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Dois gémeos em termos ideológicos que o destino colocou em partidos diferentes

Dois gémeos em termos ideológicos que o destino colocou em partidos diferentes

Duetos improvisados entre quem toca sempre a mesma música. Hélder Esménio (PS) é presidente de Salvaterra de Magos e Miguel Borges (PSD) do Sardoal. O presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio, nunca visitou o concelho do Sardoal que é presidido por Miguel Borges do PSD e este nunca visitou Salvaterra de Magos. Mas a acreditar nas promessas feitas pelos dois essa situação vai alterar-se em breve.

Quem quer ver a política como um campo de batalha e as relações entre políticos de partidos diferentes como uma batalha permanente ou é por falta de informação ou por falta de atenção. O MIRANTE juntou o presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio (PS) e o presidente da Câmara Municipal do Sardoal, Miguel Borges (PSD) para mais uma conversa da série “Duetos com pessoas que tocam sempre a mesma música” e ao fim de breves minutos de conversa já ambos tinham concluído que pouca coisa os separa em termos ideológicos e ainda menos em termos de políticos de referência.
Nasci em 1960. Apanhei o 25 de Abril na adolescência, com 14/15 anos. Não sabia nada de política e do que fui lendo e aprendendo concluí que era social-democrata. Ainda hoje penso assim. Defendo uma sociedade reformista que valorize a actividade privada e tenta cuidar das pessoas. Aos 18 anos inscrevi-me no PPD e embora não tivesse actividade política só me desfiliei após ter aceite concorrer pelo PS a presidente da câmara, em 2009”, conta Hélder Esménio no início da conversa. A seu lado, Miguel Borges sorri e diz com humor que tem a mesma linha de pensamento e as mesmas raízes ideológicas.
“Depois de ouvir tudo o que ele disse não consigo perceber porque somos de partidos diferentes. Não me sinto nada de direita, dentro dos conceitos tradicionais de direita e esquerda. Sou militante do PSD e faço as minhas críticas. Sou uma voz livre”.
O facto de nos últimos dois anos o PS e o PSD estarem mais afastados, com o PS a aliar-se ao PCP e ao BE para ter apoio parlamentar para o Governo, é interpretado como algo circunstancial. “Reconheço que a social-democracia é o elo charneira entre os dois partidos. Ultimamente um caminhou para a direita e outro para a esquerda mas eu não mudei. Os partidos é que têm flutuado. E compreende-se isso porque os partidos não são estáticos”, declara Hélder Esménio.
Miguel Borges fala de políticos que foram referências na área da social-democracia. Jean Monet. Helmut Khol, Olaf Palme, Mário Soares. Depois desabafa. “Temos falta de líderes fortes. Agora há uma grande confusão de valores, de princípios. A política reduziu-se praticamente à economia”. Hélder Esménio está de acordo e sublinha aquela preocupação. “Tem que haver uma conjugação de valores. Estamos a ser muito dominados pela componente económica em detrimento de outras componentes, nomeadamente a social”.
O presidente da Câmara de Salvaterra de Magos é engenheiro no município a que agora preside, há trinta e cinco anos. Aceitou o convite do PS para se candidatar em 2009 e perdeu as eleições para o Bloco de Esquerda. Ganhou quatro anos mais tarde, em 2013. Explica que o que o fez aceitar meter-se na política quando tinha uma carreira estável a nível profissional foi o desafio de fazer algo mais, numa altura em que já não tinha que dar tanta atenção aos filhos “o mais novo estava a entrar na Universidade”.
Miguel Borges diz compreender a decisão e aplaude-a. “Os grandes males da política e da falta de políticos é quando as pessoas que podem dar mais preferem o conforto do sofá e o aconchego da televisão. É mais fácil estar a criticar sem nada fazer”, diz. E a seguir resume o seu caso.
“Sou músico de formação e nunca me passou pela cabeça ser político. Se calhar só sou político porque não sou músico de topo. Se fosse músico de topo não teria tempo para ocupar a minha cabeça com outras coisas. Se eu fosse um grande génio da música andaria aí pelo mundo a tocar. Não consegui ser e por isso sou professor de música, com muito gosto, na Escola do Sardoal e aceitei o desafio do anterior presidente da câmara para integrar a sua equipa. Fui vice-presidente um mandato e depois fui eleito presidente.”.
No início da conversa, que decorreu nas instalações de O MIRANTE em Santarém, Hélder Esménio confessou que nunca tinha visitado o Sardoal e Miguel Borges disse que também nunca tinha ido a Salvaterra de Magos. Depois de se convidarem mutuamente para visitas aos respectivos concelhos cada um fez um breve resumo do que tinha para mostrar.

“Fui tratado como um casaco”

O presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio, tem três filhos. Miguel Borges, presidente da Câmara do Sardoal tem quatro. Ambos confessam que as férias familiares foram sempre planeadas de acordo com essa realidade.
A família de Hélder Esménio trocou as praias do Algarve e do litoral alentejano, nomeadamente Vila Nova de Mil Fontes, pela Figueira da Foz, quando um dia passou por aflições na sequência de um problema de saúde de uma das crianças. “Estávamos no Algarve, isto há vinte e cinco anos e demorei uma hora e meia a chegar ao hospital. Pelo menos na Figueira da Foz o Hospital era mais perto”, conta o autarca.
Miguel Borges que há doze anos passa as férias de Verão no Minho, diz-lhe que não é preciso recuar tanto no tempo para contar uma história idêntica. “Foi a semana passada. O meu filho Pedro bateu com a cabeça quando estava na piscina. Fomos ao Centro de Saúde de Vila Nova de Cerveira e não havia médico. Fomos a Caminha e a resposta foi a mesma. Acabámos por ter que ir a Vila Real.
Conhecido pela sua boa disposição, o presidente da Câmara do Sardoal revela que já tem sucessor nessa área. “Na auto-estrada, como havia muito trânsito, por causa das férias e dos incêndios, comecei a circular pelo corredor reservado às ambulâncias. E levei logo uma reprimenda. ‘Olha que eu quero chegar lá vivo!’, disse ele. Quando chegámos ao hospital havia muita gente à espera e ele comentou: ‘Este hospital tem bons médicos!’. Quando lhe perguntei porquê, respondeu-me: ‘Está aqui tanta gente viva!’. E a boa disposição do filho manteve-se em alta apesar do ferimento. Depois dos três pontos que teve que levar, desabafou: “Fui tratado como um casaco!”.

O exército da Eslovénia e outros exércitos

Quando os filhos de Hélder Esménio entraram na adolescência a família fez algumas viagens pela Europa. Numa delas, de regresso de uma visita a um dos antigos campos de concentração nazi na Polónia, que constitui um momento muito importante para todos mas principalmente para os mais jovens, quando estavam a atravessar a Eslováquia em direcção à Áustria, foram mandados parar por militares daquele país.
“Na altura não havia auto-estradas naqueles países de Leste. As viagens de centenas de quilómetros eram feitas por estradas nacionais com imenso trânsito de camiões. Lembro-me que havia umas obras e tivemos que meter por uma estrada secundária. De repente aparece-nos um jipe com militares armados e fomos mandados parar”.
O presidente da Câmara de Salvaterra de Magos confessa que sentiu medo. “Não havia mais ninguém. Só nós e os militares. Não passava nenhum carro. Eles não falavam inglês nem francês. Por gestos lá fomos explicando, apontando para as malas, que estávamos de viagem e que nos dirigíamos à Áustria e mandaram-nos seguir”.
Para desanuviar a conversa, Miguel Borges conta a história da viagem a França de carro com a mulher que incluiu uma passagem pela costa da Normandia e pela Bretanha, um Volkswagen carocha amarelo em contramão numa auto-estrada e uma aventura em Nantes. “Fomos dar uma volta e perdi-me. Perguntei o caminho a um senhor e quando ele disse ‘Uuuuhhhh!!!’ percebi que estava longe. Depois fui ter a uma zona de prostituição mas não me atrevi a ir perguntar nada. Felizmente acabei por descobrir o caminho, mesmo sem ajuda”.

Dois gémeos em termos ideológicos que o destino colocou em partidos diferentes

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