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Pinturas de alunos do Bom Sucesso chegaram à Noruega
Multiculturalidade. Arte aproxima alunos de todos os cantos do mundo

Pinturas de alunos do Bom Sucesso chegaram à Noruega

Guiné, Cabo Verde, Angola, Ucrânia, Moldávia e Brasil: são muitos os alunos destes países que frequentam as escolas de Alverca do Ribatejo. O ano passado participaram num projecto inclusivo multicultural e o resultado surpreendeu até os professores.

“É uma aluna, oriunda de Cabo Verde, que não se tinha conseguido integrar, apesar dos nossos esforços. Depois deste projecto, foi como se ela se tivesse transformado”, recorda Carlos Reis, professor e director do Agrupamento de Escolas do Bom Sucesso. O nome da menina não é dito, para não lhe causar embaraço, mas foi por causa de alunos como ela que decidiram concorrer ao projecto “Aproximar Crianças e Jovens”, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e por uma ONG norueguesa, a Peace Panting, que promove a expressão plástica - no caso, a pintura - para aproximar diferentes culturas. Promovido pela Casa de S. Pedro de Alverca, o projecto levou alguns professores até à Noruega, para aprenderem formas de integração através da expressão plástica.
Em Alverca do Ribatejo foi pedido aos alunos que pintassem algo que os fizesse pensar na paz, usando cores que representassem essa palavra ou o seu país. As pinturas estiveram expostas na junta de freguesia, no Centro Cultural e na escola, mas também em Oslo, na Noruega, junto a centenas de outros quadros pintados por alunos de todo o mundo. Apesar do projecto ter terminado em 2016, as sementes germinaram na Escola Básica dos 1º, 2º e 3º Ciclos do Bom Sucesso, onde os alunos continuam a usar a pintura como forma de comunicarem entre si. Mas a comunicação entre eles nem sempre foi fácil.

Já não se ouve crioulo no recreio
No final dos anos 90 e nos primeiros anos de 2000, era o crioulo que dominava as conversas do recreio, o que até levou alguns professores a aprenderem algumas palavras do dialecto, para conseguirem comunicar com os alunos. Estávamos em 1997 e desde então o agrupamento de Escolas do Bom Sucesso levou a sério o lema “Escola pública para todos”, sem distinção de raças, credos e origens. Foi um longo caminho e as circunstâncias mudaram ao longo do percurso.
“Sempre tivemos a preocupação de no nosso projecto educativo constar a inclusão das várias nacionalidades, porque essa sempre foi também a nossa realidade”, recorda Carlos Reis. Das 22 nacionalidades que já estiveram presentes na escola, são agora 15, que correspondem a alunos que não nasceram em Portugal. Porque também os há - e em grande número - com dupla nacionalidade.

Alunos brasileiros estão a regressar a Alverca do Ribatejo
“Nos últimos anos temos recebido muitos alunos brasileiros mas este ano estamos a notar o regresso de alunos que já tinham estado em Portugal, que voltaram ao Brasil há 3 anos e que agora retornaram. É um fenómeno que acontece sobretudo em Alverca”, revelou o professor. Para estes alunos, a escola criou dois grupos: o SOS Inglês e o SOS Francês, pois em alguns estados brasileiros é o espanhol a primeira língua estrangeira. Para os outros - oriundos de países onde o português não é a língua materna - existem também dois grupos onde são acompanhados por professores que os ajudam na aprendizagem da Língua Portuguesa.
De cabelos louros e olhos claros, de tez escura e trancinhas multicolores, todos estes alunos se misturam nos corredores e o elo que os une é, afinal, o Português. “É a língua em que preferem comunicar entre eles”, revela o professor Carlos Reis. Receber tantas crianças de diferentes nacionalidades também tem ensinado os professores. “Ucranianos, moldavos e chineses são alunos muito empenhados”, diz a professora Isabel Nunes, que também acompanhou o projecto, que envolveu ainda as famílias, convidadas para verem as obras dos filhos expostas nas paredes da escola.

É filha de uma professora ucraniana e quer ser médica

Alexandra Hruba tem 13 anos e nasceu em Alverca, mas os os pais são ucranianos. É “muito boa aluna”, dizem os professores, e o seu sonho é vir a tornar-se médica. A frase que escolheu para o seu quadro foi “A esperança não tem fim”, e revela que não pensou na Ucrânia (que conhece) nem em Portugal, mas “num sítio calmo e com muito sol”. Esperança é uma palavra que aprendeu com os pais. Vivem em Alverca do Ribatejo “há mais tempo do que os anos que viveram na Ucrânia” e estão felizes. “A minha mãe é professora do Primeiro Ciclo, aqui trabalha num armazém, e o meu é camionista. Mas dizem que preferem estar cá, pois assim podem dar-nos uma vida que na Ucrânia seria impossível”, sublinha Alexandra.

Os vitrais das igrejas portuguesas inspiraram o cabo-verdiano

Cândido Melo, de 14 anos, chegou de Cabo Verde, com a mãe e os irmãos, há apenas três anos. Fala pouco, mas o quadro que pintou surpreendeu professores e alunos. Cândido quis representar os vitrais das igrejas porque “na igreja sinto-me em paz e em harmonia”. Vive em Alverca e o que gosta mais de Portugal são as praias. Ainda tem dificuldade na língua, mas nem pensa em deixar Alverca. Afinal, é aqui que moram os amigos e o futuro.

A chuva de Cabo Verde e as andorinhas de Portugal

Aline Veiga, cabo-verdiana, tem nove anos e não se lembra de quando chegou a Alverca do Ribatejo. Era muito pequenina, mas entretanto já visitou o país de origem e confessa-se apaixonada pelos dois países. Por isso, o seu quadro representa “a chuva quente de Cabo Verde” e as andorinhas que pintou no céu são portuguesas e anunciam a Primavera. Para Aline, esta estação do ano é a expressão máxima da Paz.

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