Morreu o homem frontal que fundou uma das maiores provas de atletismo do país
Gabriel Duarte era vice-presidente da Associação 20 Kms de Almeirim e foi vereador duas décadas
O vice-presidente da Associação 20 Kms de Almeirim e director da prova de atletismo que todos os anos o clube organiza, Gabriel Duarte, morreu na quinta-feira, 5 de Maio. O dirigente associativo foi vereador do Desporto e da Educação na Câmara de Almeirim, quando era presidente Alfredo Calado, já falecido, com quem esteve durante 12 anos. Fez os dois primeiros mandatos do ex-presidente Sousa Gomes, também já falecido, como vereador na oposição, eleito pela CDU. Gabriel Duarte, funcionário das Finanças aposentado, há algum tempo que estava doente.
A Associação 20 Kms de Almeirim referiu-se a Gabriel Duarte, na hora do falecimento, como “o nosso comandante”, sublinhando as suas características como dirigente e como pessoa. “Um homem bom, de princípios, um verdadeiro amigo de todos nós. O Gabriel foi um ser especial, que marcou as nossas vidas pela sua honestidade, persistência, integridade e coração de ouro. O seu espírito sempre entusiasta e empreendedor vai certamente permanecer connosco”, refere a associação, acrescentando que “o seu exemplo de coragem, dedicação e amizade a causas constituem uma lição para os nossos técnicos, atletas, dirigentes e associados.
O presidente da câmara também lamentou o falecimento, referindo que tinha falado com ele pelo telefone “há umas semanas”. “A força que ele demostrava não fazia prever este desfecho”, diz. Para Pedro Ribeiro, o dirigente associativo e ex-autarca “era um homem bom, de convicções, sempre disponível para ajudar e participar em tudo aquilo que fosse útil para a nossa terra. Almeirim perde um dos seus cidadãos mais ilustres. Eu perco um amigo. A vida nesta matéria é muito injusta”, salienta o autarca.
Gabriel Duarte foi o fundador de uma das mais importantes e maiores provas de atletismo do país, os 20Kms de Almeirim, fundando depois uma associação desportiva com o mesmo nome, que hoje tem 15 secções, desde o atletismo ao andebol, passando pelo ténis, ciclismo, motocrosse, equitação, entre outras. Depois da experiência autárquica afastou-se da política e passou a dedicar todo o seu tempo aos 20 Kms. Costumava praticar atletismo de forma informal. Numa entrevista que deu a
O MIRANTE, em 2012, dizia que gostava de desporto, apesar de na infância o seu desporto ser ajudar os pais na agricultura e jogar à bola na rua. Era um dos entusiastas do Carnaval de Almeirim, que já acabou, participando todos os anos.
No serviço militar foi colega do capitão Salgueiro Maia na Escola Prática de Cavalaria em Santarém, com a patente de aspirante. Na revolução do 25 de Abril de 1974 estava em Santa Margarida e estava previsto avançar para Lisboa para reforçar a equipa que tinha saído de Santarém. Acabou por não ser necessário e ficou com um grupo de homens a controlar a zona de Santa Margarida (Constância). Esteve na guerra na Guiné. Ele e os seus soldados foram os últimos a sair do território e coube-lhe a missão de arrear a bandeira portuguesa na ex-colónia portuguesa. Homem sem papas na língua e frontal, que não mandava recados por ninguém, considerava que o 25 de Abril valeu a pena mas reconhecia que se estava a assistir a um retrocesso muito grande. “Nós, da geração do 25 de Abril, fomos muito maus educadores dos nossos filhos. Como fomos habituados a sermos privados de quase tudo e oprimidos, quisemos dar tudo aos nossos filhos, sem rei nem roque. E eles hoje nem sequer sabem o que é o 25 de Abril e pensam que as coisas caem do céu aos trambolhões”, dizia na entrevista.