Presidência do Politécnico de Santarém acusada de “golpe totalitário”
Onda de contestação já causou a demissão do coordenador da IPSantarém-International School. Em causa está uma proposta de alteração dos estatutos do instituto, apresentada por uma vice-presidente e subscrita pelo presidente do IPS, que, a ser aprovada, confere a este a possibilidade de nomear os directores das várias escolas, que até agora têm sido eleitos pelas respectivas comunidades académicas.
A proposta de alteração de estatutos do Instituto Politécnico de Santarém (IPS) apresentada pela vice-presidente da instituição Teresa Serrano e subscrita pelo presidente Jorge Justino está a gerar uma onda de contestação na comunidade académica, tendo já motivado a demissão do coordenador da IPSantarém-International School, José Rodrigues, que acusa Justino e a sua equipa de estarem a colocar em marcha um “golpe totalitário”.
Em causa está sobretudo o facto de se defender nessa proposta que o presidente do Politécnico de Santarém passe a nomear os directores das diferentes escolas superiores (Agrária, Desporto, Educação, Gestão e Saúde), que até agora são eleitos pelas respectivas comunidades académicas. A situação é vista como uma tentativa de concentração de poder por parte de Jorge Justino e uma forma de garantir que tem à frente das escolas pessoas da sua inteira confiança.
Na proposta alega-se que o facto de os directores das escolas superiores serem eleitos pelos seus pares, “dificulta o alinhamento de toda a organização” e que a estrutura orgânica do instituto “não se encontra adequada à realidade contextual (…) não sendo, assim, potenciadora da flexibilidade de funções e da polivalência dos seus recursos humanos”. Acrescenta que “esta constatação tem sido, no actual momento, uma constante das revisões estatutárias levadas a cabo em instituições congéneres à nossa”.
A proposta ainda vai ser apreciada pelo Conselho Geral, órgão máximo do IPS, mas motivou reacções acesas logo que foi conhecida. O professor José Rodrigues, que já foi director da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, dirigiu uma carta aberta aos colegas onde anunciou a sua demissão de coordenador da IPSantarém-International School (estrutura que trabalha nas parcerias com instituições estrangeiras), dizendo que “esta proposta configura uma tentativa de concentração de poder e de obliteração da gestão democrática e participada”.
“Esta missiva tem a finalidade de alertar docentes, não-docentes e alunos para a iniquidade da proposta que retira às escolas a possibilidade de gerirem o seus destinos e contribuírem para a missão de produção e desenvolvimento do conhecimento para a qual foram criadas”, atira ainda José Rodrigues, que termina dizendo que, face à sua oposição expressa à proposta apresentada não lhe restava outra atitude senão a de demissão das funções de coordenador da IPSantarém International School por não se rever na estratégia apresentada pelo presidente do IPS.
Director da Escola de Gestão apela ao chumbo da proposta
O director da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém (ESGTS), Vítor Costa, é outra voz contestatária, solidarizando-se com José Rodrigues e, em comunicação enviada aos colegas, a que
O MIRANTE teve acesso, lança “um repto” aos directores das várias escolas: “se a proposta da presidência do instituto for aprovada pelo Conselho Geral, recusarmo-nos todos a ‘manter em funções’ e apresentar de imediato a nossa demissão”. E reforça: “Se fomos democraticamente eleitos pela comunidade académica das nossas escolas devemos recusar, em bloco, ser ‘comissários’ de nomenclaturas emergentes”.
Vítor Costa deixa ainda um apelo ao presidente do Conselho Geral para que não deixe passar essa alteração aos estatutos: “se aqueles que deviam ter um papel agregador de vontades e de esforços não o fazem e contribuem para a criação de um clima de clivagem e de conflitualidade, entendo que cabe ao Conselho Geral do Instituto preservar o património de cultura de participação democrática que sempre caracterizou esta instituição de ensino superior”.
E termina com uma observação irónica: “(...) quem deve andar “desalinhado” com as escolas é o Instituto/Serviços Centrais, que nos custam anualmente 2.600.000 Euros! Quem tem cursos, alunos e professores são as escolas, e os recursos financeiros e humanos têm de estar nas, e ao serviço, das escolas”.
Esta posição motivou a reacção de um professor da ESGTS, Luís Fé de Pinho, que, apesar de ser um crítico habitual de Jorge Justino, desta vez está do seu lado. “Em primeiro lugar, nesta acusação o director Vítor Costa está, acima de tudo, a defender o seu lugar porque sabe que se os directores forem nomeados, ele não o será, pois o seu desempenho tem sido tudo menos abonatório”, diz um email enviado aos colegas. E, entre outras considerações, acrescenta: “(...) afigura-se-me que estamos perante uma guerra de poder entre aqueles que têm estado sempre ligados ao poder e muito ambicionam o cargo de Presidente do IPS, mas que até agora nunca colocaram em questão a grave situação da sustentabilidade do IPS nem nunca apresentaram soluções”..