“Não temos tempo para nada porque estamos sempre ligados”
Maria do Rosário Cordeiro é gestora da empresa J. M. Cordeiro Lda., em Santarém. Filha do fundador da firma, gosta de se levantar cedo e é sempre a primeira a chegar ao trabalho.
Maria do Rosário Cordeiro, 47 anos, gestora da empresa J. M. Cordeiro Lda., em Santarém, fundada pelo seu pai José Manuel Cordeiro, gosta de se levantar muito cedo para fazer a sua caminhada matinal. Diz que sempre foi assim e que é sempre a primeira a chegar à empresa. Queixa-se do pouco tempo que tem, porque hoje em dia está-se sempre ligado. “Antigamente fechava-se a porta às sete horas e amanhã era outro dia. Agora existem as novas tecnologias com o que têm de bom e de mau”, diz.
A gestora e empresária frequentou o antigo Colégio Andaluz, fez a primária na Escola de São Salvador, passou pelo Liceu Sá da Bandeira e licenciou-se em Gestão de Empresas porque já queria ir trabalhar para a empresa do pai. “Nunca por pressão”, diz, acrescentando que a irmã é engenheira civil e portanto estava noutra área. “Sempre quis vir para a empresa porque sempre me orgulhei do trabalho que o meu pai fez ao longo da vida”. No início o negócio começou só com um posto de abastecimento de combustíveis e depois é que se foi expandindo. Hoje a empresa tem 9 postos de abastecimento e 49 funcionários.
Maria do Rosário Cordeiro entrou na empresa em 1991. “Ainda estava a estagiar”, diz. A gestora não sabe se é mais fácil trabalhar em família ou não, porque nunca trabalhou noutro sítio. “Mas pela minha forma de ser acho que seria igual”. Quando entrou “talvez fosse vista como a filha do patrão” mas nunca fez questão de ser diferenciada. “O meu pai perguntava-me o porquê de estar na empresa tão cedo. Eu não vinha nem para vigiar se as pessoas entravam a horas ou para mostrar trabalho, apenas porque gosto de me levantar cedo”, conta.
A gestora diz que ficou em Santarém e que tem pena de ter perdido o contacto com alguns colegas do liceu porque saíram quase todos de Santarém. “A própria vida também se vai alterando e hoje em dia só pensamos em trabalhar e quase que não temos tempo para nada. A vida exige muito de nós, quer em termos laborais quer em termos pessoais”, confessa. E, pior do que isso, é que “até com a família é difícil arranjar tempo para estar com a minha irmã por exemplo. Quando os miúdos eram mais novos dava para eles virem ao fim de semana mas agora já vão tendo as actividades deles e torna-se mais difícil”.
Até nas férias a empresária leva o computador consigo. “Hoje temos os telemóveis e os computadores para nos ligarmos à empresa e nunca desligamos. Quando vamos de férias o meu filho pergunta-me logo: ‘vais levar computador? ao que eu respondo: claro!’”. Maria do Rosário Cordeiro explica que é “preferível perder meia hora a colocar os assuntos em dia do que deixar acumular”, porque depois vai ter mais trabalho.
Quem pensa que os postos de combustíveis dão muito dinheiro engana-se. “Já se ganhou muito mais dinheiro quando as margens eram maiores, a concorrência menor e as condições do mercado eram um pouco mais favoráveis”, explica. “Hoje tornou-se num negócio de volumes. O facto de ter uma facturação elevada não quer dizer nada porque o sumo que se tira é muito pouco”.
A gestora que preferiu ficar a gerir a empresa da família na cidade a que chama “dormitório”, fica triste ao olhar para a maioria das lojas do centro histórico fechadas. Diz que o estacionamento não é desculpa porque “as pessoas podem muito bem deixar o carro no antigo campo da feira e vir um bocadinho a pé”. Rosário Cordeiro considera que “se devia dinamizar aquele espaço que está mal aproveitado”. Quando se faz alguma coisa falha a divulgação. “Muitas vezes vejo no facebook ou no jornal que já aconteceu”, refere.