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Retemperado Manuel Serra d’Aire

Não sei se alguma vez andaste à caça dos mitológicos gambozinos, seres misteriosos que estão cristalizados no meu imaginário a par com o monstro do Loch Ness, o abominável homem das neves (de quem ainda devo ser parente), o Adamastor e as belas sereias. A caça ao gambozino era um desporto do mais democrático que há pois todos podiam participar. E, garantidamente, todos acabavam empatados, pois até à data, que eu saiba, nunca foi apanhado qualquer exemplar. O gambozino é uma criatura tão reservada e arredia que ninguém lhe consegue meter a vista em cima, quanto mais as mãos.

O mesmo já não se pode dizer dos pokémon, essa praga dos tempos actuais que pode ser caçada com telemóveis em locais tão estranhos como um cemitério, um convento ou uma casa de meninas. Dizem os entendidos que o jogo tem a vantagem de pôr a malta a mexer-se, nomeadamente os mais novos. O princípio é um pouco como o da caça aos gambozinos e o resultado, se virmos bem, acaba por ser o mesmo. A não ser que me consigam explicar com argumentação minimamente racional e plausível para que raio quer um marmanjo ter uma colecção de pokémons em cativeiro dentro do telemóvel.
Imaginas o trovejante poeta, político e caçador inveterado Manuel Alegre a largar a caça à lebre ou à perdiz para andar afadigado a correr atrás de pikachus que se escondem atrás de um banco de jardim? E porventura alguém consegue cozinhar um pokémon à caçador ou um pikachu com feijão branco? Para que serve essa caça então?
Eu não sei responder, mas sei que serviu, por exemplo, para a PSP mostrar que está atenta ao fenómeno ao ponto de ter lançado um manual que ensina os jogadores a caçar os bicharocos virtuais em segurança e onde sublinha que ainda se vive “no mundo real”. Um alerta útil e pertinente, pois eu, sinceramente, depois de ter visto o Eder marcar o golo à França que deu a Portugal o título europeu de futebol fiquei convencido que estava a sonhar ou que estava a viver numa qualquer dimensão paralela, daquelas que vemos na TV nas séries de ficção científica.
Para que tu avalies a forma como as autoridades estão a levar a sério esta pandemia, não resisto a citar parte do texto que a Polícia colocou no seu Facebook: “No pico mais alto desta época de caça aos Pokémon, a PSP aproveita para relembrar alguns cuidados de segurança. Por entre desafiantes batalhas, treinos muito duros e difíceis capturas, não se esqueça que ainda estamos no mundo real!”. E não julgues que estou a inventar, pois essas palavras são mesmo da Polícia. Que já agora podia ter aproveitado para avisar a malta que é proibido passar os sinais vermelhos, que não se deve meter a luva na propriedade alheia nem se devem consumir aquelas drogas que são proibidas. É que muita gente não sabe disso. Ou pelo menos parece...
Outra praga dos tempos actuais é a das palavras em língua inglesa para definir tudo e mais alguma coisa que tem tradução em português, desde o cluster ao player, passando pelo CEO, pelo staff e pelo lounge, entre muitas outras. No Verão é o tempo das sunset parties (festas ao pôr-do-sol) a que até algumas autarquias, como a Junta de Freguesia de Benavente, já aderiram. Algum dia a malta tem que andar com um dicionário no bolso dentro do próprio país graças a esta mania que o tuga tem em evidenciar que está dentro das tendências e modernices. Provincianos armados ao pingarelho, é o que é!
Um abraço do
Serafim das Neves

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