Praia Fluvial do Carvoeiro é um oásis rodeado de terra queimada
Incêndios nesta freguesia de Mação deixaram paisagem desoladora que tem afastado visitantes. A praia fluvial do Carvoeiro, no concelho de Mação, não perdeu a bandeira azul por causa dos fogos mas o cenário é de terra queimada.
A praia fluvial do Carvoeiro, no concelho de Mação, é um oásis na paisagem negra provocada pelos incêndios que destruíram a floresta em volta deste espaço de lazer que atraía muitos veraneantes. Agora quem vai à praia são curiosos, apenas com o objectivo de verem com os próprios olhos a devastação provocada pelo fogo, e a população local, que não deixa morrer a praia onde se salvou o bar em alvenaria, a relva e umas poucas árvores rente ao espelho de água.
Os habitantes da localidade mobilizaram-se para defender um dos bens mais queridos da freguesia e houve quem não dormisse durante cinco dias seguidos a ajudar no combate às chamas. As cinzas e as árvores queimadas já não atraem quem procurava o espaço para se refrescar em contacto com a natureza. O bar da praia, outrora quase sempre cheio, tem agora muitas cadeiras vagas. A concessionária do estabelecimento, Carla Martins, fala de uma quebra de mais de metade do número de visitantes, que se reflecte na facturação.
Carla Martins lembra que antes dos incêndios quase que não havia espaço para tanta gente rendida à paisagem, muitos deles que regressavam ano após ano à calmaria do Carvoeiro. Mónica Santos é uma das que foi ao local para ver a destruição. Percorre as encostas queimadas com o olhar e vai exteriorizando a revolta que sente. “É incrível como isto chegou a este ponto”. Desolada com o que vê, desabafa que “este é o tipo de terrorismo que temos em Portugal”.
Quase um mês depois dos fogos de Julho ainda se sentia o cheiro a queimado no ar. A água estava límpida e a praia ostentava orgulhosamente a bandeira azul a exemplo de anos anteriores. A terra em volta da piscina natural parece dar razão ao topónimo deste território a 25 quilómetros de Mação e onde habitam seis centenas de pessoas. Há aqui uma espécie de ironia do destino porque, apesar de não estar bem esclarecida a origem do nome da localidade, há autores que defendem que se deve aos jazidos de carvão inexplorados no subsolo.
A imagem que se pode passar do espaço agora é uma preocupação de habitantes e alguns visitantes. Carlos Matos, frequentador da praia, emociona-se ao chegar à praia e deparar-se com a soturna paisagem e gostava que não se fizesse alarido disso. “Que não se passe para o exterior esta imagem de degradação”, apela. O frequentador da praia espera que se tomem medidas rapidamente para que se devolva a beleza possível ao espaço, apesar de considerar que vai demorar muitos anos até a praia do Carvoeiro recuperar a dignidade que tinha. “É importante que as pessoas não façam disto um cemitério”, desabafa.
Apesar de triste com o que encontra, Apolinário Noné não perde a coragem e contribui para que a praia tenha vida. Deslocou-se do concelho de Proença-a-Nova, também ele fustigado pelos incêndios com situações bem mais trágicas, onde perderam a vida 64 pessoas. Apolinário frequenta o Carvoeiro há vários anos e regressou ao espaço para passar o dia na esperança que esta ainda se encontrasse em condições.
Para os habitantes, a praia passou agora a ser uma espécie de refúgio que o fogo não tocou e vêem nela uma escapatória à visão enegrecida da freguesia. A praia continua a ser um bom espaço para passar bons momentos e relembrar as boas memórias. É o caso de Ana Gonçalves e do seu marido Alberto Ribeiro que continuam a deslocar-se com frequência à praia fluvial para descansarem e passarem tempo em família. .