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Pucariça (Aldeia do Mato - Abrantes)

Na Pucariça conheci a TerradÁgua, as palavras certas são difíceis e provavelmente sempre escassas e redutoras. Muito agradeço à Marina e ao Tó Zé o provarem, na prática, o que sintetizo na expressão UP LOCAL

Em boa hora nas minhas férias de excelência pelo Zêzere/Tejo passei e fiquei um tempo pela Pucariça. Desde logo porque fui encontrar o casal Kau e Cláudia, meus queridos ex-alunos e amigos. As “coincidências” pregam-nos partidas, quase sempre boas como esta.
Na Pucariça conheci a TerradÁgua, as palavras certas são difíceis e provavelmente sempre escassas e redutoras. Muito agradeço à Marina e ao Tó Zé o provarem, na prática, o que sintetizo na expressão UP LOCAL; na verdade o Up Local é uma realidade.
A Marina (engenheira química em Faro, no Ministério do Ambiente) e o Tó Zé (geógrafo, professor também em Faro, com origens na Pucariça), com duas filhas estudantes, funcionários públicos, cinquentões, com vida estabilizada no Algarve, pensaram mudar de vida e rumaram ao Tejo, à Pucariça. A vida deles agora chama-se TerradÁgua. Vale a pena tomar nota.
Desde logo o nome TerradÁgua é um hino à boa interpretação do conteúdo do projeto em curso mas mais que isso, traduz na perfeição, as caraterísticas, a atmosfera e a alma deste lugar. Quer isto dizer que a Marina e o Tó Zé identificam-se plenamente com o lugar. Sentem a terra que os acolhe e esta é, provavelmente, a primeira condição para um projeto deste tipo ter sucesso.
Além da recuperação e decoração de uma velha e característica casa de família usada como habitação acolhe um turismo de habitação onde fiquei muito confortável e a preço muito justo. À volta há a atividade agrícola tradicional que, ano após ano, se vai consolidando e afirmando. A velha e linda eira serve para debulhar tremoços (que saboreei) mas também outras atividades como ioga, dança etc. O tanque, essencial para a rega, é uma piscina muito apetitosa e de enorme charme - a poucos metros debaixo de uma frondosa árvore uma cama possibilita a divina sesta. Todos os meses, sobretudo ao fim de semana, há atividades, workshops vários, como música, dança, pintura, ioga, etc. Percursos pedestres, bicicletas, canoagem, ao luar ou não, aproveitando a grande proximidade de Castelo de Bode, e observação astronómica são outras iniciativas regulares que a TerradÁgua promove. A receita é simples: trabalho, convicção, talento, espírito de parceria e cumplicidade local. Em poucos minutos de conversa, mas sobretudo pelas ações, compreende-se que o casal é um, com tudo à volta, isto é, o ecossistema TerradÁgua não contradiz nada do que é, e foi, a Pucariça, antes pelo contrário, interpreta e valoriza os seus recursos e patrimónios.
A dada altura o Tó Zé comentou-me algo muito significativo. Na Pucariça começa-se a sentir o efeito de contágio, isto a propósito da seara de tremoços que fez; os velhos agricultores constataram na prática que é viável uma seara de tremoço, bem melhores que os importados de Marrocos para acompanhar uma cerveja. Mas ouvi mais de muito significativo, “é importante que outros novos projetos possam surgir na Pucariça”. Afirmo eu: é indispensável que quem de direito acarinhe estes projetos e que incentive outros a avançar. É necessário que Portugal passe dos bons exemplos e os dissemine como prática generalizada. A Pucariça e nós todos muito agradecemos porque isso traduz-se em mais riqueza, isto é, vida melhor e mais sustentável. O up local é incontornável.
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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