Escola de Triatlo de Torres Novas é gerida pelos pais e já produz campeões
Em 2009 o atleta Paulo Antunes criou essa secção autónoma no Clube de Natação de Torres Novas. Hoje é técnico numa autêntica fábrica de títulos e talentos gerida pelos pais dos jovens atletas.
Paulo Antunes, ex-atleta de alta competição e campeão nacional de triatlo em juniores, em 1996, tinha um sonho - “marcar presença nos Jogos Olímpicos de 2004 em Atenas” - mas a tentativa frustrada fê-lo abandonar a carreira de atleta ao mais alto nível.
Dedicou-se aos estudos e concluiu o curso de educação física, sempre com a ambição de um dia fazer um projecto ligado ao triatlo em Torres Novas, a sua terra natal. Em 2009 fundou a Escola de Triatlo do Clube de Natação de Torres Novas, que actualmente conta com cerca de 60 atletas jovens e mais sete dezenas de atletas mais velhos, sendo o terceiro clube do país mais representado na Federação Portuguesa de Triatlo.
A secção de triatlo do clube é autónoma e gerida pelos pais dos atletas. O presidente da secção, Paulo Vieira, conta a O MIRANTE
que a figura de presidente não existe. “Há sim um grupo de pais que inventa eventos para gerar receitas para conseguir suprimir as despesas de deslocações para todo o país e até para o estrangeiro”, explica. Ultimamente têm havido uns apoios pontuais da parte do município, mas são sempre escassos para as despesas que vão surgindo, explica o dirigente.
Os resultados positivos foram aparecendo ao longo destes oito anos e neste momento o clube torrejano conta já com três atletas abrangidos pelo Estatuto de Praticante de Alto Rendimento. José Vieira e Ricardo Batista, ambos com 16 anos, viram renovado o estatuto para 2018. Já Joana Miranda, 16 anos, teve o estatuto em 2017 mas uma lesão impediu-a de treinar em pleno, pelo que não vai conseguir renovar esse estatuto no próximo ano.
O treinador Paulo Antunes refere que a evolução destes atletas tem sido passo a passo e que “o compromisso com o treino é grande”. Os atletas treinam duas vezes por dia. À quarta-feira têm a tarde livre na escola e treinam três vezes. Mesmo assim conseguem ter um aproveitamento escolar muito bom.
Dá para sair à noite mas não na véspera das provas
Apesar da carga de treino e das competições, os jovens triatletas dizem que conseguem ter tempo para se divertir. “Fazemos aquilo que os outros jovens da nossa idade fazem. Por vezes dá para sair à noite com os amigos, mas não nos dias anteriores às provas claro”, dizem.
No início a Escola de Triatlo era frequentada por 90 por cento de rapazes e as meninas foram começando a aparecer mais tarde. Mas Joana entrou logo no início, em 2009. “Entraram todos muito novos para a escola de triatlo. O Ricardo e o José ainda tiveram uma passagem pela natação”, explica Paulo Antunes.
Joana experimentou várias modalidades mas “achava tudo uma seca”. Foi o seu actual treinador, na altura professor de educação física na escola primária, que a incentivou e levou a experimentar o triatlo.
A jovem conta que o momento “mais feliz” até agora foi quando representou a selecção nacional numa competição em Espanha no Campeonato de Europa de Youth. “Aí foi o início de tudo. Quando fui chamada à selecção percebi que todo o trabalho que fiz valeu a pena”, conta.
Já os rapazes explicam que o que mais gostam na modalidade é o convívio. “Na natação era todo o dia dentro de água para nadar alguns metros. No triatlo é diferente, dá para nos divertirmos também, não é só competir”, dizem.
O orgulho em representar Portugal
Um dos objectivos de Paulo Antunes era colocar atletas do clube a representar o país e esse já foi conseguido. Ricardo foi 2º na Taça de Europa na Hungria. José e Ricardo foram medalhados na prova de equipas no Campeonato da Europa de Youth, na Lituânia.
O treinador diz que sempre teve a consciência de que estes atletas viriam a representar a selecção nacional. E, com isso, os clubes chamados grandes acabam por ver os resultados e podem tentar contratar os atletas, mas o treinador não está preocupado. “Se acontecer, cá estarei para continuar a treiná-los, porque isso já acontece com vários atletas de outros clubes. O mais importante é continuarem a ter resultados e continuarem a fazer aquilo que gostam”.
O sonho de todos os atletas é um dia estarem nuns Jogos Olímpicos. Um objectivo muito difícil, como Paulo Antunes bem sabe. “Exige muitos anos a trabalhar na modalidade a nível de alta competição. Se conseguirem será em 2024, porque em 2020 ainda são demasiado novos. Acredito que têm enorme potencial mas é preciso trabalhar. Como não consegui estar como atleta gostaria de estar como treinador”, diz.
“Zé, o gordinho que se fez campeão”
Paulo Antunes conta a O MIRANTE que quando o atleta José Vieira chegou ao clube era um miúdo gordinho e que não acreditava nas suas capacidades, tinha dois pés esquerdos para o futebol e no corta-mato escolar, numa prova de 1000 metros fazia 800 a andar. “Ao longo dos anos foi ganhando auto-confiança e hoje parece que passa fome, mas não passa porque come muito”, diz com humor.