“É possível construir uma sociedade melhor dando um pouco mais de nós próprios”
Maria Castelo Morais é arquitecta na Câmara de Coruche e faz voluntariado. Tem uma energia contagiante e fervilha de ideias. Trabalha na Câmara Municipal de Coruche, cuida da família e faz voluntariado nas paróquias do concelho e no mosteiro do Couço. Diz que o facto de ser mulher nunca a inibiu nem lhe causou prejuízo. Lamenta que muitos trabalhadores se sintam desmotivados por não receberem a recompensa devida pelo que fazem.
Cada um pode fazer de cada momento da sua vida uma oportunidade de tornar o mundo melhor. É com base nesta convicção que Maria Castelo Morais, arquitecta, de 54 anos, a trabalhar na Câmara Municipal de Coruche dedica grande parte dos seus tempos livres ao voluntariado nas paróquias da Igreja Católica, naquele concelho.
Maria Castelo Morais acredita que é possível melhorar o mundo se cada um der um pouco de si. “Actualmente a maioria das pessoas analisa-se pouco. Não olha para dentro de si e não reconhece os seus defeitos. Não tem capacidade de pedir desculpa porque vive numa atitude de arrogância, procurando ser o centro das atenções. Isso está a destruir a nossa sociedade. É por isso que temos que ser humildes e ter a capacidade de perceber que o mundo é composto das diferentes capacidades de cada um de nós”.
A arquitecta tem quatro filhos, de 11, 18, 25 e 28 anos e acumula o trabalho na câmara com a vida familiar e o voluntariado. O marido faleceu há cinco anos vítima de um cancro no cérebro. Após o seu desaparecimento Maria Castelo Morais encontrou apoio na comunidade católica de Coruche.
No âmbito do seu trabalho de voluntariado um dos locais que visita com regularidade é o Mosteiro de Nossa Senhora do Rosário, no Couço. onde contacta com as oito monjas que ali vivem em clausura. Tomou conhecimento do local através de uma amiga que a convidou a ir lá assistir a uma missa. Maria Castelo Morais ficou tão encantada com o silêncio do local que nunca mais deixou de o visitar.
O trabalho de voluntariado nas paróquias inclui a limpeza e a decoração das igrejas, preparando-as para as celebrações. Dá também algum apoio na Oficina de Artes de Coruche, onde a filha tem aulas de ballet.
Actualmente está também empenhada num projecto que visa colocar um milhão de portugueses a rezar pela paz e pela reconciliação, no âmbito do centenário das aparições de Fátima.
“O objectivo do projecto é ensinar as pessoas a rezar em comunidade. Propusemos às irmãs fazer “Dezenas”, peças semelhantes a terços com dez Avé Marias e um Pai Nosso. Queremos que as pessoas rezem e que conheçam cada um dos mistérios do rosário. As imagens que vêm na “Dezena” correspondem ao respectivo mistério. Temos muitos voluntários envolvidos neste projecto, que é muito ambicioso”, explica.
Maria Castelo Morais diz que o que mais detesta é a mentira. Também se irrita com a injustiça. “Fico revoltada quando, por exemplo, faço o meu trabalho o melhor que sei e posso e alguém o critica sem o conhecer. Sem saber o que está ali feito. Fico revoltada com esses juízos superficiais. E o pior é quando eles são publicados. Uma coisa que detesto é o Facebook porque há comentários que são dispensáveis. Entristece-me e horroriza-me o que costumo ver e ler. É mau demais”, desabafa.
A mãe da arquitecta era de Coruche e o pai de Montemor. Parte da sua infância foi passada em Vendas Novas. Teve formação num colégio salesiano até aos 15 anos, frequentou o liceu em Setúbal e entrou na faculdade de Belas Artes para tirar arquitectura. “Sempre gostei muito de pensar o espaço onde vivo. De pensar o espaço urbano comunitário e de desenhar. Gosto de criar espaços comunitários. Sempre foi a minha grande vertente. De início a minha mãe não concordou com a minha escolha e manteve-se reticente. Mais tarde acabou por apoiar-me mas foi difícil convencê-la”, recorda.
Trabalhou num ateliêr em Lisboa, deu aulas de geometria descritiva, educação visual e desenho e depois do pai falecer herdou uma propriedade em Coruche, acabando por se mudar para lá. Começou a trabalhar na câmara municipal há 25 anos e é hoje chefe de divisão de espaços públicos, ambiente e energia. “Sou uma mulher que nunca páro”, diz.
Maria Castelo Morais diz que actualmente é difícil motivar as pessoas porque muitas estão descontentes com a sua situação laboral. “Elas sabem que estamos a trabalhar para a comunidade. Entendem isso mas têm sido muito penalizadas em termos de progressão na carreira e em termos de salários”, refere.
O facto de ser mulher nunca foi motivo para ser discriminada pelos superiores ou afrontada pelos subordinados. “Quem está a chefiar tem que ser competente. Não interessa se é homem ou mulher. Não tem a ver com o sexo. Tem a ver com a pessoa em si e as suas capacidades. Para mim haver o Dia Internacional da Mulher só por si é uma discriminação. Sendo iguais não devíamos de ter dia da mulher. Quanto muito podíamos celebrar o dia da pessoa, tal como festejamos o Dia do Trabalhador, por exemplo”.