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Arguto Manuel Serra d’Aire

Confesso que sinto nostalgia do ambiente de arraial que se vivia nas comemorações do Dia Europeu Sem Carros em cidades e vilas desta região sempre que se chegava a essa data emblemática que era o dia 22 de Setembro. Era ver quem tinha mais imaginação e ideias estrambólicas para celebrar a efeméride. Valia de tudo, desde cortar ao trânsito ruas, becos e avenidas, até às carroças puxadas por asnos e cavalos a passear pelo centro de localidades onde habitualmente o carro era rei. Havia muitas bicicletas, que misteriosamente desapareciam de cena no resto do ano, e as ruas recebiam sessões de fitness, a antepassada da hoje omnipresente e licrada zumba.
Este ano, as celebrações foram de uma pobreza franciscana, em qualidade e em quantidade, mas percebe-se facilmente porquê. Ao preço a que estão os combustíveis, a partir do meio do mês a maior parte da malta passa a olhar para o carro como se olha para aquele fato ou vestido que só se usa em ocasiões especiais, como casamentos, funerais e tomadas de posse. E os nossos autarcas, que a sabem toda, lá chegaram à conclusão que não vale a pena estar a atasanar a vida aos automobilistas com essas minudências, pois já bem lhes basta terem que andar a contar os cêntimos para a ‘gasosa’. Para quê proibir os cidadãos de usar o carro se eles já se sentem inibidos de os usar?
A Câmara de Santarém mandou fazer um estudo para monitorizar a qualidade do ar junto a escolas e principais vias de acesso às mesmas, para perceber as diferenças dos registos entre os períodos de aulas e a época de férias escolares. E, como se previa, há um aumento substancial dos valores de gases nocivos no ar quando há aulas. Não por causa das substâncias que se fumam nas imediações dos estabelecimentos de ensino mas por causa dos papás e mamãs que fazem questão de entregar os meninos e meninas à porta das escolas. Mesmo que já sejam mancebos com idade para ir à tropa ou donzelas casadoiras.
Não sou saudosista dos tempos em que muita gente para estudar tinha que palmilhar a penates alguns quilómetros até chegar à escola e em que a maior parte dos papás não tinham carro nem havia transportes escolares. Mas acho um disparate esta superprotecção que deixa a rapaziada enfiada em redomas quase até aos 30 anos, quando não é mais.
Além disso, era no caminho para a escola, ou no regresso a casa, sem pais ou professores por perto, que se aprendiam grandes lições que ficam na memória para a vida toda e que não estão nos programas das disciplinas que se ensinam na escola. Muitos dos putos de hoje já nem esse espaço de liberdade têm, entalados que estão entre os pais, as aulas, as explicações, e mais o desporto, a música, o inglês e o diabo a sete... Valha o São Telemóvel que os amansa e distrai. Assim não atormentam os pais com rebeldias inconsequentes nem pensam em mudar o (seu pequeno) mundo, uma espécie de bandeiras para qualquer jovem que se prezasse e quisesse afirmar-se na tribo há umas décadas atrás. E a verdade é que foram essas gerações de idealistas e crentes em utopias que foram fabricando o mundo como ele é hoje. Por isso não se queixem...
Um saravá do
Serafim das Neves

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