Casal de idosos encontrado morto no Porto Alto era “gente boa” e “pacata”
Marido terá morto a mulher, acamada, e depois colocou termo à vida com uma caçadeira. Na localidade ainda há dificuldade em acreditar no cenário de terror que, no domingo, abalou a pacata localidade. “Um fim triste”, dizem amigos e vizinhos das vítimas.
Era gente boa, pacata e que não gostava de se meter na vida dos outros mas que conheceu um fim triste e deixou em choque a comunidade. É desta forma que amigos e vizinhos reagem à morte de Abílio Guerra, 82 anos, e a esposa, Eglantina Borges, 78 anos, encontrados sem vida pelo filho na casa onde viviam no Porto Alto, concelho de Benavente, no domingo, 31 de Julho.
Vários amigos de Abílio, escutados por O MIRANTE, não escondem o choque e a surpresa pelo trágico cenário: o homem terá morto a mulher - acamada e com doença ligada à demência - com um tiro de caçadeira e depois posto termo à própria vida. Diz quem o conhecia que a doença da mulher há muito o vinha desgastando e que este actuou em desespero e por não aguentar mais vê-la sofrer. O casal teria uma boa situação financeira e não lhe eram conhecidos problemas.
Há muitos meses que a vizinhança não via Eglantina no bairro, já que a mesma raramente saía de casa por causa da doença. Alberto Pereira, amigo de Abílio, foi a última pessoa a falar com ele antes do crime. “Andava a queixar-se de umas dores no pescoço e queixava-se de já não ter cabeça para aguentar a mulher. Pareceu-me mesmo muito abatido mas nunca imaginei que ele fosse fazer uma coisa destas. Eles eram muito apoiados pelo filho e até pela Fundação Padre Tobias que lhes trazia as refeições, nada fazia imaginar isto, é triste, muito triste”, conta, emocionado.
Alberto soube do drama por outros amigos, que viram o aparato em frente ao primeiro andar do número 40 da Avenida das Nações Unidas, onde o casal vivia. Os corpos só foram removidos ao final da tarde de domingo, depois da chegada de quatro inspectores da Polícia Judiciária.
A tragédia terá ocorrido pouco depois das 9h00 da manhã, quando alguns vizinhos ouviram “dois ou três estrondos” mas, como conta Clara Oliveira, vizinha, “nem pensámos que fossem tiros, não se pareciam nada com isso, mais como uns móveis a cair”. Como há uma pastelaria com esplanada na cave dos prédios, vários vizinhos pensaram que fosse algum ruído vindo da esplanada e não ligaram.
Certo é que por volta da hora de almoço, quando o filho do casal os foi visitar a casa, encontrou o cenário dantesco e chamou as autoridades. Terá, segundo fonte policial, encontrado a mãe deitada na cama sem vida e o pai na casa de banho, também sem vida, com uma caçadeira por perto. Abílio chegou a ser caçador mas há vários anos que não caçava.
A arma do crime e alguns cartuchos foram recolhidos pela Judiciária e o filho interrogado na hora pelos agentes. Apesar das diversas tentativas não foi possível chegar à fala com o filho das vítimas, motorista de uma empresa de transportes em Samora Correia. A Polícia Judiciária vai continuar a investigar o caso e os corpos seguiram para o Instituto de Medicina Legal para autópsia forense.