Tesoureiro da câmara e ex-autarca de Coruche acusados de esquema com jogadores ilegais
Ministério Público, que acusa também ex-presidente do Coruchense e dois angariadores de jogadores, diz que clube era usado para obtenção de proveitos económicos, à custa da vulnerabilidade dos futebolistas estrangeiros. Tesoureiro da câmara e do clube era figura central do esquema e ex-presidente da câmara e presidente do Coruchense, Dionísio Mendes, foi o que mais jogadores ilegais recrutou.
O ex-presidente da Câmara de Coruche, o tesoureiro da autarquia e o ex-presidente do Grupo Desportivo “O Coruchense”, estão acusados de angariação de mão-de-obra ilegal, na sequência de uma investigação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que concluiu que o clube era uma plataforma para a introdução de jogadores estrangeiros em Portugal. No processo que se encontra em fase de instrução criminal, pedida pelos arguidos, estão ainda acusados do mesmo crime um fiscal dos SMAS de Vila Franca de Xira e um empresário que angariavam os jogadores.
A situação começou no mandato de Ricardo Santos à frente do clube, que terminou em Julho de 2015, e intensificou-se quando o ex-presidente da câmara, o socialista Dionísio Mendes, assumiu a presidência do Coruchense. Figura central nos dois momentos é Carlos Neves, tesoureiro da câmara municipal e do clube e, segundo o SEF, a pessoa que tinha autonomia financeira para gerir o clube e era quem tratava da vinda dos estrangeiros através de contactos com o funcionário dos SMAS, Vasco Antão.
Na altura de Ricardo Santos entraram no clube dois futebolistas brasileiros sem visto de trabalho e no tempo de Dionísio Mendes, actual administrador da empresa pública intermunicipal Ecolezíria, entraram cinco futebolistas, angariados pelo empresário Carlos Silva, de países como Brasil, Senegal, Guiné e Nigéria. O tesoureiro, que também era director desportivo do Coruchense, foi também, segundo o Ministério Público, quem cedeu uma habitação na Estrada da Lamarosa, em Coruche, para acolher os jogadores e que era paga por Vasco Antão.
O relatório de investigação do SEF de Santarém, que serviu de base para a acusação do Ministério Público, diz taxativamente que o Coruchense foi usado de forma reiterada para introduzir no mercado de trabalho em Portugal estrangeiros que não tinham autorização de residência nem visto adequado. Refere ainda que numa primeira fase os responsáveis por esta situação foram Neves e Antão, mas que foi com Dionísio Mendes que o clube procedeu ao acolhimento de mais estrangeiros em situação irregular.
Segundo o processo que está no Tribunal de Santarém, havia neste esquema uma intenção lucrativa de beneficiarem com a fragilidade dos jogadores. A acusação é ainda mais peremptória ao afirmar que os arguidos mantinham os estrangeiros em situação ilegal para os manter vulneráveis e para não gastarem dinheiro com o processo de legalização dos jogadores. A teoria do Ministério Público era de que os arguidos pretendiam imputar esses custos aos clubes que viessem a comprar os “passes” dos jogadores. E, desta forma, obterem à custa destes proveitos económicos.
O crime de angariação de mão-de-obra ilegal de forma reiterada é punido com prisão entre dois e cinco anos.