Dia do ambiente
Dentro de dias alguns celebram mais um Dia Internacional do Ambiente. Se tudo tem dias, porque não o ambiente?
Dentro de dias alguns celebram mais um Dia Internacional do Ambiente. Se tudo tem dias, porque não o ambiente? Nesse dia, algumas associações ambientalistas inúteis, melhor, prejudiciais à causa, vão procurar ecrã com mais alguns estudos de coisa nenhuma: uns dados da Agência Portuguesa do Ambiente com tratamento estatístico são quanto basta. Entretanto, a semana passada, uma revista semanal da nossa praça fez o seu número anual a que chama “edição verde”. O melhor respeita a uma entrevista àquele que foi o responsável da BBC pelos mais espetaculares programas de TV sobre natureza realizados até hoje. Diz o senhor Tom Hugh-Jones que o mais assustador “não é Donald Trump, somos todos nós – a forma como vivo a minha vida…, a forma como as pessoas que conheço vivem as suas vidas… Bem posso dizer que me preocupo com as alterações climáticas mas depois vou de avião para Portugal. Fico envergonhado por não conseguir comprometer-me mais”. Este senhor diz o que escrevo aqui muitas vezes: o Dia Europeu Sem Carros, o Dia do Ambiente e quase tudo o resto é um folclore que só serve para não fazer o que devemos.
A mesma revista aborda alguns temas curiosos, designadamente o “Portugal Selvagem” descoberto por uma inglesa e publicado num guia. As gentes que leem O MIRANTE conhecem bem o que espantou a inglesa, sabem dos lugares virgens de ar puro, das serras quase intocáveis e de rios de água limpa como há muito já não há no resto da Europa. Basta andar um pouco de mochila às costas, sem ser preciso viajar de avião para a Amazónia ou Himalaias. Era muito bom que os portugueses conhecessem o que têm em casa antes de se aventurarem por lugares bem mais pobres, e que os decisores do turismo em Portugal percebessem que é no campo onde está o maior valor deste território. Na verdade, é absurdamente estúpido que “os tesouros naturais do interior” (para seguir os títulos da revista Visão), onde nós temos o privilégio de viver, sejam olhados e vividos como pobres. O tal up local, sobre o qual tanto escrevo, em oposição assumida aos limões do Chile que consumimos pela desastrosa globalização. Incontornável, como não podia deixar de ser, é o tema do Turismo – neste caso, “férias sustentáveis” –, onde nos são propostos os hotéis mais ecológicos do país, além de serem para muito poucos, pelo que custam, representam um “paraíso de excessos” que não devia existir. Assim, é bom que se comece a escrever, mesmo que seja nas entrelinhas, que o turismo, tal como hoje o praticamos, é a atividade económica que, de longe, mais custos ambientais tem.
Carlos A Cupeto (Universidade de Évora)
* Curiosamente no dia em que escrevo este texto, a propósito da Cimeira Luso-Espanhola, António Costa disse que o interior não é “as traseiras do litoral” mas “a frente avançada do país em relação ao centro da Europa”; que boas intenções as do Governo que criou em março de 2016 uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior cujo Plano Nacional para a Coesão Territorial, lançado há seis meses, defende que a grande aposta para desenvolver os territórios da raia devem ser os rios internacionais.