Gruta da nascente do Alviela é um tesouro por descobrir
Património natural ainda é um ilustre desconhecido para muita gente
José e Margarida Soares, de 7 e 4 anos, entraram sem medo pela primeira vez na gruta nascente do Alviela, na tarde de domingo, 21 de Maio, através de uma actividade organizada pela SPE (Sociedade Portuguesa de Espeleologia) no âmbito do 1.º Festival de Biodiversidade, nos Olhos d’Água, em Alcanena.
O pai, Cristiano Soares, residente em Alcanena, que acompanhou toda a visita, não tem dúvidas em admitir que esta é uma experiência única e tem pena de haver muita gente dessa zona que nunca lá entrou. Acredita ainda que seria “bastante interessante” que este tipo de visitas estivessem disponíveis para alunos das escolas da zona. Já Gonçalo Trindade, de 38 anos, residente no Entroncamento e também estreante nestas andanças, é da mesma opinião. “É pequena a viagem mas é bonito e para quem gosta deste tipo de coisas e não tiver medo acho que vale a pena”, afirma.
O casal Arminda Alves e Elísio Bento, de 54 e 57 anos, respectivamente, também aproveitou a oportunidade para conhecer a gruta. Algo que sempre lhes despertou “todo o interesse” devido ao facto de viverem em plena serra, na freguesia de São Bento, concelho de Porto de Mós, e terem perto de sua casa alguns algares que são bastante visitados ou eram há uns anos atrás. Arminda admite que “qualquer pessoa com uma mobilidade normal consegue perfeitamente chegar até à parte da plataforma dos mergulhadores e por isso não há que temer”.
“Esta actividade é para o público dos 8 aos 80”, refere Ilda Calçada, espeleóloga da Sociedade Portuguesa de Espeologia (SPE), acrescentando que o que se procura é, não só, promover o património geológico da região, mas também despoletar “esse bichinho” pela espeleologia que muita gente ainda não descobriu. Ilda afirma que esta é uma actividade segura e se todo o equipamento, desde capacetes a cordas, for usado com o devido cuidado, não haverá qualquer risco.
“Qualquer pessoa pode participar nestas actividades. Têm é de ser conscientes dos seus limites e dos seus problemas”, diz, lembrando de um caso de uma participante que já estava num estado avançado de gravidez que tiveram de rejeitar.
A espeleóloga de 31 anos e natural de Alcanena, confessa que a espeleologia é uma actividade que “exige muito do nosso tempo e exige também muito de nós” e onde não se recebe nada em troca. “É tudo em prol da sociedade, da associação e da ciência”, refere. Além disso, promove a amizade porque, sendo uma actividade exigente, “estamos sempre de olho uns nos outros e isso cria entre nós uma grande empatia”.
O papel importante da Sociedade Portuguesa de Espeologia
A SPE é a pioneira, desde 1948, da espeleologia em Portugal e efectua explorações e estudos de grutas por todo o país. A associação agrupa o maior número de especialistas de espeleologia no país e procura divulgar a sua acção junto do público em geral, de forma a mantê-lo informado e, simultaneamente, despertar novas vocações. O trabalho pioneiro da SPE, de inventariação, caracterização e divulgação dos fenómenos cársicos, superficiais e subterrâneos, desta região está na base da criação do Parque Natural de Serra d’Aire e Candeeiros. As saídas para o campo realizam-se ao fim-de-semana. Nas férias escolares organizam-se saídas mais prolongadas e nas férias grandes efectuam-se grandes campanhas de explorações a grutas.