Dezenas de pessoas remaram pelo Tejo entre Mouriscas e Abrantes
Portugueses e espanhóis desceram o rio de canoa durante nove quilómetros para chamar a atenção para os problemas do rio. O caudal reduzido dificultou a missão nalguns pontos.
“É a natureza e não podemos mudar a natureza”, diz a pequena Matilde Gonçalves, 10 anos, sobre o travessão existente no leito do Tejo na zona do Pego e que tanto deu que falar no final do ano passado, quando as obras aí realizadas cortaram o rio de ponta a ponta com uma muralha de pedra que impedia a passagem de peixes e de embarcações. A Matilde veio no sábado, 2 de Julho, de Loures até Abrantes com a mãe “Vogar pela indiferença” numa iniciativa que juntou portugueses e espanhóis numa descida do Tejo em canoa entre Mouriscas e Abrantes com o objectivo de alertar para os problemas do rio.
Cerca de uma centena de participantes, entre membros de organização, ambientalistas e alguns populares desceram o rio num percurso de 9 quilómetros e que demorou mais do que o previsto, muito devido ao baixo caudal do rio.
São precisamente problemas como o baixo caudal do rio, a poluição e as barreiras existentes à conectividade fluvial que motivaram a iniciativa. O baixo caudal obrigou a que na zona do travessão junto à Central Termoeléctrica do Pego muitos canoístas tivessem de pôr as canoas às costas para ultrapassar o obstáculo. A iniciativa quis alertar também para os perigos da central nuclear de Almaraz, em Espanha.
Ivone Fonseca, animadora de profissão, veio de Lisboa pelo desafio de andar de canoa sozinha e também pela finalidade da iniciativa. “Nós temos de olhar para o rio Tejo, temos de olhar para tudo o que é conservação, temos de pensar nos nossos filhos ou netos. O futuro do planeta está nas nossas mãos.”, referiu.
De Loures com a filha Matilde veio Telma Ferreira, que lamentou não haver mais envolvimento das pessoas da região. “Temos pena que isso não aconteça porque esta luta é de todos”, destacou. A filha Matilde Gonçalves de 10 anos veio também para passear e andar de canoa, mas sabe e percebeu que esta iniciativa é mais do que isso - “é para defender o tejo.”, disse.
Marisa Grácio, natural do Tramagal, era uma das poucas pessoas da zona presente na iniciativa. Considerou este evento importante e disse esperar que os ecos do mesmo ajudem a alertar consciências para os problemas do rio. “Vejo que não há muita preocupação de determinados organismos.”, considerou.
Paulo Constantino, do ProTejo _ Movimento pelo Tejo, disse que esta iniciativa serve para alertar as populações para os problemas do rio e para os condicionalismos à sua navegabilidade, de que é exemplo o travessão: “É um obstáculo, e ainda não está resolvida a passagem para pequenas embarcações”.
Petição continua para levar Tejo ao Parlamento
O movimento tem uma petição pública online contra a poluição no rio Tejo que pretende levar o assunto a debate no plenário da Assembleia da República. Para já conta com cerca de 2 mil assinaturas mas para cumprir os objectivos precisa de cerca de 4 mil. Segundo Paulo Constantino o objectivo é continuar a sua divulgação e chegar ao número de assinaturas necessário. Mas antes disso ainda espera “que a comissão nomeada pelo ministro do Ambiente venha divulgar um plano de combate à poluição no Tejo, mas iremos continuar com todas as iniciativas enquanto se verificar necessário movermos contra a poluição no rio”.
Apesar do cansaço os canoístas ainda gritaram palavras de ordem contra Almaraz e vivas ao Tejo, ouvindo depois, Paulo Constantino e Soledad de La Llhama, da Rede de Cidadania Ibérica, apresentarem o seu manifesto, dando as mãos no final representando a união de todos nesta luta pela defesa do Rio Tejo.