A importância do Cardioversor Desfibrilhador Implantável (CDI)
Vítor Martins*
Um Cardioversor Desfibrilhador Implantável (CDI) é um pequeno aparelho (gerador), do tipo pacemaker, colocado numa pequena loca por baixo da clavícula composto por uma bateria de longa duração, por circuitos electrónicos e eléctricos que monitorizam continuamente o ritmo cardíaco. Este aparelho está conectado ao interior do coração por pequenos fios eléctricos (chamados electrocatéteres). Sempre que o coração se esquece de funcionar (por um bloqueio, paragem cardíaca, etc.), actua como um pacemaker, obrigando o coração a contrair através de estímulos eléctricos enviados pelos electrocatéteres.
No entanto um CDI tem mais propriedades que um pacemaker. Em caso de um arritmia maligna, em que o coração acelera de modo anormal, com uma frequência muito rápida, em que o perigo de morte súbita pode estar iminente, pode realizar Pacing anti-taquicardia a uma frequência geralmente mais alta que a própria arritmia, tentando capturá-la e de modo a terminá-la. Caso não o consiga, ou a arritmia seja considerada maligna, (a chamada Fibrilhação Ventricular), o CDI irá aplicar um choque mais forte no coração, conhecido por desfibrilhação, atráves do electrocatéter colocado no ventrículo direito.
Os CDI são geralmente implantados em doentes com elevado risco de morte súbita, tal como reanimados de um episódio de morte súbita no passado recente, enfarte de miocárdio prévio com má função sistólica, miocardiopatias dilatadas de etiologia especifica ou desconhecida, ou então, situações em que com elevada probabilidade irá ocorrer um morte arrítmica na ausência de CDI, sendo as Canulopatias um destes exemplos.
São tratamentos dispendiosos em que temos que ser criteriosos na sua indicação, mas também céleres na sua concretização, dado que será a única maneira de evitar uma morte anunciada.
Como uma parte destes doentes tem sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e também perturbação da condução intraventricular adicionamos muitas vezes um novo tratamento, chamada ressincronização cardíaca. Esta consiste na colocação de um electrocatéter adicional no ventrículo esquerdo (além do colocado no ventrículo direito), de modo a que a contração dos dois ventrículos seja síncrona e consequentemente mais eficaz, com aumento do débito cardíaco e melhoria clínica substancial, que acontece em mais de 70% dos doentes. Neste caso o doente terá o seu CDI e também o seu ressincronizador agrupados num único aparelho a que chamaremos de CRT-D.
O tempo médio de internamento para este tipo de intervenção é inferior a 24 horas e ao fim de quatro semanas o doente poderá retomar todas as suas atividades diárias. A longevidade destes dispositivos pode variar entre 7 a 9 anos, sendo mais simples, a reintervenção para substituição por exaustão dado que muda-se o gerador mas mantém-se os electrocatetéres.
A todos os portadores de CDI e CRT-D será fornecido um Modem que deverá ser colocado na mesa de cabeceira que estará ligado a um servidor. Todas as noites é realizada a interrogação automática do dispositivo (não dependente do doente) e todas as alterações arrítmicas e hemodinâmicas são transmitidas para o centro implantador, nomeadamente para o médico responsável. Este, após análises dos dados, poderá contactar o doente para aferição de terapêuticas farmacológicas ou mesmo realização de uma consulta presencial, onde poderá confirmar as arritmias, verificar a clínica e reprogramar o sistema de modo a aumentar a eficácia e a segurança.
Em conclusão, o portador de um CDI, tal o portador de CRT-D é um doente que está continuamente monitorizado sendo o seu médico constantemente informado de situações que poderão ser potencialmente malignas mas em que a acção do dispositivo e a atitude médica poderão modificar o prognóstico.
Na área de influência de Santarém o número de dispositivos implantados por milhão de habitantes (175/1.000.000) supera a média nacional (130/1.000.000), o que parece indicar que o corpo clínico tem realizado um bom trabalho. No entanto, estamos ainda abaixo da média europeia, o que revela que há muito trabalho para realizar.
Assim, se lhe for proposto implantar um CDI (ou CRTD) pense que este lhe poderá salvar um dia a vida e mesmo melhorar a sua qualidade de vida.
* Médico Cardiologista e Arritmologista, Diretor Clínico da Clínica do Coração Santarém, www.clinicadocoracaosantarem.pt, Rua Pedro de Santarém, 48- 1º Dto, 2000-223 Santarém, Tel : 243 329 107 / 243 322 563 | 243 094 232, Fax : 243 322 568 - 2ª a 6ª das 9h00 às 20h00, mail: vitormartins@clinicadocoracaosantarem.pt