Ambiente tenso na inauguração do Lar de Idosos do Centro de Apoio Social da Carregueira
Instituição continua a reclamar verbas a que diz ter direito mas Câmara da Chamusca tem outra interpretação
A inauguração oficial do Lar da Carregueira (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) ocorreu no dia 1 de Maio, antes da 8ª edição do Mega Almoço Solidário do Centro de Apoio Social local. O dia foi de festa mas a parte dos discursos decorreu em ambiente de alguma tensão. O director do Centro Distrital da Segurança Social, Tiago Leite, foi o convidado de honra e pôde testemunhar a ligação da IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) à comunidade local, traduzida na participação das associações locais (Ranchos Folclóricos, Banda Filarmónica Vitória e Grupo Motard e população em geral) na cerimónia mas também testemunhou uma troca de galhardetes entre os dirigentes do Centro de Apoio Social da Carregueira (CASC) e o presidente da Câmara Municipal da Chamusca, a propósito de verbas (ver caixa).
A placa alusiva ao evento foi descerrada pela utente mais antiga da instituição, Dona Judite Trincão e pelo Director Distrital da Segurança Social, seguindo-se a intervenção do presidente da Assembleia Geral do Centro de Apoio Social da Carregueira, Arlindo Fragoso, que aproveitou para dar público conhecimento do descontentamento da instituição em relação ao comportamento da Câmara Municipal da Chamusca que, segundo disse, manifesta a intenção de não entregar ao Centro de Apoio Social da Carregueira a totalidade das verbas que as empresas de resíduos banais e perigosos, instaladas no Eco-Parque do Relvão deram para a construção do Lar como contrapartida pela sua instalação no território da freguesia.
A intervenção do presidente da direcção do CASC, Duarte Arsénio, foi no mesmo sentido. “Desejo que das divergências e desencontros de ideias não tenham ficado anticorpos que comprometam a importância do imprescindível diálogo futuro, nem o fecho das contas que se encontra por concluir”, disse a finalizar. A declaração mereceu uma observação por parte do presidente da Câmara Municipal da Chamusca. Paulo Queimado (PS) começou a sua intervenção questionando-se se realmente “estaria no local e evento certos”, face aos discursos anteriores que tinha ouvido.
A fechar as intervenções, o Director Distrital da Segurança Social usou um tom conciliador realçando que, de entre o bem e o mal, há o intermédio e destacando o papel, muitas vezes ignorado, dos dirigentes das IPSS, das colaboradoras que dedicam todo o seu carinho aos idosos. Foi ainda descerrada uma placa alusiva ao passado, colocada junta de uma antiga nora de tirar água. No acto participou a utente do CASC que a doou, Dona Elvira Rodrigues, e pelo ex-presidente da Câmara Municipal da Chamusca, Sérgio Carrinho, ao qual se deve o projecto do Lar de Idosos.
O que está na origem das divergências
O MIRANTE falou com o presidente da direcção do CASC, Duarte Arsénio, a propósito da dívida que é reclamada. Aquele dirigente diz que há dezasseis anos, aquando da instalação das empresas de tratamento de resíduos no denominado Eco-Parque do Relvão, a Câmara da Chamusca recebeu 2.2 milhões de euros para a construção do lar da Carregueira e que não tendo sido esgotada a verba na construção do equipamento, o remanescente deve ser entregue à instituição.
“Até ao final do mandato do anterior executivo, do presidente Sérgio Carrinho, foram investidos no Lar da Carregueira cerca de 1.1 milhões de euros. Já no actual mandato foram transferidos cerca de 260 mil euros, portanto ainda faltam cerca de 800 mil euros. Este dinheiro está em divida e faz muita falta porque fomos obrigados a recorrer a empréstimos bancários para pagar a obra e tivemos também uma candidatura ao QREN com a comparticipação de cerca de 70 por cento”, explica, acusando a autarquia de ter utilizado “uma parte do dinheiro, que era para o lar, noutras frentes”. E ameaça. “Se a câmara continuar a recusar-se a pagar os 800 mil euros vamos avançar para tribunal. O que nos levou a avançar com uma obra desta envergadura foi a expectativa de que o dinheiro nos seria entregue”, afirma.
O Presidente da Câmara da Chamusca, Paulo Queimado (PS) tem outra versão. Segundo ele o compromisso existente foi cumprido e a parte restante do dinheiro é para utilizar noutros equipamentos. “A aposta foi na construção do lar e o lar está construído. Fizeram-se muitas outras coisas como as residências assistidas mas existem outras coisas que a freguesia precisa, como equipamentos culturais, desportivos e lúdicos. Não é só a terceira idade que está a descoberto. As contrapartidas dadas pelas empresas pela sua instalação no Eco-Parque do Relvão eram para todo o concelho com prioridade para a freguesia da Carregueira. Se o senhor Duarte Arsénio quiser e achar que tem legitimidade para colocar a câmara em tribunal pois que avance porque, para já, a câmara não vai pagar esses 800 mil euros de que ele fala, de certeza. Esse valor corresponde ao dinheiro que existe em termos de despesa de capital para o ano inteiro, para todo o concelho”.