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O pesadelo de estar nas Olimpíadas e lesionar-se a sair do comboio

O pesadelo de estar nas Olimpíadas e lesionar-se a sair do comboio

Sandra Barreiro, de Almeirim, conta o episódio que lhe desfez os sonhos há 20 anos. A única atleta de Almeirim a participar nos Jogos Olímpicos estava na aldeia olímpica e apanhou um comboio de transporte dos atletas para ir tomar o pequeno-almoço, quando se lesionou. Só foi ao estádio ver a colega de quarto Fernanda Ribeiro ganhar a medalha de ouro.

Sandra Barreiro, 45 anos, ex-atleta de corrida com barreiras, esteve literalmente a poucos passos de ser a única atleta de Almeirim até ao momento a competir nos Jogos Olímpicos mas uma lesão a sair do comboio de transporte dos atletas afastou-a da competição. Foi há 20 anos nas Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos da América, precisamente no dia 20 de Julho de 1996. Sandra abriu o coração e contou a O MIRANTE como viveu “este pesadelo”.
Sandra estava na aldeia olímpica e ia tomar o pequeno-almoço “já um bocadinho acelerada”. Havia uns comboios do género dos que são usados para passear turistas nas cidades para transportar os atletas dentro das instalações. Apanhou o transporte e quando ia a sair o sonho desmoronou-se. “Quando desci do comboio ponho primeiro o pé direito e quando vou meter o esquerdo sinto o chão a agarrar de uma tal maneira e senti uma dor muito intensa que desfaleci completamente”, recorda. Encontravam-se imensas pessoas junto à ex-atleta mas Sandra não via nada à sua volta e só pensava: “Já não vou competir. Estava completamente em pânico”, lembra.
Quem a socorreu primeiro foi o médico da equipa de natação dos Estados Unidos que também se deslocava naquele comboio. Ele começou a falar e Sandra disse-lhe que achava que tinha o osso partido. “O doutor perguntou-me se conseguia andar. Foi quando manobrou um pouco e o joelho deu um estalo e ficou no sítio mas tinha feito uma luxação do perónio”. A única vez que entrou no Estádio Olímpico foi para ver a sua companheira de quarto, Fernanda Ribeiro, que acompanhou durante todo o dia, “até no aquecimento”.
Fernanda Ribeiro acabou por trazer a medalha de ouro nos 10 mil metros. No fim foi de muletas agradecer ao médico dos Estados Unidos. A ex-atleta conta que estava na sua melhor forma de sempre, confessando que sempre foi muito exigente consigo própria. “Estava contente por ser campeã nacional mas para mim não chegava. “Em 97 estive parada e em 98 estive a uma décima de conseguir ir ao Europeu. Nessa altura já estava no Rio Maior”, recorda.

Emoção a falar do primeiro treinador
A ex-atleta em criança já gostava muito de correr e de desporto. “Na escola as nossas brincadeiras não eram como são hoje. Jogávamos à apanhada e eu já corria mais do que os meninos”, conta a ex-atleta. “Gostava muito de desporto mas naquela altura não havia nada, não havia piscinas, não havia pavilhões. Só havia esta pista mas feita de pó de tijolo”, diz. Quem a levou aos treinos de atletismo foram umas meninas suas colegas de escola. “Da primeira vez que treinei o professor Álvaro Ribeiro ficou maluco”, lembra.
Sandra emociona-se ao falar do seu primeiro treinador. A conversa pára durante dois minutos até que Sandra se recompõe e continua a falar. “O professor era aquela pessoa que acreditava nos seus atletas e movia montanhas por eles”, explica. A ex-atleta começou nos Bombeiros Voluntários de Almeirim passou pelo Sporting, Benfica e terminou a carreira desportiva no Clube de Natação de Rio Maior.
Sandra treinou em Almeirim até aos 20 anos. “Deslocava-me duas vezes por semana a Lisboa para treinar em Alvalade. Quem pagava as deslocações era o professor Álvaro Ribeiro do seu próprio bolso. Mais tarde o meu pai emprestou-lhe uma carrinha”, conta. A ex-atleta nota que há uma grande evolução “tanto no treino como na medicina desportiva”, mas considera que os bons resultados aparecem pela vontade do próprio atleta. “Hoje existem muitos cuidados, naquele tempo não havia ninguém que me dissesse o que devia ou não comer”. Só depois, já enquanto sénior, no Benfica, é que o médico Luís Horta lhe dava algumas indicações em relação a suplementos alimentares de acordo com os vários tipos treino.

Sandra deixou o atletismo mas tem na filha uma seguidora

Sandra Barreiro hoje trabalha na empresa da sua família de peças e acessórios para automóveis e nunca pensou ser treinadora. “O desporto ficou por ali”. A própria filha nunca se tinha apercebido que a mãe tinha sido uma atleta de alta competição. “Via as medalhas e as fotografias mas nunca deu muita importância”, conta. A filha, de 14 anos, pratica atletismo no clube 20 kms de Almeirim. “Mas não foi por influência da mãe”. A mãe costuma assistir às provas e aos treinos da filha e “vibra imenso. Eles pedem dicas e gostam que esteja presente”, diz, lamentando que existam “poucas provas para estas idades”.
“Ela é parecida com a mãe no sentido em que é muito exigente e nunca está satisfeita. É bom ser assim mas temos que desfrutar mais os momentos, coisa que eu não fazia e agora já não os consigo desfrutar, porque já passaram”, conclui a ex-atleta.

O pesadelo de estar nas Olimpíadas e lesionar-se a sair do comboio

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