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A dura luta de Fernando contra a esclerose múltipla
Fernando Ferreira conta com o apoio incondicional da esposa, Rita

A dura luta de Fernando contra a esclerose múltipla

Fernando Ferreira, residente em Almeirim, tem 36 anos e luta há 17 contra a esclerose múltipla. Desloca-se numa cadeira de rodas eléctrica emprestada pelo Centro de Reabilitação de Alcoitão que tem que devolver em Dezembro. A cadeira de rodas eléctrica prescrita pela médica custa mais de 30 mil euros e a família não tem dinheiro para a comprar. Em curso está uma campanha de solidariedade para lhe oferecer uma cadeira nova.

Fernando Ferreira sempre foi um jovem activo e chegou a fazer exames para a Academia Militar. Aos 19 anos foi-lhe diagnosticada esclerose múltipla, uma doença neurológica que afecta o sistema nervoso central e em que o doente vai perdendo as capacidades físicas e motoras. Os primeiros sintomas a surgir foram o cansaço extremo e perda de visões momentâneas mas os médicos consideraram que se deviam ao facto de estudar muito. Foi durante os exames que teve que fazer para ingressar na Academia Militar – que entretanto optou por não seguir – que os médicos detectaram “qualquer coisa” a nível cerebral e aconselharam-no a procurar um especialista.
Nessa altura, Fernando, natural do Bombarral [distrito de Leiria], ingressou na Escola Superior Agrária de Santarém. “No primeiro ano do curso comecei com sintomas mais graves. Tive o primeiro surto durante o sono, comecei com choques eléctricos pelo corpo todo, como se fosse epilepsia, e caí para o chão. Por sorte, a minha família estava comigo e socorreram-me. Estes surtos repetiram-se algumas vezes. Fiz vários exames, até que me mandaram para o Hospital Egas Moniz e com mais exames disseram-me que provavelmente eu teria esclerose múltipla”, conta em entrevista a O MIRANTE.
Fernando, de 36 anos, conta que receber aquele diagnóstico foi muito violento, um soco no estômago e que lhe deu uma sensação muito grande de impotência. Admite que entrou em fase de negação da doença e confessa que ainda hoje não a aceita. “Estou sempre a lutar contra ela. Não quero que ela me vença. Vivo um dia de cada vez. Acordo de manhã completamente exausto, muito cansado. A luta do meu dia é vencer o cansaço diário”, afirma.
Apesar do diagnóstico, Fernando não se resignou à doença. Depois de concluir o bacharelato em Engenharia em Produção Hortofrutícola, licenciou-se em Engenharia Agrária e tirou o mestrado em Agricultura Sustentável. Também tirou um curso relacionado com informática de telecomunicações. Trabalhou sempre na área da agricultura, chegando a fazer cerca de 500 quilómetros por dia. Os seus dias sempre foram intensos apesar das limitações que a esclerose múltipla lhe foi impondo. A perda de mobilidade aumentou nos últimos dois anos e Fernando já só se desloca em cadeira de rodas.
Quem nunca o abandonou foi a sua esposa, Rita, que conheceu Fernando no início da vida universitária e na altura em que este descobriu a doença. Actualmente, vivem em Almeirim e têm dois filhos, o Pedro, de sete anos, e a Rita, de dois anos.
“Para eles é normal o pai deslocar-se em cadeira de rodas porque é a rotina deles desde sempre. O Pedro é que já começa a perguntar quando é que os médicos vão encontrar a cura para a minha doença e o que é exactamente a minha doença. Tive receio de ter filhos, porque tinha medo que eles tivessem a mesma doença, mas os médicos explicaram-me que não está comprovado que esta doença seja hereditária. Não me arrependo de ter tido filhos, porque são o melhor de mim e quem me dá alento todos os dias. O mais velho ajuda-me muito e está sempre a perguntar se preciso de alguma coisa”, refere.

DIAS SÃO PASSADOS SOZINHO EM CASA
Quando perceberam que a doença estava a progredir rapidamente, Fernando e Rita decidiram mudar para uma casa que tivesse pelo menos garagem e elevador espaçoso. Encontraram um apartamento, no rés-do-chão, perto das piscinas municipais em Almeirim. Com o apoio da câmara municipal, e a autorização dos moradores do prédio, construíram uma rampa no passeio e na entrada de casa. Além disso, tiveram que fazer ajustes na habitação. A casa-de-banho do quarto de Fernando teve que sofrer alterações para que pudesse utilizá-la. A parede que dividia o corredor da sala foi deitada abaixo para que o engenheiro se pudesse movimentar melhor em cadeira de rodas.
Fernando vive com o subsídio de desemprego que termina em Abril do próximo ano e do ordenado da esposa, cerca de 1.200 euros. Só em medicamentos gastam cerca de 150 euros mensais. Os problemas para esta família vão aumentar quando lhe for cortado o subsídio de desemprego. “Estamos a adiar ao máximo o pedido de reforma por doença porque o valor é muito baixo. Além disso, não existe qualquer apoio financeiro para eu poder ficar em casa a cuidar dele. Só se ele fosse meu filho, menor de 18 anos, ou se fosse meu pai. Tenho uma carga horária normal e não o posso acompanhar. O Fernando passa os dias sozinho, o que me deixa sempre preocupada porque ele precisa de apoio”, explica Rita, que acompanhou a entrevista.
Enquanto foi possível, Fernando fez fisioterapia particular. Agora faz na Misericórdia de Almeirim. Os seus dias são passados em casa, no computador ou a ler. Apesar de tudo, gostava de voltar a trabalhar e está a pensar em formas de o fazer através de casa. Tudo para não se deixar vencer pela doença.

Campanha de solidariedade para comprar cadeira de rodas

Fernando Ferreira desloca-se numa cadeira de rodas eléctrica emprestada pelo Centro de Reabilitação de Alcoitão e que terá que devolver no próximo mês de Dezembro. Além disso, a actual cadeira não é a indicada para si porque é baixa demais para o seu tamanho, o que já lhe provocou problemas de coluna e pulmonares por não estar sentado correctamente. A cadeira de rodas eléctrica prescrita pela médica para Fernando custa mais de 30 mil euros mas a família não tem dinheiro para a comprar. Por isso, começaram recentemente com uma campanha de recolha de tampinhas que levou a uma enorme onda de solidariedade em poucos dias.
“Em conversa informal com a mestre de judo do nosso filho, ela sugeriu que começássemos uma campanha de recolha de tampinhas. Começamos por imprimir um papel onde contamos o que se está a passar com o Fernando e colocamos em vários estabelecimentos comerciais de Almeirim. Alguém tirou fotografia e partilhou no facebook e a campanha cresceu num ápice”, conta Rita.
A esposa de Fernando diz que amigos dos tempos da universidade, que sabiam da sua doença mas não tinham conhecimento do que estava a acontecer, mobilizaram-se para ajudar apesar de estarem longe. “Algumas pessoas pediram para que acrescentássemos o NIB na informação e pessoas que não conhecemos têm-nos ajudado. Não estávamos nada à espera desta onda de solidariedade e estamos muito emocionados e agradecemos toda a ajuda que nos têm dado, mesmo sem nos conhecerem”, sublinha.
Para conseguir a cadeira de rodas que Fernando precisa são necessárias cerca de 70 toneladas de tampinhas, existindo diversos pontos de recolha em Almeirim para o efeito. Fernando e Rita já entregaram o processo na Segurança Social para terem direito à comparticipação da cadeira de rodas prescrita pela médica mas avisaram logo que a entrega demorará pelo menos dois anos, tempo que Fernando não tem. “A melhor prenda de Natal que podíamos ter era conseguirmos a cadeira que tanto preciso”, refere Fernando.

A dura luta de Fernando contra a esclerose múltipla

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