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Filipa Almeida geriu a maior crise de saúde pública dos últimos anos em Portugal

Filipa Almeida geriu a maior crise de saúde pública dos últimos anos em Portugal

Filipa Almeida é a gestora de comunicação do Hospital Vila Franca de Xira e foi uma das responsáveis por gerir a comunicação da maior crise de saúde pública que o concelho viveu: o surto de legionella.

“Eu tinha vindo para Vila Franca de Xira trabalhar há cerca de um ano quando se deu o segundo maior surto de legionella a nível mundial, cujo epicentro foi aqui no Hospital Vila Franca de Xira. Foi um desafio para mim lidar com a imprensa nessa altura. Foi a primeira grande crise mediática que geri”, conta Filipa Almeida.
Aos 29 anos, natural de Braga e tendo vivido quase toda a vida no Porto, veio gerir a comunicação do Hospital Vila Franca de Xira há quatro anos. O desafio da crise de legionella foi para ela especialmente interessante porque acredita que não passaria por algo do género no Hospital CUF Porto, onde fez carreira antes de vir para Vila Franca de Xira: “O hospital é gerido num regime de parceria público-privada, sendo que é um hospital público, do Serviço Nacional de Saúde. Uma crise desta dimensão nunca aconteceria num hospital privado porque, nestas situações, por norma, a população acorre aos hospitais públicos”.
Na altura em que Vila Franca de Xira foi afectada pelo surto de legionella, Filipa nem conseguia usar o telemóvel: “Não conseguia fazer chamadas; enquanto estava ao telefone entravam outras chamadas e assim que desligava recebia mensagens a informar que outros números tentaram entrar em contacto! Foi uma loucura”.
Em vez de se deixar abater pelas dificuldades, vestiu a camisola e encarou o desafio de cabeça erguida. Para isso ajudou muito a constituição do Gabinete de Crise, composto pela Comissão Executiva do Hospital Vila Franca de Xira, pela directora de comunicação do Grupo José de Mello Saúde (que chefia a comunicação de diversas instituições, incluindo o Hospital Vila Franca de Xira), pela Direcção Clínica, Direcção de Enfermagem e pelos Serviços Farmacêuticos e pela própria Filipa.
“No início estávamos todos reunidos na sala do conselho de administração do hospital, constantemente em contacto com as autoridades de saúde, a ter de tomar decisões ao nível da organização interna e da resposta assistencial, à medida que monitorizávamos os dados e víamos o número de casos positivos a aumentar rapidamente. O então presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo estava permanentemente em contacto connosco, tendo chegado a estar no hospital, logo no primeiro dia. Era ele que coordenava para que hospitais podíamos transferir doentes, a partir do momento em que esgotámos a nossa capacidade de internamento”, recorda.
Em termos de comunicação, tiveram de gerir o primeiro impacto, com o objectivo de informar e acalmar a comunidade, por forma a evitar alarmismos. “Recordo-me que na altura a população não sabia se o contágio se dava por via da água da rede pública. O nosso director clínico teve um papel crucial ao falar em directo para os telejornais, num primeiro momento, esclarecendo que o contágio se dava pela inalação de aerossóis e não pela ingestão da água”.
Filipa recorda que esgotaram todos os garrafões de água nos supermercados dos cinco concelhos abrangidos pelo Hospital Vila Franca de Xira quando se julgava que o contágio se dava por beber água da rede. “Tivemos esse papel determinante de desmistificar e explicar à população que o problema não estava na ingestão de água e que a legionella não se transmite de pessoa para pessoa”.
A jovem encarou a crise de legionella como parte do seu desenvolvimento: “Saímos de algo deste género com maior capacidade para lidar com o que possa surgir, sem dúvida”.

“É diferente a realidade dos hospitais públicos e dos privados”

Filipa começou a carreira no Hospital CUF Porto e Instituto CUF Porto e admite que há uma enorme diferença nas funções que desempenhava no norte e as que desempenha actualmente. Dá o exemplo da relação com a comunidade, vertente a que se dedica mais no Hospital Vila Franca de Xira: “A prevenção e educação para a saúde da população é uma responsabilidade dos centros de saúde, mas o Hospital Vila Franca de Xira assume este papel também como seu, pelo que desenvolvemos várias iniciativas e campanhas de divulgação e prevenção, em conjunto com os cuidados de saúde primários, porque sentimos que temos esta responsabilidade de chegar mais perto da população e fazer mais e melhor pelo Utente”.
Também no contacto com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) há diferenças entre o público e o privado: “Temos o Conselho para o Desenvolvimento Sustentado, que desenvolve o concurso de bolsas de solidariedade em colaboração com a Fundação Amélia de Mello, que já apoiou 25 projectos de IPSS dos concelhos da área de influência do hospital e este ano vai apoiar mais 10. Este hospital preza muito o envolvimento com a comunidade, com os municípios, com as Instituições e forças vivas e valoriza a opinião dos utentes, bem como perceber as suas dúvidas e necessidades”.

Filipa Almeida geriu a maior crise de saúde pública dos últimos anos em Portugal

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