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Cuba distintiva

O território que habitamos ensinou-nos, ao longo dos séculos, a viver de acordo com o seu modo. É por isto que quem nasceu à beira Tejo, ou sob a sua influência, é diferente de todos os outros e assim será sempre, mesmo que nos queiram contrariar.

Providencialmente, os últimos dias trouxeram-me cultura. Na verdade, algo me diz que o caminho da mudança é por aí e quem julga que a ciência e os patrimónios, e bem assim, a arte, são intocáveis, engana-se profundamente.
Tive a oportunidade de ir a Cuba e tomar contacto próximo com o Cuba Leader; quase que se pode resumir numa palavra: fantástico. Já se sabia que este pequeno concelho do Baixo Alentejo tem identidade cultural mas é muito mais que isso; assume a sua matriz como um recurso incontornável e primordial. E não é que tem razão? Desde logo, o programa é expresso numa planta da vila que simbolicamente toda ela integra e faz parte do certame; simplesmente brilhante. Como terra de Tabernas, a rota deste património cultural de saberes e viver está bem evidenciado, obviamente, com o símbolo de uma talha. Muitos dos autarcas que por aí andam a inventar festas e festarolas deviam aproveitar uma viagem a Cuba para formação. “Património Cultural a Identidade que nos Diferencia” foi o tema do colóquio de abertura, um programa bem desenhado onde facilmente nos damos conta que a rede de mais de 60 grupos de ação local é bem mais significativa do que 100 Unidades de Missão para a Valorização do Interior, totalmente ao jeito do país que somos – um país gerido a partir de Lisboa, como se o resto fosse paisagem sem alma. Há, pois, por esse país fora a autenticidade do saber fazer que contribui fortemente para o bem-estar das pessoas. O tempo vai dar razão a Cuba, os seus patrimónios constituem o garante da sua suficiência e sustentabilidade. Sem informação objetiva acresce a nítida perceção de que tudo, contrariamente à generalidade do que se passa em Portugal, acontece em estreita colaboração entre o privado e o público, como não pode deixar de ser.
Entretanto, terminou em Sines mais uma edição do Festival terras sem sombra, em minúsculas, como os promotores o assumem e eu tanto gosto. Foi como que o corolário do Cuba Leader, “a cultura como herança moral da humanidade”, como afirmou D. Amálio de Marichalar no fecho da sessão de entrega do Prémio Internacional. Na verdade, o território que habitamos ensinou-nos, ao longo dos séculos, a viver de acordo com o seu modo. É por isto que quem nasceu à beira Tejo, ou sob a sua influência, é diferente de todos os outros e assim será sempre, mesmo que nos queiram contrariar.
Carlos Cupeto
Universidade de Évora

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