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Rosa Albardeira

Assim é Portugal, um tesouro natural em cada canto com um valor sem limite. (…) São estas pequenas coisas que marcam a grande diferença, para melhor, do nosso património natural.

Mesmo em trabalho de campo um “banho de floresta” é sempre muito bom, muitas mas muitas vezes melhor que o “magnífico” ginásio. O que vemos no campo depende dos olhos de cada um. Ir ao campo com colegas que sabem muito de plantas é uma experiência inolvidável.
Fui convidado por quem conhece bem o mundo das plantas a ir além do substrato rochoso por onde normalmente me fico, na boa justificação de que tudo o resto, desde a morfologia ao coberto vegetal, depende das rochas – o que até é verdade. Nos campos de Torres Vedras, o saber científico que me acompanhou desde Évora foi divinamente complementado pelo saber local de quem faz daquele campo a sua casa, como são o Luís Gomes e o Sr. João Alves.
O nosso país (ainda) tem destas coisas: no Oeste, junto à capital, o território está bem povoado, tem um tecido económico e social bem relevante (assim fosse em todo o país) e a geodiversidade é magnífica; todo o restante património natural é consequência. Se acrescentarmos a boa visão dos bons autarcas que decidem sobre este território, é natural que tenha surgido a Paisagem Protegida Local das Serras do Socorro e Archeira. Foi por aqui que andei mais uma vez, muito bem acompanhado, e onde fui novamente surpreendido com um episódio que merece ser partilhado e que justifica este escrito.
Sabemos que só se pode gerir o que se conhece e mais uma vez provou-se isso. Quando se juntam os saberes científico e local/popular o resultado é muito bom. Assim foi, pois em local oculto, pouco provável, encontramos a esplendorosa rosa albardeira. Continuamos sem saber “porque florescem as rosas” e apesar de nesta altura do ano já só serem visíveis os restos secos da vistosa planta a “descoberta” não deixa de ser entusiasmante.
Assim é Portugal, um tesouro natural em cada canto com um valor sem limite. Apesar de estarmos a escassos metros da autoestrada, num parque eólico, num território bem povoado, ocorrências deste tipo são possíveis. Se esta maravilha natural fosse mostrada no campo aos turistas (que bem a conhecem dos jardins nos seus países), instalados num hotel de cinco estrelas, também visível deste local, é muito provável que jamais o esqueceriam no resto das suas vidas – este é o valor incalculável da rosa albardeira na serra da Archeira, a emoção que provoca a quem não imagina que possa existir uma planta desta beleza espontaneamente em meio natural. São estas pequenas coisas que marcam a grande diferença, para melhor, do nosso património natural. Evidencia-se também a grande valia do saber local – se assim não fosse só um enorme acaso nos teria mostrado a planta.
A partir de agora o desafio passa a ser outro: como gerir este património? Se divulgado, sem mais, rapidamente a serra deixa de ter rosas que passam efemeramente para as jarras de alguns humanos.
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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