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Fim das portagens em Vila Franca de Xira é um direito que se sobrepõe ao interesse económico

Fim das portagens em Vila Franca de Xira é um direito que se sobrepõe ao interesse económico

Carlos Braga é um dos rostos pela comissão que luta para que a população do concelho não seja penalizada com a auto-estrada.

Carlos Braga é um rosto conhecido no concelho de Vila Franca de Xira, seja pelos diferentes papéis que já desempenhou na vida política do concelho seja pela participação activa em comissões e movimentos que têm como objectivo melhorar o dia-a-dia dos cidadãos, como o Movimento de Utentes dos Serviços Públicos ou a recém criada Comissão para a Abolição de Portagens na Auto-Estrada do Norte (A1) naquele concelho. Diz que não há outra alternativa senão acabar com as portagens e que o Orçamento de Estado deve estar preparado para indemnizar a concessionária. Nesta entrevista fala também do actual clima político concelhio, da falta de médicos de família e de como é viver em Vialonga uma das localidades mais a sul do concelho.

A abolição de portagens no troço da Auto-Estrada do Norte (A1) no concelho de Vila Franca de Xira é uma prioridade incontestável e só depende dos políticos a sua concretização, que beneficiará milhares de condutores todos os dias. Não apenas isso como o Orçamento de Estado deverá contemplar uma verba para indemnizar a concessionária da auto-estrada, defende Carlos Braga, eleito da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira pela CDU, membro do MUSP - Movimento de Utentes dos Serviços Públicos e líder da Comissão para a Abolição de Portagens no concelho de Vila Franca de Xira.
“Esta abolição a ser concretizada é uma questão de vontade política. Neste caso, como noutros, deve sobrepor-se a defesa dos direitos da população aos direitos económicos”, defende a O MIRANTE. Carlos Braga diz esperar que com a discussão no Parlamento, conseguida com a recolha de cinco mil assinaturas, algum partido possa apresentar um projecto de lei que permita concretizar essa ambição e não esconde que a bancada do Partido Comunista (PCP) poderá fazê-lo. “O PCP apoia o Governo e acredito que será possível. Se não acreditássemos não avançávamos. As pessoas do concelho também acreditam que é possível acabar com as portagens e sentem esta necessidade todos os dias. O sonho comanda a vida mas tem de haver vontade política e políticos que agarrem nisto como deve ser e avancem”, refere.
Actualmente a Estrada Nacional 10, a principal via para atravessar o concelho, está sobrecarregada de trânsito. “A fluidez do trânsito é feita muito devagar e tem problemas gravíssimos de poluição ambiental. As portagens em Alverca levam muita gente a entrar nas cidades para apanhar a estrada nacional e isso penaliza economicamente o concelho, quer em termos da mobilidade das pessoas como também em termos ambientais”, lamenta. A Brisa é a empresa que tem a concessão da A1 até 2030. “Além das portagens há grandes necessidades no concelho, basta ver o que se passa na área da saúde, somos um concelho com 136 mil habitantes mas mais de 50 mil pessoas não têm acesso a um médico de família, isto dá cerca de 40 por cento da população do concelho. Isto revela bem as carências que o concelho tem”, regista.

O 25 de Abril foi um projecto que ficou por concluir
Carlos Braga olha com preocupação para o fecho de várias indústrias, ao longo dos anos, no concelho de Vila Franca de Xira, mas admite que esse não é um problema exclusivo do concelho e resulta de políticas nacionais erradas, que levaram a um crescente desinvestimento na produção própria. “As políticas não foram as melhores tendo em conta as sucessivas cedências feitas à União Europeia, onde se recebeu subsídios para não se produzir, ao mesmo tempo que não se apoiava para se produzir mais e com maior qualidade. Olhando para trás vê-se que essa situação teve implicações sérias e graves quer ao nível económico quer ao nível social no concelho”, defende.
Carlos Braga, militante comunista desde 1976, acusa a gestão socialista de não ter sabido defender os interesses do território e as necessidades da indústria. “Não tem havido da parte da câmara um envolvimento muito grande no que é necessário fazer para cativar e trazer mais indústria para o concelho. Se não lutarmos para que as oportunidades aconteçam não vamos conseguir”. Carlos Braga foi soldador e trabalhou em quatro empresas do concelho ligadas ao ramo da metalurgia, incluindo a Mague de Alverca. Todas já fecharam portas. “O 25 de Abril foi um sonho, uma porta que se abriu para um futuro melhor mas que foi sendo fechada aos poucos pelos governos que foram retirando as perspectivas que a população tinha. Há uma desilusão muito grande do que haveria de ser feito na revolução. O 25 de Abril foi um projecto que ficou por concluir e não permitiu que fossem atingidos elevados patamares de qualidade de vida, direitos sociais e laborais. As coisas têm de mudar, os pobres estão cada vez são mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Isso não se compreende em pleno Século XXI, com uma revolução tecnológica tão grande, que ainda existam seres humanos a morrer à fome. Não acredito que isto se mantenha por muitos anos”, conclui.

Um sportinguista sem arrependimentos

Carlos Alberto Fernandes Braga tem 67 anos e nasceu em São Sebastião da Pedreira (Lisboa) mas sempre viveu em Vialonga. Foi soldador e serviu na Guiné na Guerra Colonial na Polícia Militar. Quando voltou esteve 23 anos na metalúrgica Mague. É comunista e filiado no partido desde 1976. É um orgulhoso sportinguista e tem uma garagem no Cabo de Vialonga onde junta os amigos em ambiente tertuliano e promove uns almoços de convívio, onde o próprio cozinha. Bacalhau cozido com batatas e grão é o seu prato favorito. Lê livros sobretudo de política e um dos últimos foi da autoria de Álvaro Cunhal, histórico líder do PCP. O fado é a sua música preferida e Ana Moura, Fernando Maurício e Artur Batalha as referências. A sua viagem de sonho seria a Cuba. Confessa-se um homem que nunca se arrepende e que gosta de viver no concelho de Vila Franca de Xira. Foi vereador na câmara, chegou a concorrer à presidência mas falhou a eleição e foi durante década e meia presidente da Junta de Freguesia de Vialonga.

Quando as ruas de Vialonga eram limpas de mula e carroça

Apesar das dificuldades Carlos Braga admite que se vive hoje melhor do que antigamente. “Quando se deu a revolução de Abril a recolha do lixo nas ruas de Vialonga era feita de mula e carroça. Digam o que disserem hoje vivemos com maior qualidade do que naquele tempo”, admite. O autarca chegou a ocupar a vereação da câmara no tempo de Daniel Branco, presidente comunista que perdeu as eleições em 1997 para Maria da Luz Rosinha, do PS. “Foi um dos presidentes de câmara mais respeitados e admirados que conheci, tinha sempre uma postura, comportamento e intervenção que o distinguia”, elogia. Para Carlos Braga a derrota aconteceu porque houve um excesso de prudência. “Não quisemos fazer obra no último ano desse mandato para não sermos acusados de eleitoralismo. Hoje se calhar essa não teria sido uma boa decisão”, admite.
A O MIRANTE o autarca diz que a CDU nunca se colocou em choque com os socialistas na hora de partilhar a gestão da câmara, mas antes que estes é que nunca quiseram partilhar o poder. “Enquanto a CDU esteve na câmara, quer em maioria ou minoria, sempre atribuímos pelouros à oposição, por entendermos que a gestão deve ser partilhada. O PS entendeu sempre o contrário e nunca esteve disponível para conversar com a CDU a disponibilizar alguns pelouros. Acham que os seus objectivos não são compatíveis com os nossos e sempre preferiram o Novo Rumo”, lamenta.

Coligação Novo Rumo e a “política rasteira”

As últimas reuniões públicas da Câmara de Vila Franca de Xira têm sido pautadas por várias trocas de acusações entre a Coligação Novo Rumo (representada maioritariamente pelo PSD) e pela CDU, perante a passividade dos socialistas. Carlos Braga confessa-se desgostado com o que classifica de “vergonha” e “demagogia”. O eleito municipal lamenta que algumas reuniões “não primem pela boa compostura” e que as discussões acaloradas não dignificam o órgão. “Aquelas discussões são uma vergonha, não dignificam quem as proporciona e afastam a população, há cidadãos que não se revêem naquele tipo de discussão, sentem-se envergonhados. Aquilo afasta as pessoas da participação cívica. O que a Coligação Novo Rumo tem feito é uma política baixa e rasteira”, lamenta.

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