Um clube centenário em fase de relançamento
O Grupo de Futebol Empregados do Comércio de Santarém celebra 100 anos no dia 5 de Junho e encontra-se num ponto de viragem. Na próxima época, “Os Caixeiros”, como também são conhecidos, querem voltar a ter equipas seniores de andebol, futsal e hóquei em patins, para juntar ao futebol. O clube que nasceu para o futebol é o mais antigo e eclético da cidade.
Fundado há cem anos por empregados do comércio da cidade, vulgo “caixeiros”, que queriam praticar futebol, o Grupo de Futebol Empregados do Comércio passa actualmente por uma segunda vida no que toca à modalidade que lhe deu nome. Depois de anos em que se destacou em desportos como o ténis de mesa, o hóquei em patins o andebol e o futsal, o futebol ressuscitou no clube e é hoje uma das suas frentes de actividade, com a equipa sénior a militar na 1ª divisão distrital. Mas na calha está também já a reactivação do andebol, do hóquei em patins e do futsal nos escalões de seniores já na próxima época, com recurso sobretudo a antigos atletas do clube. “Ténis de mesa de momento não temos mas a qualquer altura pode ser também reactivado. É uma das modalidades que está na origem do clube”, diz o presidente da comissão administrativa, Fernando Peres Graça.
É uma nova vida pela frente no ano do centenário do clube, que se assinala a 5 de Junho mas vai ser celebrado lá mais para a frente, no início da próxima época desportiva, para marcar também o regresso dessas modalidades nos escalões seniores e relevar o ecletismo da que é hoje a agremiação desportiva mais antiga da cidade. Basquetebol, boxe e atletismo foram outras modalidades que o clube já dinamizou.
Actualmente com cerca de mil sócios, dos quais só metade paga quotas assiduamente, e 200 praticantes de desporto nas várias modalidades, o Grupo de Futebol Empregados do Comércio vive os problemas comuns a tantas colectividades. Nomeadamente a dificuldade em renovar os órgãos sociais. Fernando Peres Graça está no cargo há cerca de 15 anos e reconhece que falta gente interessada na vida da associação. A sede de sempre, no centro histórico da cidade, está aberta diariamente, mas é pouca a afluência. Tal como são poucos os que se predispõem a integrar a direcção.
“Não há correspondência directa entre a actividade desportiva e o ecletismo do clube e a frequência da sede e a disponibilidade para encontrar pessoas interessadas em integrar os órgãos sociais. É uma dificuldade que temos e que todos os clubes têm. É um espelho da cidade, as pessoas acomodam-se…”, constata Fernando Graça, referindo que está a ser criada uma comissão do centenário que poderá ser um ponto de partida para o recrutamento de futuros dirigentes do clube que possibilitem a criação de uma direcção forte.
Medalha de Ouro da Cidade reconheceu trabalho do clube
O Grupo de Futebol Empregados do Comércio, popularmente conhecido por “Caixeiros”, recebeu no dia 19 de Março de 2017 a Medalha de Ouro da Cidade de Santarém. O município reconheceu o papel desenvolvido ao longo de um século pela colectividade na formação dos jovens e na forte participação no desenvolvimento desportivo do concelho. Futebol, andebol, ténis de mesa e futsal são modalidades onde o clube se tem destacado.
Na década de 1980, o clube teve campeões nacionais de pares em ténis de mesa e chegou a disputar as competições europeias da modalidade. Na década passada, o andebol, modalidade onde têm apostado bastante na formação, foi campeão nacional da 3ª divisão e da 2ª divisão. O hóquei em patins, também na década de 1980, esteve a um pequeno passo de subir à 1ª divisão.
“Quanto menos clubes houver menos jovens praticam desporto”
Porquê a reactivação do futebol sénior nos Caixeiros? O futebol foi o que deu origem a este clube, daí o nome Grupo de Futebol Empregados do Comércio. Nessa altura, 1917, já havia os Leões e o Operário. Actualmente somos o clube mais antigo em actividade na cidade. Foi uma classe trabalhadora, os empregados do comércio, que criou este clube com a modalidade de futebol. Somos um dos clubes fundadores da Associação de Futebol de Santarém, pelo que fazia sentido o regresso do futebol. Além disso, quando retomámos o futebol, em 2007 ou 2008, não havia nenhuma equipa sénior em Santarém. A União tinha desistido da prática do futebol sénior. E como tem corrido bem vamos manter, pois é uma modalidade que está no próprio nome do clube.
No nome do clube está também a menção aos empregados do comércio. Qual é a ligação hoje ao clube por parte das pessoas que trabalham no comércio? Ainda há alguma ligação mas não é a ligação exclusiva que havia antigamente, quando só podia fazer parte do clube quem era empregado do comércio. Os próprios estatutos obrigavam a isso. Hoje qualquer pessoa pode ser sócia do clube.
E o comércio apoia a vossa actividade? Vai apoiando. Não será um apoio maior talvez também por culpa nossa, por não sermos muito incisivos, mas apoia dentro das possibilidades de cada um. Gostava de estabelecer um protocolo com a Associação Comercial de forma a podermos ter uma ligação mais efectiva com o comércio da cidade.
Não há clubes a mais em Santarém dedicados ao futebol? Só na cidade são quatro, dois deles com seniores e todos com escalões de formação. Acho que não. Ainda há muito jovem que não pratica desporto. Também tem que haver clubes para pessoas com menos capacidades económicas e que querem pôr os filhos a praticar desporto. Nós, no andebol, não cobramos mensalidade àqueles que não têm possibilidade de pagar. Mas, nos tempos de hoje, sem o apoio dos pais as coisas tornam-se mais difíceis. Por exemplo, temos uma equipa de juvenis de andebol a disputar o campeonato nacional, que até a Pinhel vai. Isso torna-se incomportável para um clube sem grande capacidade financeira.
Não faria mais sentido, por exemplo, apostar só num clube com futebol sénior que pudesse ser mais competitivo e projectar a cidade através do desporto? Acho que não. Cada clube tem a sua essência e nasceu com determinada finalidade. Até acho que foi um erro terem acabado com os Leões de Santarém e com o Operário, porque eram clubes com uma certa mística na altura e o clube que dessa junção resultou, infelizmente para nós e para a cidade, deveria ter tanta ou mais implantação do que os dois clubes que lhe deram origem. Desde que sejam viáveis, os clubes nunca são demais.
Acho que a cidade assim consegue projectar-se também, pois a nível de clubes devemos ser dos concelhos mais ricos do país. Essa riqueza não é traduzida em resultados desportivos mas pelo menos traduz-se na oferta de prática desportiva. Porque quanto menos clubes houver, menos jovens praticam desporto.
Como está a situação do ringue polivalente que têm e como vão articular a questão das instalações desportivas com a reactivação de várias equipas? Esse ringue actualmente é para um desporto mais informal. Já fizemos uma candidatura a fundos do Instituto do Desporto com a finalidade de transformar o piso do ringue e podermos aproveitar aquele espaço para as modalidades que temos. Se conseguirmos ter o ringue com as medidas oficiais para a prática dessas modalidades, o objectivo depois seria fazer uma cobertura. Mas isso depende da candidatura ser aceite.
Qual era a melhor prenda que os Caixeiros podiam receber neste ano de centenário? As melhores prendas eram conseguirmos que as quatro secções tivessem uma antevisão de viabilidade económica boa para o futuro e que o clube voltasse a ter uma direcção mais forte do que tem agora. Porque aí cimentavam-se os alicerces para o clube cá andar mais cem anos em actividade. Só com secções fortes é que se consegue ter um clube forte.
Saindo um pouco do universo dos Empregados do Comércio, o que pensa do projecto da cidade desportiva apresentado pela União de Santarém para o Campo Infante da Câmara? Penso que é um bom projecto, não há ninguém que ponha isso em causa. Agora não sei é se a cidade vai dar possibilidade a um clube para se lançar numa obra que não diria megalómana mas que será muito cara. E considero que não seja megalómana quando vemos Rio Maior com as instalações desportivas que tem. Nós, como capital de distrito, também deveríamos ter esse objectivo. Não sei se conseguem apoios para esse projecto, que até poderia ser conciliado com os próprios objectivos da autarquia em termos desportivos. Mas a União de Santarém tem toda a legitimidade para apresentar um projecto, tal como nós também poderemos apresentar um projecto para o ringue e fazer um pavilhão. Tudo depende da parte económica.
Como são as relações entre os vários clubes da cidade, tendo em conta que alguns competem nas mesmas modalidades? Há uma rivalidade saudável? Havendo vários clubes há sempre rivalidade. Há situações que por vezes passam um bocadinho das marcas nas competições em que se decide alguma coisa. Mas penso que isso é mais fruto do nervosismo do dia a dia, que depois é transportado para o desporto. A nível institucional damo-nos bem com todos. Existem condições para todos se darem bem.