A vida de João Correia já deu dois livros e um espectáculo de humor
Nasceu no Cartaxo, onde viveu até aos 17 anos, e não falha uma Feira dos Santos. Biólogo marinho tem uma empresa de captura de tubarões e outros animais marinhos que coloca em aquários de todo o mundo, mas fez ou continua a fazer uma diversidade de coisas. Em jovem foi catequista no Cartaxo, toca bateria, abriu uma sex shop e escreveu dois livros sobre isto tudo que deram origem a um espectáculo de humor. Apaixonado pelo mundo animal, João Correia é frontalmente contra as touradas: “É uma crueldade terrível estar a espetar coisas em bichos”.
É mirabolante a vida de João Correia. Até ao 17 anos viveu no Cartaxo, onde chegou a dar catequese, e foi estafeta na bolsa de valores em Chicago (Estados Unidos da América). Licenciou-se em biologia marinha, é mestre em ecologia marinha e doutor em pesca comercial de tubarões e raias. Pelo meio toca bateria em bandas de rock, criou uma empresa de captura e venda de tubarões para todo o mundo e criou uma sex shop. Motivos para escrever um livro? Sim! E já deu em dois.
Foi por volta dos 14 ou 15 anos que João Correia começou a dar catequese, longe de pensar nas voltas que a sua vida ia dar. Com o crisma feito, foi para o grupo de jovens da igreja do Cartaxo e começou a ensinar a doutrina católica aos mais novos, embora distorcesse parte dos ensinamentos bíblicos, confessa o humorista que há muitos anos não vai à missa.
Biólogo marinho de profissão, João Correia tem uma estima pelos animais “incompatível” com as tradições da terra que o viu nascer. Cresceu numa cidade onde as touradas são um espectáculo aplaudido pela maioria da população, mas a O MIRANTE revela que nunca gostou de touradas e até acredita que um dia acabem. “É uma crueldade terrível estar a espetar coisas em bichos e vender bilhetes para isso. E uma actividade económica que envolve uma dúzia de famílias não me parece que mexa muito com a economia. Quando dizem que acabar com as touradas acabará com uma fatia da economia não concordo, pois há alternativas. Para além do toiro bravo não se extinguir, quem vive da actividade pode continuar ligado aos animais sem ter de praticar este espectáculo cruel”, acrescenta.
João Correia sublinha que o que faz com os tubarões é diferente, monitorizando-os e salvaguardando a espécie, para além de aprofundar o conhecimento sobre os mesmos de forma a melhorar e dar a conhecer o seu modo de vida. “Eu próprio dou-lhes a medicação e não faço um espectáculo desses”, diz.
Com a vida centrada em Lisboa, João Correia admite estar completamente alheado da vida política do Cartaxo. Desconhece quem são os antigos presidentes da câmara Paulo Caldas e Paulo Varanda ou o actual presidente, Pedro Ribeiro “Não acompanho nem sei qual a cor política da câmara”, declara. “Venho apenas ao Cartaxo visitar a família e jantar com amigos”, acrescenta. Mas uma coisa é certa, o humorista não falha a Feira dos Santos. “É uma altura em que um familiar meu faz anos e aproveito e vou à feira, dou uma voltas nos carrinhos de choque e ainda compro umas farturas”, conclui.
Tubarões lançaram-no na escrita
Foi por mero acidente, diz-nos João Correia, que em 1998 começou a trabalhar no Oceanário de Lisboa. “As operações com tubarões eram muito malucas e então decidi escrever tudo no computador para não me esquecer. Mas escrevi em inglês para poder partilhar com os meus colegas de profissão. E criei esse hábito: depois de cada operação de captura de tubarões escrevia sempre a história”, acrescenta.
Os livros ganharam corpo numa das muitas conferências que faz. Foi desafiado por um editor da Oxford University Press (a casa editorial da Universidade Oxford dos Estados Unidos da América) a escrever um, “mas acabei por não trabalhar com ele porque ele queria um livro mais técnico, mais chato (tipo manual), e eu queria uma coisa mais disparatada e bem disposta”.
Actualmente trabalha com a Chiado Editora “mas ando a negociar com uns americanos para fazermos a distribuição lá, porque honestamente o objectivo é o mercado americano. São 350 milhões de malucos e o mercado português é pequeno”, sublinha acrescentando que em Outubro estará em Nova Iorque para essa aposta.
“Sex, Sharks And Rock And Roll” é o título dos dois livros de João Correia, que se transformaram num espectáculo de humor, que passou em Maio pelo Cartaxo. “Eu gosto de humor e inscrevi-me numa escola de comédia. Utilizei a palestra que já faço há muitos anos e transformei-a num espectáculo onde acabo por contar também as histórias que estão nos livros e, no fundo, a minha vida”, afirma João que lançou o primeiro volume no ano passado e o segundo no início de 2016.
Uma empresa de captura de tubarões e outra de artigos para adultos
Em 2006 João Correia criou a Flying Sharks, uma empresa de captura e transporte de tubarões e outros peixes para aquários de todo o mundo, que é a sua grande fonte de rendimento. Uma das poucas empresas do ramo no mundo que em 2010 forneceu três mil peixes de 180 espécies diferentes para o Oceanário de Istambul (Turquia) e que em 2012 forneceu 40 mil para um aquário em São Petersburgo.
João Correia é também professor na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar em Peniche, onde vai dois a três dias por semana, e tem ainda uma sex shop, criada em 1998 durante a lua-de-mel do seu primeiro casamento. “Hoje em dia já não dá muita massa, mas continua a ser engraçado fazer este trabalho”, afirma o empresário que ao longo do espectáculo vai revelando orgulhosamente aquilo que conseguiu com o negócio de lingerie e brinquedos marotos.