Voar baixinho sobre a água
Bruno Bértolo tem 47 anos e soma títulos nacionais em windsurf. É um rosto conhecido na vila onde cresceu, vive e dá aulas. O rio Tejo e o windsurf são duas das suas paixões. Diz que o concelho tem sabido aproveitar e explorar a sua ligação ao rio e que enquanto tiver saúde continuará a praticar a modalidade.
É a sensação de velocidade “incrível”, obtida através do vento e sem recurso a qualquer motor, juntamente com o silêncio, que cativou Bruno Bértolo para a prática do windsurf, uma modalidade olímpica praticada com uma prancha idêntica à do surf mas com uma vela que pode ultrapassar, em alguns casos, os onze metros de altura.
A ideia é, literalmente, planar sobre a água em velocidades que, num dia de vento forte, podem rondar os 60 quilómetros por hora. E Bruno Bértolo sabe, como ninguém, fazer isso. Nos últimos dois anos foi o campeão nacional da vertente slalom, títulos que soma a outros já no palmarés, como o título de campeão europeu e mundial no seu escalão, obtido em 2006 na Coreia do Sul. Nesse ano, Alhandra homenageou-o com o galardão de cidadão de mérito.
Mas Bruno não se vê como uma pessoa especial ou diferente. Aos 47 anos ainda se sente com força para praticar uma modalidade que obriga a força, determinação e coragem. Ainda treina no rio Tejo várias vezes por semana mas apenas quando o vento lhe permite. As recentes vagas de peixes mortos que estão a dar à costa é que o desmoralizam.
“A nível da poluição as coisas já foram piores, não havia estações de tratamento de águas e as fábricas descarregavam directamente para o rio. Ultimamente o problema dos peixes mortos é transversal a todo o concelho. Esses peixes que aparecem mortos a boiar já me deram problemas. A 60 km/h bater neles é o suficiente para nos magoarmos a sério. É como ir de mota e bater num gato, é uma paragem demasiado brusca”, conta Bruno, que já partiu três costelas.
Bruno é de Alhandra, terra onde vive e trabalha – é professor de educação física na Escola Soeiro Pereira Gomes. “Não vejo a idade como um problema. O importante é ter força, peso, táctica e técnica. A diferença é que quando se é jovem recupera-se mais rapidamente das mazelas”, diz com um sorriso.
Uma vida lado a lado com o Tejo
O pai e o avô de Bruno tiveram influência directa na paixão pelo Tejo e pelo windsurf. “Sempre tiveram muita ligação ao rio e desde muito novo que lhes segui as pisadas. O meu pai já praticava windsurf e eu como tinha a prancha dele aproveitei-a para aprender e absorvi as suas lições. Depois foi só evoluir”, conta.
Bruno não recorre a um anemómetro para ver a força do vento, basta senti-lo. “Vai da experiência”, confessa. Mas por vezes mesmo os experientes são surpreendidos pela natureza. “Já me aconteceu ficar sem vento no meio do rio e acabar a ser arrastado pela corrente. Felizmente havia colegas que sabiam que eu estava lá no meio e foram ajudar-me”, conta.
O atleta do Alhandra Sporting Club lamenta que a modalidade já não seja moda como nos anos 80. Há “dois ou três” atletas no clube a praticar windsurf numa vertente competitiva mas a maioria, “umas 30 ou 40 pranchas”, são de pessoas que gostam de praticar apenas na vertente de lazer.
“Na escola tento sempre cativar os miúdos para praticarem desporto e se forem actividades náuticas melhor. Mas as nossas margens são difíceis. Se uma pessoa não sair no cais tem de sair no próximo e vir tudo a pé a trazer o material. Não há margens para uma pessoa ficar como acontece numa barragem ou numa lagoa. E aqui temos corrente, é mais complicado”, refere.
Actualmente não há aulas de windsurf no Alhandra Sporting Club mas Bruno Bértolo garante que qualquer jovem atleta que já pratique canoagem ou vela e domine as correntes e o rio pode aproveitar para conhecer a modalidade. “Não quero desistir do windsurf, é uma coisa que me dá gosto e vou continuar enquanto o corpo aguentar. Não tenho filhos mas a minha família e namorada ajudam-me bastante, têm muita paciência comigo porque roubo bastante tempo a eles para dedicar ao desporto”, conclui.