“Os médicos dizem-me que sou um milagre”
Liliana Costa luta contra o cancro e ultrapassou todos os diagnósticos que lhe davam meses de vida. Os tratamentos feitos o ano passado na Alemanha com células dendríticas foram fundamentais para o sucesso da sua recuperação. Mas a remissão total da doença não está feita, por falta de dinheiro para concluir a terapia. Funcionária da Câmara de Santarém recusa a reforma por invalidez.
Os médicos que conhecem o historial clínico de Liliana Costa, 42 anos, e que se cruzam com ela nos corredores dos hospitais ficam admirados por estar viva e ter ultrapassado todas as estimativas que lhe davam entre três a 36 meses de vida. “Os médicos olham para mim como se fosse um extraterrestre e dizem-me muitas vezes que sou um milagre, porque casos como o meu não costumam correr bem, mas estou cá para provar que existem excepções e que os tratamentos que fiz deram resultado”, afirma Liliana a O MIRANTE.
Liliana, residente em Santarém, descobriu que tinha cancro de mama aos 34 anos. Quando pensava que já tinha ultrapassado a doença recebeu a notícia que o cancro na mama, do qual fez uma mastectomia ao peito direito, tinha alastrado aos ossos e instalou-se na coluna. “Foi um murro no estômago ouvir que tinha 36 meses de vida”, recorda.
Ultrapassado o choque inicial decidiu ir à luta e procurou alternativas para a sua doença que não encontrou em Portugal. Liliana Costa considera que os tratamentos feitos o ano passado na Alemanha com células dendríticas foram fundamentais para o sucesso da sua recuperação. No entanto, teria que fazer dez tratamentos e só conseguiu realizar oito.
“Em Setembro, na altura de fazer o nono tratamento, tinha a viagem já paga e fui à Alemanha dizer que já não podia fazer aquele tratamento nem o próximo porque não tinha dinheiro. Eles deram-me os soros, para tirar as dores, e vim embora. Fiquei triste porque conseguimos que o cancro ficasse em 70 por cento de remissão. Falta um bocadinho para a remissão total e existe sempre o medo que o cancro volte porque não houve remissão total uma vez que não consegui completar os tratamentos. O ano passado estava convicta de que ia conseguir vergar o tumor”, explica.
Sem recursos financeiros para continuar os tratamentos na Alemanha procuraram alternativas em Portugal. Houve um médico no nosso país que lhe negou várias medicações porque, dizia, não valia a pena tentar nada. “Ele dava-me no máximo três anos de vida por isso achava que não valia a pena dar-me medicamentos para tratar a minha doença. Também tive dificuldades em encontrar um médico que aceitasse o facto de eu ter feito o tratamento na Alemanha. Alguns não acreditavam nesse tratamento, outros não dominavam essa técnica”, recorda.
Actualmente, é seguida por um médico num hospital privado em Lisboa, onde faz hormonoterapia todas as semanas. Também faz radiocirurgia na Fundação Champalimaud, que é comparticipada pela ADSE.
Funcionária da Câmara de Santarém há cerca de 20 anos, Liliana lida com o cancro como se fosse uma gripe, uma doença crónica, e mantém a esperança de que vai vencê-lo. Tem a certeza, no entanto, que para derrubar de vez o cancro deveria fazer pelo menos dois tratamentos por ano na Alemanha. O problema é que tanto Liliana como a sua família esgotaram todas as possibilidades financeiras para continuar os tratamentos.
Contra a reforma por invalidez
“Se estou aqui hoje foi porque fiz os tratamentos na Alemanha e agradeço a todas as pessoas que me ajudaram. Deixei de ter dores e já não tomo morfina para aguentar as dores insuportáveis que sentia. Só por isso já valeu a pena ter feito o tratamento com as células dendríticas. As pessoas que vão à Alemanha fazer o tratamento e morrem é porque estão numa fase já muito avançada da doença em que já não existe possibilidade de cura, garante.
Outro problema com que Liliana se debate é o facto de, após dois anos de baixa, querer voltar a trabalhar mas a junta médica não quer deixar, decidindo reformá-la por invalidez. Solução que Liliana não aceita. “O meu trabalho é apenas estar à secretária. Não tenho que fazer esforços nem estar em pé por isso não preciso de me reformar-me”, critica.