“A sociedade está mais individualista e isso prejudica o associativismo”
José Luís Ferreira, 59 anos, presidente da direcção do Ateneu Artístico Vilafranquense
Para José Luís Ferreira o associativismo está em crise e a culpa é de um crescente individualismo da sociedade. É uma pessoa frontal e leal que não é capaz de deixar algo por dizer. Abraçou o desafio de, em conjunto com os colegas da direcção, gerir os destinos do Ateneu. O triatlo é a sua grande paixão e três vezes por semana não dispensa dar uma volta de bicicleta. É no campo que gosta de descomprimir das tensões do dia-a-dia.
Sou uma pessoa que às vezes sente raiva mas que não a guarda. Não vejo isso como uma virtude ou um defeito, é uma característica. Tenho o coração próximo da boca e tenho dificuldade em teatralizar. As pessoas que privam comigo percebem que quando algo não me agrada não o consigo esconder. Sou frontal e leal. Dá-se a coincidência de ter nascido numa aldeia chamada Raiva, no concelho de Castelo de Paiva. Mas é só coincidência. Desde os seis anos que vivo em Vila Franca de Xira.
Não gosto muito de cinema e há alguns anos que não vou a uma sala ver um filme. A minha praia é o desporto. Das actividades culturais gosto mais de dança e de música. Não tenho também uma viagem de sonho porque já fiz muitas viagens e corri os quatro cantos do Mundo, por causa do desporto. Já passei pela Nova Zelândia, Austrália, Japão e Estados Unidos, vi muita coisa.
Três vezes por semana gosto de andar de bicicleta e normalmente ocupo uma manhã inteira. Ainda esta semana fiz cem quilómetros a acompanhar o grupo de ciclismo do Alhandra. Ao contrário de algumas pessoas, que usam o desporto para descomprimir, eu preciso de estar bem e em força para praticar desporto. Para descomprimir gosto de ir ao campo e estar com a família. Tenho um pedaço de terra onde vou fazendo alguma agricultura e trato de uns pomares. Aí sim, desligo das preocupações.
Há uma grande crise no associativismo nacional e local. A nossa sociedade está mais individualista e isso tem repercussões no associativismo. As generalizações são pecaminosas mas ainda assim acho que as pessoas que estão no associativismo para servirem a causa e não se servirem elas próprias do associativismo são cada vez menos. Infelizmente ainda há muita gente que usa as associações para se servir delas.
Aqui no Ateneu temos pessoas bastante dedicadas. Dão imenso à associação e se for necessário ainda levam os problemas da colectividade para casa. Há gente na rua que não consegue perceber porque motivo o fazemos, pensam sempre que as pessoas procuram vantagens ou que querem usar as colectividades como trampolim para outras coisas mas não é verdade. Esse é um problema grave da sociedade. Ainda há quem dê de si sem pensar em receber algo em troca. Mas no geral somos uma sociedade egoísta e individualista.
Resisti ao convite para ser presidente do Ateneu mas acabei por ceder. O Ateneu é a maior instituição do concelho e da cidade e tem um peso enorme. Já tinha feito parte da anterior direcção durante dois ou três meses mas não me reconheci na forma como a instituição era conduzida e ao fim de uns meses demiti-me. É a minha forma de ser. Agora o que quero é trabalhar e ajudar o Ateneu juntamente com a minha equipa.
Ando no associativismo desde os 18 anos mas sobretudo ligado à área do desporto e não tanto da cultura. Sou um desportista desde tenra idade. Joguei futebol no Povoense dos 12 aos 20 anos, dos 20 aos 28 fui atleta de atletismo e fiz alta competição, era corredor de 800 e 1500 metros. Cheguei a representar clubes como o Braga e o União Desportiva Vilafranquense. Sou militar na reforma e fui um dos pioneiros do triatlo em Portugal. Fui fundador da federação e presidente entre 1996 e 2012, saí nessa altura por limitação de mandatos. Actualmente gosto de acompanhar o Alhandra Sporting Club, é o principal clube a nível nacional dessa modalidade. Os meus filhos também são atletas.