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“Os comboios fazem mais barulho e incomodam mais”

“Os comboios fazem mais barulho e incomodam mais”

Depois de três edições em Valada, Cartaxo, o festival de rock alternativo Reverence mudou para a Ribeira de Santarém. Como não há segundas oportunidades para se causar uma boa primeira impressão, O MIRANTE foi saber como os moradores receberam a iniciativa e registou reacções positivas apesar da música não ser para todos os ouvidos.

“Hoje dá gosto ver a Ribeira de Santarém. Nos outros dias não se vê ninguém, mas hoje está movimentada”, afirma Maria Madalena Carvalho, enquanto tenta vender um dos seus trabalhos feitos com trapos e lã, junto ao campo de futebol do bairro ribeirinho de Santarém, para angariar fundos para a associação da qual é responsável, a Fainas Folias, do Grupo Folclórico de Dança Regional de Santa Iria da Ribeira de Santarém. “Ainda não vendi nada, nem um barrete de um euro, veja lá. Mas isto é bastante positivo para o comércio local”, admite.
A ribeirense de 60 anos não tem dúvidas que a vinda desse festival para a Ribeira é importante para a terra e para os seus habitantes, pois “só assim se lembram de nós já que ela está esquecida, velha, completamente a cair e não pode ser”. Habituada ao barulho dos comboios, o volume da música do festival foi algo que não a perturbou. “Até nem estava muito alto”, confessa, dizendo que esteve para ir lá dar uma espreitadela mas decidiu não ir por não apreciar aquele tipo de música. “É demasiado esquisita para mim”, refere.
Mais à frente, à janela, está José Silva, 53 anos. O morador confirma que o festival levou muita gente até à Ribeira de Santarém e quem ganhou foi o comércio local. Só é pena, diz, não haver ali mais cafés. “Já quando aqui há jogos de futebol, quem vem cá não tem praticamente sítio para ir beber um café. Devia haver mais, como antigamente”, admite. Para José Silva, os comboios fazem mais barulho e incomodam mais do que o próprio festival. “Estava à espera que houvesse muito barulho mas, até ver, não me tem perturbado”, confessa.
Na garagem de uma casa praticamente em frente ao recinto do festival, encontrámos Maria Isabel Bento. Atenta a ver os festivaleiros a passar, a reformada de 68 anos não tem dúvidas que a iniciativa é muito positiva para a Ribeira de Santarém e para o comércio local já que, confessa, “esta terra está um bocado desprezada”. “Pelo menos limparam ali as margens do Tejo. Só por isso valeu o festival”, admite. Quanto ao ruído, admite que não a incomoda até porque, explica, “o meu quarto é virado para o outro lado e talvez por isso não me afecte tanto”.
Entretanto, umas casas abaixo está Maria Eugénia Couto. A residir há 30 anos na Ribeira de Santarém, a reformada de 72 anos acredita que este festival trouxe animação à terra e a quem vive ali. “Este movimento traz alegria a todos nós. É pena não estar mais gente, como estava previsto”, confessa. A moradora admite que o ruído é, realmente, a parte pior do festival. “A noite passada não dormi muito, mas agora, como me deitei um bocado durante a tarde, já está tudo bem. É por uma boa causa”, considera.
Foi mesmo em frente ao festival que encontrámos Virgílio Cordeiro. Acompanhado pela esposa, e já com a pulseira de entrada no braço, o reformado de 67 anos afirma que este festival é bastante positivo para a Ribeira de Santarém. “É pena não estar tanta gente como em Valada. Se tivesse havido mais divulgação talvez tivesse mais adesão”. A residir perto da escola primária, Virgílio Cordeiro diz que o ruído do festival é algo que não o incomoda. Pior, confessa, “é a música alta vinda toda a noite da zona junto ao liceu porque aquilo é um vale e é como se o som viesse sempre a direito”. “Agora esperamos que continue a ser cá por muitos mais anos”, acredita.

Cinquenta bandas em palco

Foram 50 as bandas que passaram em palco nesta quarta edição do Festival Reverence que decorreu nos dias 8 e 9 de Setembro na Ribeira de Santarém. Os nacionais Moonspell, os belgas Amenra e Oathbreaker foram os cabeças-de-cartaz do primeiro dia. No sábado, dia 9, o destaque foi para a banda japonesa Mono e para os britânicos Gang of Four, um dos nomes históricos do pós-punk. Como tem sido habitual nas edições anteriores, o Reverence voltou a apostar num forte contingente nacional, entre os quais sobressaem nomes como 10.000 Russos, Asimov & The Hidden Circus, The Melancolic Youth of Jesus ou os retornados Löbo.

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