
Pertencer à União Europeia não é a causa dos nossos males como alguns nos querem fazer crer
Como foi a sua juventude?
Vivi a minha juventude com o espectro da guerra colonial sempre presente. E isso marcou muito a forma como a minha geração viveu essa altura da vida. A ideia de ter uma vida pela frente em que todos os sonhos eram possíveis perdia sentido quando assistíamos ao que se passava com os nossos amigos e vizinhos alguns anos mais velhos do que nós e que iam para a guerra. Alguns não voltavam e outros voltavam com problemas para o resto das suas vidas.
E se voltasse a ter trinta anos?
Se voltasse a ter trinta anos, julgo que não alterava nada do que fiz. Nessa altura, tal como agora, voltaria a sentir saudades do futuro!
Qual foi a decisão mais importante que tomou por volta dos trinta anos?
A decisão mais importante que tomei foi ter voltado a estudar já com 35 anos. Candidatei-me aos então chamados exames “ad hoc” para ingressar no ensino superior, e entrei no ISLA que tinha acabado de abrir em Santarém, onde fiz a licenciatura em Informática de Gestão. Esta decisão deu-me oportunidades de realização profissional que de outra forma nunca teria tido.
O que é que falta fazer na região?
Já deveríamos ter sido capazes de afirmar a região, enquanto comunidade com identidade cultural e histórica, quer a nível nacional quer a nível internacional. Já perdemos muito tempo mas ainda é possível. Vamos a isso?
Lembra-se do que pensou quando foram feitas as grandes obras como pontes, auto-estradas, etc...
Perante alguns investimentos públicos feitos no início do século lembro-me de ter pensado que ainda iriam abrir um hospital ou uma escola do ensino superior na minha terra, que é Reguengo do Alviela e que agora tem 24 habitantes e há 30 anos tinha cerca de 200. Falando a sério, pensei que éramos um país do oito ou do oitenta. Estávamos a passar do centralismo em que era “Lisboa e o resto paisagem” para um regionalismo de “capelinha”, pequenino, de vistas curtas, para satisfazer clientelas que, como agora se está a ver, só nos podia trazer a este resultado.
Desde quando conhece O MIRANTE?
Conheço o Mirante desde sempre. O Mirante é o amigo com quem tomo café pelo menos uma vez por semana e que me conta as grandezas e misérias da minha terra.
Onde vivia há trinta anos? Como era a terra nessa altura?
Há trinta anos residia em Santarém. O centro histórico já estava a ficar deserto logo que chegava a noite mas ainda assim tinha (mais) vida.
E se não tivéssemos aderido à então CEE?
Se não tivéssemos aderido à CEE, hoje União Europeia, seríamos um país diferente para pior. Pertencer a este grande espaço de liberdade e de progresso não é a causa dos nossos males como alguns nos querem fazer crer.

Mais Notícias
Destaques

Hoje é dia de O MIRANTE
