Empresas poluidoras não têm lugar no concelho de Vila Franca de Xira
Moradores de Alhandra queixaram-se de cheiro “ácido”, boca seca e irritação ocular e apontam o dedo à fábrica da Cimpor, empresa que garante respeitar as normas ambientais. Presidente da câmara diz que é chegado o momento de convidar empresas poluidoras a sair do concelho.
As empresas que não respeitem as normas ambientais e, consecutivamente, causem prejuízos à saúde e bem-estar dos moradores não fazem falta no concelho de Vila Franca de Xira. A ideia foi defendida no início deste mês pelo presidente do município, Alberto Mesquita (PS), depois de novos relatos de um caso de poluição junto à fábrica de cimento da Cimpor em Alhandra.
Contactada por O MIRANTE, a empresa garante que exerce a sua actividade de acordo com a licença ambiental em “respeito absoluto pelos controlos ambientais aí fixados” e no “cumprimento rigoroso” da legislação aplicável, “utilizando medidas de minimização de emissões” definidas nas melhores técnicas disponíveis para o sector cimenteiro.
Numa das últimas reuniões públicas de câmara, onde o assunto foi abordado, o autarca declarou que na Cimpor, “desde que a administração deixou de ser portuguesa”, a situação “complicou-se”. Pode ser “coincidência”, diz Mesquita, mas “a verdade é que tem havido mais problemas do que no passado e um aparente aligeirar da manutenção”.
A empresa, recorde-se, foi comprada pelos brasileiros da Camargo Corrêa. “Estamos atentos e haverá um momento de avaliar se vale a pena ter empresas a laborar no concelho que não querem ter uma atitude responsável de manutenção. Essa é uma matéria que os ministérios da Economia e do Ambiente terão de analisar”, defendeu o autarca.
Garganta e boca seca, irritação ocular com lacrimejamento e um cheiro “ácido” foram alguns dos sintomas que vários moradores de Alhandra sentiram na manhã de 10 de Outubro, alegadamente na sequência de uma coluna de fumo vista a sair das torres do centro de produção da Cimpor. O município teve conhecimento do caso e reportou-o à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à Inspecção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT).
Fonte oficial da Cimpor nega esse episódio poluente: “A Cimpor controla as emissões das suas chaminés dos fornos em contínuo, através de analisadores existentes para o efeito, devidamente calibrados e verificados por entidades externas acreditadas, enviando os seus resultados para as entidades competentes”. E acrescenta: “A imagem da pluma de gases das chaminés é mais ou menos visível em função das condições de temperatura e humidade dos gases de exaustão e do ar, não se podendo estabelecer qualquer relação casuística entre os odores referidos e a mesma”. Contactada por O MIRANTE, a APA optou por manter-se em silêncio sobre o assunto.
Relatos dos moradores não são imaginários
“Sucedem-se os episódios de cariz ambiental em Alhandra. Temos relatos de habitantes de Alhandra que nessa manhã viram uma coluna de fumo sobre a Cimpor com um cheiro intenso que dificultava a respiração. Todos estes relatos não podem ter sido apenas provenientes da imaginação fértil de quem vive em Alhandra”, criticou Mário Calado, vereador da CDU no município, onde o problema foi também levantado na última semana.
Também o vereador Rui Perdigão (BE), morador daquela vila, diz que falta “uma fiscalização mais efectiva” para que estes problemas não se repitam e as empresas “não façam o que querem”. Vários moradores de Alhandra apontam o dedo a uma aparente “passividade” da APA no que toca à fiscalização e pedem um apertar do controlo. A própria câmara municipal já o pedira, mas sem efeitos aparentes.