante o ensaio, que começa com um pequeno aquecimento ao ritmo da música dos Monty Python “Always looking to the bright side of life” (olha sempre para o lado luminoso da vida), que servirá de mote para o resto do ensaio.
Tudo isto é novidade para alguns dos elementos que pensavam que era chegar ali, receber o texto da peça e ensaiar. Era pelo menos o que esperava Carlos Dias, que com 78 anos é o elemento mais velho. Confessa que a certa altura sentiu-se um pouco desmotivado, mas aos poucos foi percebendo a intenção: “Isto é uma mais-valia, é uma experiência e vai ser boa quando no futuro representarmos a peça”. Já tinha tido uma experiência em teatro mas já há muito que não representa. Considera que “parar é morrer” e quando teve conhecimento desta iniciativa não teve dúvidas em inscrever-se.
Amélia Maia também não é estreante nas andanças teatrais, pois faz parte do Grupo de Teatro Meia Via, mas mesmo assim realça: “Estas pessoas têm uma vida muito rica de experiência e o projecto cativou-me logo. Tratamo-nos todos igualmente e os professores são muito criativos, com propostas imagináveis mesmo para mim e com a minha experiência”.
Otília Costa tem 76 anos. O marido sofre de problemas oncológicos e por isso esse bocado nas manhãs de quarta-feira são uma ajuda. “Aqui rio-me, distraio-me, solto-me, sinto-me feliz e gosto muito das pessoas”, conta.
Laura da Conceição criou sozinha três filhos e agora decidiu que estava na altura de fazer algo por ela. Faz também teatro na oficina de Teatro da ARPE - Associação de Reformados e Pensionistas. Para além da amizade que se constrói entre todos destaca: “nós aqui até fazemos ginástica, isto ajuda e estimula muito”.
Para Maria Antónia Rodrigues o bichinho do teatro vem da sua infância. Brincou no espaço onde foi construído o Teatro Virgínia e agora regressa para pisar o seu palco. Foi com essa memória que escreveu esta prosa: “Olhem só onde vim parar, ao palco do Virgínia, que antes de o ser foi palco da minha infância, sim, porque a terra que está debaixo deste palco se falasse diria, olhem que ela é, será que diria, estou tão diferente; Eu saltava corria, brincava, apanhava flores, cantava, e agora tudo mudou, até eu, estou tão diferente, mas ainda posso dizer, que vim ao palco, que está sobre a terra que me viu crescer.”
O grupo espera que a sua experiência possa ser um exemplo para outras pessoas da sua faixa etária que estejam desmotivadas, paradas e que achem que já fizeram tudo o que tinham a fazer nas suas vidas. Porque nunca é tarde para aprender coisas novas, basta olhar para o lado mais luminoso da vida.

Teatro Maior de Idade prova que nunca é tarde para aprender

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