Benavente não consegue atrair médicos e utentes queixam-se
Utentes e autarcas concentraram-se numa vigília junto ao Centro de Saúde de Benavente para apelar a mudanças que permitam resolver as crónicas falhas no sistema. No concelho há oito mil pessoas sem médico de família.
Gonçalo Ferreira, 76 anos, vive em Benavente e não tem médico de família há três anos. “Quando preciso de uma consulta já sei que vai levar pelo menos dois meses até a conseguir com o médico que calhar na altura”, diz. Foi operado ao coração há 14 anos e tem de ser visto anualmente por um médico a quem possa mostrar as análises frequentes que tem de fazer e a quem possa pedir que passe receita para a medicação diária que toma, porque caso contrário tem de suportar o custo total, que lhe fica demasiado caro.
O caso de Gonçalo Ferreira é exemplificativo dos transtornos resultantes da falta de clínicos no concelho Benavente, onde há cerca de oito mil utentes sem médico de família. A Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo abriu recentemente concurso para duas vagas para colocação de médicos em Benavente mas não houve interessados.
O actual panorama motivou mais uma vigília junto ao Centro de Saúde de Benavente na noite de 29 de Novembro, promovida pela Comissão de Utentes do Concelho de Benavente. A manifestação contou com a presença de membros do executivo municipal e foi composta na sua maioria por utentes que, mesmo tendo médico de família ou acesso a seguros de saúde e a hospitais privados, quiseram protestar pelos que não têm.
“O que se quer é que cada pessoa tenha um enfermeiro e médico de família atribuído no Centro de Saúde e que possa ser visto por ele e no serviço de urgências sempre que for preciso, porque se assim não for vai sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde e as urgências de outros hospitais para onde são encaminhados”, defendeu Domingos David, coordenador da Comissão de Utentes.
Outro dos casos que comprova a teoria é o de Albertina Fernandes, 71 anos, que esteve na manifestação acompanhada do irmão, Carlos Condeixa, e de amigas. Além de problemas cardíacos, Albertina é doente oncológica e precisa de ser acompanhada com regularidade mas está desde Agosto à espera de uma consulta e sabe que terá de esperar provavelmente até ao próximo ano.
Além de não haver médico de família disponível para consultas três dias por semana, também as urgências do Centro de Saúde não funcionam devidamente, segundo vários utentes, antes das 20h00. Quando Ana Maria Carvalho, 70 anos, asmática crónica, tem uma crise durante o dia e chama a ambulância, é-lhe dito de imediato que vai ser levada para o Hospital Vila Franca de Xira porque sabem que não será vista a tempo no Centro de Saúde de Benavente.
Médicos não concorrem às vagas disponíveis
A ARS de Lisboa e Vale do Tejo explicou a O MIRANTE que foram contratados no último concurso 154 médicos para os 15 Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) da sua área de abrangência. Para o ACES Estuário do Tejo, a que pertence Benavente, foram contratados 13 médicos. No total existiam 20 vagas, mas para sete delas não houve médicos a concorrer, nomeadamente para as duas abertas para Benavente.
A ARS acrescenta que a resposta aos cidadãos de Benavente está a ser reforçada com horas extraordinárias de médicos de outras unidades e com prestadores de serviços, o que a população se queixa de não se reflectir na realidade.
Autarca lamenta desinteresse dos médicos
O presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho (CDU), esclareceu que a falta de médicos se arrasta há vários anos e que chegou a haver clínicos interessados em preencher as vagas neste concurso, “já com casas arranjadas por nós e com os filhos matriculados cá nas escolas” e que, “de uma semana para a outra, mudaram de ideias e quando demos por eles já tinham ido embora”. O autarca adianta que o município continua a tentar conquistar novos médicos para preencherem os lugares vagos oferecendo-lhes boas condições para preferirem Benavente.