Ossadas desaparecidas estavam na mesma sepultura mas com outro cadáver por cima
Vicente Vasconcelos andou três anos sem saber dos restos mortais do pai e admite processar Câmara do Cartaxo por danos morais. Caso motivou rescisão de contrato com empresa que geria o cemitério da cidade.
Três anos e meio depois de muitas dúvidas e incertezas, Vicente Vasconcelos descobriu finalmente o paradeiro das ossadas do seu pai, Levy Vasconcelos, falecido no dia 1 de Setembro de 2004. A resposta é no mínimo insólita: as ossadas nunca saíram do local onde o corpo foi enterrado há 13 anos, no cemitério do Cartaxo, e entretanto foi sepultado outro cadáver por cima.
“O responsável do cemitério escavou a campa do meu pai mas como o caixão estava mais fundo do que o esperado acabou por não ser encontrado e enterraram lá outra senhora sem tirarem as ossadas do meu pai. Isto é de uma irresponsabilidade tremenda. Foram três anos de sofrimento e angústia por não saber onde estavam os restos mortais do meu pai”, lamenta Vicente Vasconcelos a O MIRANTE.
O lesado admite que vai avançar para tribunal contra o município do Cartaxo por danos morais. “Foram mais de três anos de muito sofrimento. Tive que ir reconhecer o corpo do meu pai, que ainda não está decomposto, devido ao local do cemitério em que está enterrado. Não desejo a ninguém o que passei, juntamente com as minhas irmãs. Foram momentos muito complicados. Vamos para tribunal porque nos fizeram sofrer muito. Houve aqui uma falha grave que podia e devia ter sido evitada”, afirmou, agastado com a situação.
Contactado por O MIRANTE, o presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Magalhães Ribeiro (PS), confirmou que o corpo estava no mesmo local onde foi enterrado. “A câmara municipal acompanhou todo o processo desde o início e tomou todas as diligências junto do Ministério Público e do Instituto de Medicina Legal para saber o que realmente se tinha passado”, afirmou, acrescentando que após este incidente o município decidiu rescindir contrato com a empresa que prestava serviço no cemitério do Cartaxo e contratou outra. “Fizemos ainda a revisão do regulamento municipal do cemitério e substituímos todos os trabalhadores que estavam ao serviço do cemitério”, sublinhou o autarca.
Caso arrastou-se durante mais de três anos
A angústia da família de Vicente Vasconcelos começou no dia 3 de Abril de 2014 quando foram levantadas as ossadas que supostamente seriam de Levy Vasconcelos sem a presença de nenhum familiar, ao contrário do que estava acordado. “Em Junho de 2013 fui notificado pela Câmara do Cartaxo a dar-me conhecimento que as ossadas do meu pai seriam levantadas. Paguei pelo serviço que haveria de ser realizado e pedi para me avisarem do levantamento das ossadas porque queria assistir”, recordou a O MIRANTE em Fevereiro deste ano.
Nesse dia um conhecido ligou para Vicente Vasconcelos a informar que estavam a fazer o levantamento das ossadas. Quando lá chegou já não encontrou os restos mortais do pai. Foi aos serviços do município, onde fez uma reclamação escrita. “Depois desse episódio, a câmara municipal quis entregar-me umas ossadas que diziam pertencer ao meu pai mas não aceitei e exigi um exame de ADN”, contou a O MIRANTE.
Em Março de 2015 veio uma equipa do Instituto de Medicina Legal fazer uma perícia médica legal para identificação do cadáver. O relatório dizia que o cadáver em causa era de uma mulher. A Câmara do Cartaxo decidiu enviar este caso para o Ministério Público para apuramento de responsabilidades, tendo este determinado o arquivamento dos autos “face à insuficiência de indícios de conduta dolosa”.