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Um artista com futuro que ainda trabalha na cozinha

O seu nome artístico é Baba Soul e lidera uma banda de música soul e funk na Noruega que tem actuado também noutros países. Hugo Pereira nasceu em Lisboa, tem raízes de São Tomé mas foi em Alverca do Ribatejo que cresceu. Apesar de considerar Alverca como a sua casa, assume que a cidade está morta.

“Daqui a um ano ou dois todos em Portugal vão saber quem eu sou”. As palavras são de Baba Soul, músico que reside na Noruega. Baba Soul é o nome artístico de Hugo Pereira, 30 anos, que em 2009 emigrou de Alverca do Ribatejo para Oslo, capital da Noruega, onde deu asas a uma carreira musical. Hoje, liderando a banda Professors of Funk, há quem lhe chame o James Brown da Escandinávia.
Hugo Pereira nasceu em Lisboa mas foi criado em Alverca do Ribatejo, no Choupal, com a mãe, o irmão, a irmã e o padrasto. Ali praticou desporto, como futebol no Juventude da Castanheira e hóquei em patins no FC Alverca. Recorda que antes dos treinos começarem já lá andava duas horas antes a praticar.
A música acompanhou-o desde pequeno, mas sempre num registo de brincadeira. Com amigos formou vários grupos onde misturou música soul e electrónica, mas nunca passaram de projectos. Faltava vontade por parte dos companheiros para criar algo mais a sério.
Entretanto Hugo passou a Baba, alcunha posta por um amigo. Saiu da Escola Pedro Jacques de Magalhães (próxima da estação de Alverca) pois, como conta, “já tinha 16 anos e a direcção da escola disse que tinha de dar lugar aos mais novos”. Entretanto tirou em Lisboa um curso de cozinheiro. Durante os estudos uma namorada norueguesa insistiu que a “acompanhasse a casa” e lá seguiu Baba para a Noruega.
“Não sabia falar norueguês nem inglês. Pensei em desistir e voltar a Portugal. Aqui é muito escuro, as pessoas são ‘frias’, não falam umas com as outras, há muita neve, é caro. A noite pode chegar aos 300 euros, é caríssimo jantar fora e um whisky ronda os 15 euros”, confessa Baba via Skype.
Entretanto, após umas semanas em Portugal decidiu que iria fazer da Noruega sua casa. No país escandinavo encontrou pessoas mais dedicadas à música. A agora ex-namorada tinha um tio músico que o ajudou a fazer a primeira “demo”. A trabalhar num restaurante com música ao vivo foi conhecendo artistas até que um deles o convidou a actuar como vocalista numa house band. “Foi um pouco difícil pois eu não falava inglês, um ou outro entendia espanhol, mas eles gostaram da minha onda. Eu animava a festa, cantava sempre em português, e como os noruegueses costumam fazer férias no Brasil, eles sabem algumas palavras, ainda que com aquele sotaque”, afirma.
Reconhecendo que a língua era um obstáculo, decidiu pegar em livros e CD e foi no quarto da Noruega que aprendeu inglês sozinho. No bar da faculdade onde trabalhava, as quintas-feiras eram dedicadas à música. Com milhares de estudantes para o ouvir, tirava o avental e pegava no microfone. Diz que aí ganhou muita experiência até porque a banda tocava vários géneros desde o reggae ao jazz.

Concurso televisivo ajudou a abrir portas
A cada actuação o sucesso foi crescendo ao ponto de o convidarem a participar num programa de talentos, o Noruega Got Talent. A primeira prestação pode ser vista no YouTube. Do júri receberam quatro ‘ja’ (sim em português) em quatro possíveis. Perderam nas meias-finais.
“O Got Talent acabou por dar-nos alguns contactos e uma promoção especial”. Mas Baba diz que o trabalho de angariar espectáculos parte mais da própria banda. “Nós tínhamos um agente, mas ele não era nada de especial. Pelo Facebook entrei em contacto com grupos de funk de vários países e arranjei mais espectáculos que o meu agente. Na Alemanha dei concertos de duas horas, e a resposta foi tão boa que agora é o país onde toco mais na Europa”, afirma.
E porque não se ouve falar mais de Baba and the Professors of Funk em Portugal? O próprio cantor também não sabe a resposta. “Não sei de que Portugal está à espera. Na mesma altura a comunicação social fez promoção de um português no programa da Dinamarca, mas de mim nada”, critica.
“As pessoas que ouvem Funk Soul sabem quem eu sou, porque, segundo dizem, eu sou o único artista jovem a fazer soul na Escandinávia”, diz Baba. No entanto o artista português indica que não é fácil viver da música, daí que continue a trabalhar na cozinha de forma a garantir dinheiro ao final do mês.

“Alverca será sempre casa, mas para mim a cidade está morta”

A saudade é uma palavra portuguesa e Baba sente-a mais quando tem de deixar o país. Numa das várias viagens que fez escreveu a música “Lisboa”. “Do que tenho mais saudades é da família, dos amigos, mas sou sincero: Alverca será sempre casa, mas para mim a cidade está morta. Não gosto de sair e ir para o café. É tudo a mesma coisa e Alverca está assim desde que me lembro”, confessa. Para Baba, caso regresse a Portugal, a vida vai passar pela capital. “Gosto de ouvir música ao vivo, gosto de uma cidade com vida e Lisboa tem isso”, aponta.
Afirma que o sonho é fazer música pelo mundo inteiro. As raízes de São Tomé já o levam em Setembro a cantar para o presidente são-tomense, Manuel Pinto da Costa, mas mesmo com a música no horizonte ainda há espaço para a cozinha. “Gostava de ensinar pessoas a cozinhar, em 10-15 minutos, num conceito de Soul Food”, assume.

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