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Andrea Verdugo: a cantora que actua descalça
Andrea Verdugo em concerto acústico no Parque Urbano da Flamenga em Vialonga

Andrea Verdugo: a cantora que actua descalça

Ex-vocalista dos 4Folks quer voar agora a solo. Cantora considera-se impulsiva, teimosa e apaixonada e reconhece que gosta de ser irreverente.

Antes de se juntar aos 4Folks, Andrea Verdugo já cantava por brincadeira, especialmente em karaokes, porque à frente da família e dos amigos era mais tímida e tinha vergonha. Hoje, se a timidez resiste, consegue escondê-la bem, pois enche o palco cada vez que o pisa. Fê-lo no programa de televisão The Voice Portugal, no qual chegou à semifinal, com os 4Folks no concurso de bandas EDP Live Bands, em 2015, com o grupo na final juntamente com outras seis bandas escolhidas pelo público, e fá-lo sempre que pisa qualquer palco.
Quando canta tem de estar descalça, uma espécie de superstição, porque sente que o calçado a constrange, e nunca se esquece de dar um abraço a todos os músicos antes de iniciar o espectáculo. Já foi várias vezes assediada por elementos do público - afinal faz parte da profissão ter de lidar com alguns destes episódios menos agradáveis - mas como os ignora, acabaram por não ter consequências de maior gravidade.
Do passado, quando ainda eram 4Folks, Andrea lembra com um sorriso: “Fazer música era a coisa mais fixe que fazíamos nessa altura”. Às vezes ficavam até de manhã e viam o sol nascer ao som da música que tocavam ou simplesmente a ouvir outras músicas. Foram tempos de experiências em que tocavam covers (músicas não originais, de outros músicos) e que mostravam ao público no Voltar Café, que nessa altura recebia actuações ao vivo de músicos locais e era o local onde a juventude vilafranquense se juntava. Só mais tarde passaram a compor as próprias músicas, com a entrada e influência de João Serra que veio substituir o primeiro guitarrista Filipe Faria.
A vocalista, que trabalha em cenografia e guarda-roupa para teatro, televisão e cinema, confessa que nunca estudou música mas que hoje sente necessidade de aprender, tanto para preservar a voz, quanto para poder ser mais criativa na composição. Diz que João Serra, mais entendido nesta área, tem sido quase como o seu tradutor porque o facto de não ter muita formação musical a impede de se expressar da mesma forma que os colegas.
“Tenho a noção de que tenho capacidades e que a música faz parte de mim, mas também tenho a consciência de que a história do dom, ou da naturalidade, se esgota muito rapidamente quando não se sabe utilizar essa capacidade. E tenho a perfeita noção de que não sei utilizar as minhas capacidades na sua totalidade”, explica a cantora de vinte e cinco anos.
Força na expressão e energia é o que não falta à jovem cantora, que se caracteriza como impulsiva, teimosa e apaixonada, esta última característica que se reflecte nas suas actuações em palco. Por isso, faz-lhe confusão, na geração que segue a sua, haver uma certa frivolidade no modo como se encaram as coisas, como se nada interessasse realmente. “Não há muita estima pelo que se tem hoje. Até no modo como uma pessoa se relaciona com o outro, há muito mais reservas na entrega, porque há um medo que inibe as pessoas de se entregarem e de viverem os momentos na sua totalidade”, acrescenta.
Andrea Verdugo vive com a avó, em Alhandra, tem uma irmã de quase três anos e nota algumas diferenças entre o tempo da sua infância e o da irmã. Em criança brincou na rua, jogou à apanhada e esfolou os joelhos, o que lhe deu uma percepção do mundo diferente da que nota nas gerações mais novas que vivem tudo muito rápido, muita agarradas às novas tecnologias e num jogo de aparências.
O facto de ser uma sonhadora fá-la ter esperança de que, no futuro, se dê uma saturação deste modo de vida. “Acredito que a geração da minha irmã já viva a saturação deste boom. A minha geração ainda vive um bocado na gestão dos valores antigos (daquilo que aprendemos com os pais e com os avós) com a realidade actual e o que nos rodeiar. Isto de vivermos o que o momento nos dá é uma coisa muito rara. Ainda tenho uma luta muito grande de mim para comigo de que «preciso viver as coisas»”, confessa.
A sua imagem original e irreverente, que faz parte da sua forma de expressão e é influenciada pela formação como figurinista, juntamente com o facto de ser a vocalista da banda, sempre a colocou na posição de líder. Andrea tentou contrariar um pouco essa tendência, porque via sempre o grupo como um todo.
Hoje, tem consciência de que as pessoas se relacionam menos com uma banda do que com uma pessoa e uma personalidade, por isso avançou para uma carreira a solo (mas mantendo os mesmo músicos). Quer que a banda chegue ao maior número de pessoas e, como é teimosa, diz que há-de lá chegar. Sabe que para deixar as pessoas entrarem no seu mundo tem que estar confiante e confortável com essa exposição pública, por isso está a trabalhar muito, já que ter ido à televisão não foi uma coisa que a tivesse deixado muito à vontade.
A teimosia e persistência levaram o grupo a actuar várias vezes no icónico bar Tokyo, no Cais do Sodré, em Lisboa, onde já se deram a conhecer grandes músicos. Andrea esteve também recentemente na Holanda a participar no Q. Art Festival, no qual cantou em português.
Gosta de ouvir soul, blues e rock e considera-se uma cinéfila, gostando tanto de uma boa comédia romântica como de um drama ou de um bom documentário. Lê muito, também pela sua formação em teatro, mas não é adepta de romances, preferindo ficção científica ou textos dramáticos. A tauromaquia não faz as suas delícias mas respeita as tradições e festeja o Colete Encarnado com os amigos.

4Folks, Grifo e Andrea

Andrea é a única mulher dos “quatro da vida airada”, como qualificou o grupo de amigos que deu origem aos Grifo - os 4Folks. A cantora de Alhandra, de cabelo curto, muito loiro e espetado, cheia de tatuagens, de voz possante e ar doce e rebelde, consciente de que é a imagem da banda, deu-lhe agora o nome. O grupo musical de Vila Franca de Xira, Grifo, deixou de existir com a recente morte do teclista da banda, mas nasceu o grupo de Andrea com os elementos restantes dos Grifo. Podia chamar-se “Andrea Verdugo”, mas a cantora diz que basta um nome esquisito e por isso ficou só “Andrea”.
No início da sua vida ligada à música, muitos foram os dias e noites passados com os amigos João Serra, Cristiano Pereira e Ricardo Serra no “estúdio” da altura, a carrinha de Cristiano - teclista dos Grifo que morreu num trágico acidente de mota, no dia 6 de Junho – ou no anexo da casa do irmão deste, cuja entrada era feita a partir de um alçapão, onde o bombo da bateria passava à conta, apenas numa posição milimetricamente escolhida. Hoje, têm o estúdio numa sala alugada no Ateneu Artístico Vilafranquense, onde ensaiam, compõem novas músicas e se juntam.
Fecharam a Era dos Grifo com o tema inédito “Vai-Vem”, composto ainda com Cristiano Pereira e a ele dedicado num último episódio da série “Sábados na carrinha”, lançado no Facebook.

Andrea Verdugo: a cantora que actua descalça

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