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No mundo solidário e humano da Fundação Padre Tobias em Samora Correia
Animação. Umbelina, Graciete, Felicidade e Alda são alguns dos rostos do centro de dia

No mundo solidário e humano da Fundação Padre Tobias em Samora Correia

Centro de bem-estar social, creche e jardim-de-infância e lar e centro de dia. Pessoas que aprendem coisas novas quando já as tinham convencido que não tinham mais nada para aprender. Cidadãos que redescobrem o gosto pela vida depois de anos e anos de vida, ajudando e recebendo ajuda. Sorrisos que regressam a rostos que pensavam já não ser capazes de sorrir. Homens e mulheres cujo sofrimento e solidão são amenizados por mil e uma atenções e crianças que crescem em ambiente saudável e terno. É assim o universo da Fundação Padre Tobias que O MIRANTE visitou.

O Centro de Bem-Estar Social da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, divide-se entre as valências das crianças e dos idosos, onde todos são acompanhados por uma equipa que se esforça por tornar o seu dia-a-dia mais feliz.
Umbelina Caeiro, 77 anos, não sabia jogar dominó quando começou a frequentar o Centro de Dia da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia mas agora já sabe. Aprendeu com as amigas Graciete Belo, 67 anos, e Felicidade de Oliveira, 70 e com a supervisão da funcionária Alda Santos, que é motorista na instituição.
Alda aproveita as pausas da hora de almoço para se juntar às três utentes: “São as minhas princesas e esta é mais uma forma de lhes tornar os dias mais agradáveis”, explica antes de se apressar, sob pedido de Felicidade, a colocar mais uma peça.
Felicidade está no Centro de Dia há mais de uma década, depois de um AVC e uma trombose a terem debilitado. Para não estar sozinha em casa, porque o marido trabalha muitas horas, vai para a Fundação. Também beneficia do apoio do Gabinete de Apoio Domiciliário que a ajuda fornecendo-lhe refeições e tratando-lhe da roupa.
Também Umbelina frequenta o Centro por não querer estar sozinha em casa. É viúva e a filha mora em Lisboa e não pode fazer-lhe companhia mas agora não se sente só porque tem as amigas que fez no Centro, com as quais conversa e partilha as actividades que lhes ocupam as tardes.
Já Graciete entrou para o Centro há menos de um ano, depois de partir um pulso e de os filhos, preocupados por ela ficar sozinha em casa, já que também é viúva, a trazerem para a Fundação.
“Vou passando um mês em casa de cada um e durante o dia, como eles estão a trabalhar, venho para aqui”, conta Graciete que atravessou uma depressão graças às companheiras que sempre a incentivaram a sair e que algumas vezes saiam com ela. “Elas mostraram-me como enfrentar a vida e agora sinto-me bem”, afirma.
A conversa com O MIRANTE é interrompida pela chegada de uma das voluntárias no Centro de Dia que vem ajudar os utentes com as actividades de artes plásticas. As três senhoras despedem-se e seguem para uma das seis salas comuns do espaço do Lar onde funciona em simultâneo o Centro de Dia e onde estão várias mesas e cadeiras que depressa ficam cheias com cartolinas, tesouras, marcadores e outros materiais. Umbelina explica que estão a recortar e decorar os convites para a festa de Natal da Fundação, exibindo, orgulhosa, as árvores em cartolina de que está encarregue de fazer.
A motorista Alda Santos, que transporta os utentes entre as suas casas e o Centro de Dia mas que também as leva aos passeios organizados, resume aquilo que a motiva. “Hoje em dia toda a gente trabalha e não tem tempo para ficar em casa e tomar conta dos pais. Por isso, o mais que posso fazer é manter as pessoas bem-dispostas, brincar com elas, dar-lhes miminhos e aconchego porque já basta a solidão em casa”.

Do lado dos mais novos
Os meninos da creche e jardim-de-infância da Fundação Padre Tobias começam a chegar às 7h00 da manhã, quando abrem as portas. Nos primeiros tempos os mais novos ainda choram por terem de se separar dos pais, mas a pouco e pouco habituam-se aos colegas e às educadoras e o choro transforma-se na alegria de saberem que vão ter um dia cheio de diversão pela frente.
No edifício nº 2, que fica nas traseiras do Centro de Dia e Lar, há o Berçário com 10 bebés, a Sala de 1 ano onde estão este ano 14 meninos, a Sala dos 2 Anos com 18, a Sala dos 3/4 Anos com 25, e a Sala dos 5 Anos, ou Sala dos Finalistas, com mais 25 que para o ano vão passar para o 1º ano do Ensino Básico numa das escolas de Samora Correia ou arredores.
Na Sala dos 2 anos encontramos Ana Pederneira, 28 anos, Daniela Nobre, 23, e Virgínia Alves, 44. Normalmente, cada sala tem duas profissionais, mas como nesta há um menino com necessidades educativas especiais é precisa uma terceira pessoa, neste caso Daniela. Em Setembro, quando os pais o colocaram na creche, nem se conseguia sentar, mas agora já o faz e acompanha os outros meninos na maioria das actividades.
Os dias começam sempre com a canção do “Bom-Dia” e seguem-se pinturas, colagens e outras artes manuais. Também se ouve música e se contam histórias. Há ainda jogos com expressão motora. A sala é espaçosa, bem iluminada e extremamente colorida, um ambiente agradável para as crianças. Está dividida por áreas e estão identificadas com desenhos ou objectos que “ajudam os meninos a saberem onde arrumarem as coisas e onde encontrarem o que precisam”, explica Ana.
Acrescenta que as actividades têm sempre por base estímulos visuais e físicos que potenciam o desenvolvimento das crianças e que as preferidas são as que envolvem pinturas - “eles estão naquela idade em que adoram tinta e pintar com as mãos”, explica.
Também Paula Lopo, 51 anos, educadora da Sala dos 3/4 Anos, dá prioridade às actividades artísticas, ao yoga e à educação ambiental, começando a despertar a consciência para a reciclagem através da utilização de materiais que já foram usados noutros trabalhos.
Depois do almoço, as turmas da creche e jardim-de-infância voltam às salas e fazem a higiene, já que cada sala está equipada com casa de banho e zona de muda de fraldas. Chega então a hora da sesta, na qual só não participam os finalistas, que, aos cinco anos, já começam a ser habituados aos horários que vão encontrar no 1º ano do Ensino Básico.
Quando os mais novos das outras salas acordam, ainda há tempo para se ir brincar para o escorrega e baloiços no jardim exterior, onde o contacto com o ar livre é essencial para os mais novos.

As auxiliares da copa

Olga Santos, 36 anos, natural de Rio Maior, e Liliana Sobral, 32 anos, natural de Vila Franca de Xira, são duas das auxiliares que trabalham na copa e cozinha da creche e jardim-de-infância da Fundação Padre Tobias. São elas que preparam as refeições e limpam o edifício e mostraram a O MIRANTE a tabela, pendurada na porta do frigorífico, onde estão assinalados todos os meninos que têm alergias ou intolerâncias a certos alimentos ou que têm horários de refeições especiais. “Está aqui tudo apontado para que qualquer das colegas que passe por aqui saiba exactamente o que pode ou não pode dar a cada criança, nunca pode falhar”, alerta Olga.

“É difícil vermos, por vezes, pessoas novas com problemas de saúde muito graves”

Ana Lino guia O MIRANTE numa visita pelas quatro áreas em que está dividido o edifício do Lar e Centro de Dia da Fundação. As áreas do Lar estão todas extremamente limpas e bem arrumadas e o nível de cuidado estende-se a cada um dos quartos mas há uma grande diferença entre os seus ocupantes.
Uns têm mobilidade física completa e ainda têm a totalidade das faculdades mentais mas não têm família para lhes os apoiar em casa e não conseguem desempenhar sozinhos as tarefas básicas da alimentação e higiene. Há pessoas que precisam de maior atenção devido a doenças como Alzheimer, Parkinson, entre outras. Há ainda os que, por falta de rendimentos e de apoio familiar encontram ali um lugar.
Desengane-se quem julga que são apenas pessoas com mais de 65 anos que vivem no Lar Padre Tobias: “Temos pessoas a partir dos 40 anos, por terem alguma doença, como demências, Sindrome de Down, Paralisia Cerebral ou Esclerose Lateral Amiotrófica”, explica Ana Lino.
Passear pelos corredores impressiona e toca o coração de qualquer pessoa. Também toca o de Ana Lino, que sabe de cor o nome de cada um dos 68 utentes do Lar e que não esquece os que já foi perdendo ao longo do tempo. “Temos de lidar com esta realidadetodos os dias e temos de criar uma capa para não nos deixarmos impressionar por certas situações. É uma das grandes dificuldades que sentimos neste trabalho e seria bom contarmos com um psicólogo para nos dar apoio”, desabafa.
As rotinas no lar são rigorosamente cumpridas dia após dia. Há horários para as refeições, para a higiene, para as visitas aos utentes, para o convívio com os utentes do Centro de Dia nas salas comuns e para o descanso.
“Há que ter o mesmo carinho para quem ainda tem família e conhecidos e para quem está absolutamente sozinho”, refere a nossa guia.

Felicidade pode ser um penteado novo, a barba feita ou umas unhas pintadas

Esmeralda é esteticista no Lar e Centro de Dia. Não há pedido de penteado, de cor nas unhas e de estilo de barba que ela não atenda. Tem 55 anos e há 34 que está na casa, o que faz dela a funcionária mais antiga. Conhece cada os seus “clientes” e sabe sempre o qual a melhor forma de os atender.
Na parede do armário onde guarda alguns dos seus materiais de trabalho estão pregados quadros e mapas por onde se guia para saber o dia em que vai cortar a barba aos utentes da ala azul do Lar, em que vai fazer a manicure e pedicure às senhoras do Centro de Dia, em que vai cortar o cabelo às utentes da ala cor-de-rosa do Lar ou que vai depilar e tratar dos utentes do Centro de Dia.
“Os que conseguem vir pelo próprio pé, vêm aqui ao meu cabeleireiro, ou eu vou às salas ali fora. Mas depois vou aos quartos tratar dos doentes acamados que não podem levantar-se”, explica.
A esteticista entrou inicialmente para a Creche, onde esteve quatro anos e de lá passou para o edifício do Centro de Dia e mais tarde para o Lar. Também se cruzou a trabalhar e a ajudar familiares e conhecidos, como uma prima que faleceu recentemente aos 90 anos após estar poucos meses no Lar, mas defende que trata a família da mesma maneira que os outros doentes.
Esmeralda sempre viveu entre Samora Correia e o Porto Alto. Com o marido, Manuel Beja, hoje com 56 anos e pedreiro na Câmara de Benavente, teve três filhos: Silvana, 37 anos, Mafalda, 35, e Simão, 26. Silvana teve um problema de saúde após o parto complicado de um dos filhos que a impediu de continuar a viver sozinha e a fez regressar com os dois filhos a casa dos pais. Esmeralda ajuda a filha como pode mas confessa que nos dias mais complicados é no Lar e Centro de Dia Padre Tobias que recarrega as baterias para voltar de cabeça erguida para casa. “Gosto de fazer tudo aqui dentro, adoro estar aqui! Nunca tive problema nenhum com ninguém e até hoje esta casa nunca falhou comigo”.

No mundo solidário e humano da Fundação Padre Tobias em Samora Correia

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