Desopilante Manuel Serra d’Aire
Perguntas no teu último escrito o que penso da tomatada prevista para Almeirim? E eu respondo-te que somos uns macacos de imitação, ainda por cima com mau gosto... Porque imitar espanhóis não pode dar bons resultados. Se querem lançar um evento que atraia as atenções (coisa fácil) e que seja original (coisa mais complicada), aproveitando os produtos da região, então em vez de tomates lancem melões ou melancias. Aí é que eu queria ver quem tinha tomates para participar...
Folgo em saber que sobreviveste à onda de calor que assolou o nosso Ribatejo no início de Agosto, engrossando o êxodo de refugiados que rumou ao litoral para fugir à fornalha. Foi a malta a fugir para o mar e o país real a ser invadido pelos jornalistas de Lisboa que vieram ver como é que os indígenas sobrevivem ao braseiro sem climatização. Cá pelo Ribatejo foi um fartote de reportagens, em Coruche, no Entroncamento, em Constância e por aí fora.
Os pobres estagiários vindos da capital esperavam encontrar o drama, a tragédia, o horror e bem tentaram puxar pelos nativos, mas não tiveram grande saída. É que, afinal, parece que já é normal fazer calor em Agosto no Ribatejo. E a malta já está habituada à fornalha e também a enfrentar repórteres com perguntas da treta.
Por falar em calor, depois da moda das rotundas chegou a moda dos crematórios. Num ápice, três municípios da região, Almeirim, Entroncamento e Santarém, têm em marcha processos para a construção de incineradoras de cadáveres. Nestas coisas, desconfio sempre da fome que redunda em fartura. Somos o povo do oito ou oitenta, que passa da mais desvairada euforia para a mais profunda depressão num fósforo e vice-versa. Vamos ver se há clientela para tanto forno. Pelo sim pelo não, aconselhava os investidores a deixarem em aberto a possibilidade de adaptar os crematórios para assar leitões e frangos. Nestas coisas deve haver sempre um Plano B.
Razão tem aquele senhor da zona de Santarém, fabricante de campas e outros artefactos em pedra para cemitérios, que diz que os crematórios lhe estão a dar cabo do negócio. Não tarda têm o ofício feito em cinzas, como aconteceu aos carrascos com a abolição da pena de morte, por exemplo.
Já que falei em modas, li algures que provavelmente nem na Idade Média se realizaram tantas feiras medievais como actualmente (são quase tantas como os chefs de cozinha e os DJs). O registo era irónico mas também certeiro porque concelho que se preze e queira estar em linha com as tendências actuais tem que regressar à idade das trevas e recriar os maravilhosos tempos da Peste Negra, da Santa Inquisição, do Feudalismo e outros avanços civilizacionais que caracterizaram essa época. Afinal de contas, a Idade Média é tão cool... (como vês também já me actualizei e passei a usar expressões em inglês - que conferem uma certa aura cosmopolita mesmo a quem nunca viajou para lá de Badajoz - pois não quero que a rapaziada me chame bota de elástico e cota caduco).
Adeus e até ao meu regresso!
Serafim das Neves