Projecto para reabilitar teatro Salvador Marques olhado com reservas
Moradores de Alhandra temem que a intervenção prevista passe por obras profundas no espaço que descaracterizem a sua traça.
Sempre que as eleições autárquicas se aproximam um dos temas recorrentes em Alhandra, no concelho de Vila Franca de Xira, é o estado de ruína do antigo teatro Salvador Marques e a possibilidade de ser demolido parcialmente para dar lugar a um novo equipamento cultural.
Muitos moradores de Alhandra discordam da intenção de uma eventual demolição do espaço e dizem-se dispostos a lutar até ao fim pela manutenção da traça original. O assunto veio a lume na última sessão da Assembleia de Freguesia de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, durante a apresentação do relatório da actividade desenvolvida pela junta.
A adensar a especulação está o facto do presidente da câmara, Alberto Mesquita, não ter desmentido que o novo projecto prevê essa demolição do teatro. “Existe um projecto, isso posso dizer-vos, que virá ser presente à câmara. Neste momento estamos a preparar a candidatura para o requalificar e será um projecto que terá em linha de conta outras actividades também sem ser só o teatro”, explicou.
O presidente da junta, Mário Cantiga, informou que já teve duas reuniões preparatórias com a câmara sobre o assunto e que há um projecto de requalificação prestes a ser candidatado a fundos comunitários do programa Portugal 2020. “Não ficou claro para mim se o teatro é para ser demolido na totalidade ou para ser reconstruído numa réplica o mais perfeita possível”, explica o autarca a O MIRANTE. Mário Cantiga defende que o teatro devia ser preservado e não demolido, mas reconhece que a legislação actual que regula aqueles espaços obriga a obras de fundo e a adaptações que têm de ser feitas de raiz. “Há anexos que terão de ir abaixo e as questões da mobilidade terão também de ser tidas em conta”, reflecte.
Muitos moradores têm criticado nas redes sociais a intenção de demolição do teatro. Casimiro Gonçalves, da comissão para a reabilitação do teatro Salvador Marques também já veio lamentar o episódio. “O presidente da junta referiu ainda que familiares do próprio Salvador Marques, dramaturgo que dá nome ao nosso teatro, tendo a intenção de doar património da família a este espaço teatral, perante a novidade, voltaram atrás nos seus intentos, afastando de nós, e mais uma vez, testemunhos culturais que enriqueceriam o nosso património local e concelhio, sendo que localmente muito tem sido desbaratado e esquecido”, critica.
Casimiro Gonçalves interroga-se por que motivo o projecto não é apresentado publicamente à população antes de ser candidatado a fundos comunitários. “Propomos ao executivo da junta que promova um necessário e esclarecedor debate público informativo sobre este assunto, para uma maior e melhor tomada de consciência, e que tome diligências junto das entidades competentes para que este novo projecto seja do conhecimento de toda população”, refere.