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Antigo alimento para o gado inspira festival gastronómico em Bugalhos

Antigo alimento para o gado inspira festival gastronómico em Bugalhos

O chícharo foi durante muitos anos usado para dar ao gado e associado à alimentação dos mais pobres. Hoje tem lugar à mesa sem estigmas e até dá o nome a eventos como o que acontece no concelho de Alcanena. Um festival onde se podem provar diversas iguarias tendo por base essa leguminosa.

Há quem o coma com pão de milho regado com azeite e acompanhado com bacalhau assado e cebola crua. Há quem o utilize em queijadas, pastéis, bombons e gelados ou mesmo em licores. O chícharo sempre fez parte das refeições de quem vive em Bugalhos, concelho de Alcanena, não fosse esta uma terra situada na região situada no maciço calcário da Serra de Aire, local perfeito para cultivar esta leguminosa parecida com o grão e o feijão. Mas será que ainda é presença assídua à mesa de quem vive em Bugalhos? O MIRANTE foi tentar saber a resposta na oitava edição do Festival do Chícharo, que decorreu no fim de semana no pavilhão da freguesia.
Logo à entrada, sentado num banco de madeira a agarrar num cesto cheio de chícharos, encontramos Acácio Santos. “O chícharo é agora a carne dos ricos. Neste momento está quase a dois euros o quilo. Está muito caro”, afirma o reformado de 64 anos, dizendo que antigamente a leguminosa era usada sobretudo para alimentar os animais. Entretanto houve alguém que se lembrou de o confeccionar como o feijão e o grão, provou e gostou. “Por isso hoje comemos o famoso chícharo”, conclui.
Acácio confessa que de início não morreu de amores pela leguminosa. “A minha mãe costumava comprar mas eu nunca gostei, até porque ela costumava cozinhar o chícharo sempre com couves e era terrível”. Porque será, então, que o prato de chícharo com bacalhau, típico de Bugalhos, tem tantos apreciadores? O reformado não tem dúvidas: o segredo está na salsa, na cebola e no azeite. “É isso que dá o verdadeiro sabor ao prato”, admite, dizendo que tem de se comer algumas vezes para se aprender a gostar. Acácio conta que todos os anos, no Inverno, há um dia em que religiosamente faz uma patuscada de chícharo com bacalhau assado com os amigos.
A servir os pratos na cozinha do recinto, numa roda viva, está Maria Elisabete Miguel, 76 anos. Vive há 45 anos em Bugalhos e já há muito que come chícharo. Conta que, desde que o festival começou, sempre participou na organização. “O chícharo não fez parte da minha infância mas, desde que vim para cá, fez sempre parte das minhas refeições nesta época”. A residente em Bugalhos explica como é feito o famoso prato: “Primeiro é cozido o chícharo, depois mistura-se com o bacalhau já assado e, no fim, coloca-se salsa e rega-se com azeite”.
Ângela Correia é a prova de que os jovens também podem ser apreciadores da leguminosa. A jovem, que faz parte da organização, confessa que nunca tinha comido chícharo até há oito anos, altura em que foi ao festival e provou. “Como a minha família não estava ligada à agricultura, nunca comi lá em casa”, conta. Quanto ao sabor, não tem dúvidas: “Para mim aquilo é grão. A única coisa que não gosto são as queijadas de chícharo”, confessa a residente em Bugalhos, que só come chícharo durante o festival. “É quase uma tradição. É como o bolo-rei que só se come no Natal”.

Autarca criou gelado de chícharo

Foi há três anos que o presidente da Junta de Freguesia de Bugalhos, José Luís Ramos, que é muito guloso, decidiu experimentar fazer o gelado de chícharo, em conjunto com a esposa. Tantas vezes experimentou que conseguiu acertar na receita. Foi assim que nasceu o gelado de chícharo, único no país, lançado no último Festival do Chícharo. E porque o festival está sempre a inovar, este ano a novidade foi o licor de Bugalhos. Um produto que era para se chamar licor de chícharo, mas como a marca já existe, com patente registada com produção em Alvaiázere (que possui também um festival semelhante), ficou com esse nome.

130 quilos de chícharo em três dias

Pelo oitavo ano consecutivo, o Grupo Desportivo e Recreativo da Graça e a Junta de Freguesia de Bugalhos promoveram o Festival do Chícharo. Além da gastronomia típica da região, com destaque para os pratos de chícharo, houve também animação musical, prova de licores, artesanato e coleccionadores e trabalhos manuais. No total, foram consumidos 130 quilos de chícharo, 125 quilos de bacalhau e 250 litros de vinho.

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