Dois jovens de Benavente e Vila Franca de Xira que fazem arte a saltar por cima de toiros
Vítor Rebelo e Joaquim Consolado são recortadores da “Arte Sem Capote”
Enfrentam os toiros com saltos com vara, de olhos vendados, de pernas atadas, em cima de bancos. Uma forma acrobática da tauromaquia em que o medo é substituído pela adrenalina, o risco e a emoção. É assim a arte do recorte e que fomos conhecer poucas horas antes do espectáculo na na praça de toiros de Santarém. Um espectáculo proporcionado pela escola de recortadores “Arte Sem Capote”, que tem dois jovens, de Vila Franca de Xira e de Benavente, e que à hora prevista foi cancelado devido às condições climatéricas.
“Esta é uma arte perigosa e não queremos colocar a nossa vida em risco”, confessa Vítor Rebelo. Para o jovem de 22 anos, que já foi forcado seis anos nos Amadores de Vila Franca de Xira, é muito importante continuar-se a chamar gente nova para esta arte e para a tauromaquia. “Não queremos que a emoção de estar na arena acabe e nem que a cultura da terra morra”, admite o recortador de Vila Franca de Xira.
Vítor enfrentou pela primeira vez um toiro aos 15 anos de idade. Diz que herdou a paixão do pai, que fez parte do grupo de forcados. Depois a audácia e a bravura ganhou-a com o treino e a dedicação. “A minha especialidade é o salto do anjo, um voo por cima do toiro de braços abertos que termina com uma cambalhota. Não é qualquer pessoa que vai e salta assim por cima de um toiro”. Para esta arte é preciso haver sorte e Vítor acredita que os amuletos ajudam a chamá-la. Tem vários na sua mala que o acompanha para os espectáculos, como um crucifixo que comprou numa das terras em que actuou.
A trabalhar há alguns anos numa coudelaria na sua terra, o jovem já tem no corpo algumas marcas da arte arriscada. “Já tive alguns inchaços, ruturas e já parti uma perna, mas nada de grave”, conta. Vítor Rebelo compara a ligação com o toiro a uma namorada: “O toiro é como uma namorada dá dá, não dá não dá”. “Se nos dermos bem corre tudo bem. Se nos dermos mal o resultado está à vista”.
Do estudo para a arena
Joaquim Consolado, de 26 anos e a trabalhar numa fábrica de plástico em Benavente, acredita que o segredo para se ser um bom recortador está no trabalho de casa e na experiência que se ganha a lidar com os toiros. “Tal como no futebol temos de conhecer a equipa adversária, aqui também temos de conhecer o toiro que vamos enfrentar”, explica.
Apaixonado desde pequeno pelo gado bravo, o jovem confessa, depois de muitos anos como forcado da Tertúlia Tauromáquica do Montijo, dos Forcados de Salvaterra de Magos e dos Forcados do Ribatejo, que sente medo de enfrentar um toiro, pois nunca se sabe o que se vai encontrar. Foi há ano e meio que Joaquim Consolado se estreou na arte de recortador. Sem ainda arriscar muitos em saltos, o jovem de Benavente conta que os treinos com a escola de recortadores costuma ser uma ou duas vezes por mês consoante a disponibilidade de todos. Já a preparação física e psicológica, essa tem de ser diária. “Quando se vai de caras a um toiro de 600 quilos tem de se estar preparado com o corpo e a mente”, conta.