Varredores da Póvoa de Santa Iria com ordens para remover comida para animais
Alimentos são deixados pelos moradores na via pública à revelia da lei
Os varredores da Junta da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa têm ordens para retirar e deitar no lixo todos os recipientes deixados nas ruas pelos moradores com comida para os animais abandonados. A medida tem causado polémica e dividido os residentes: de um lado há quem aplauda a medida por acreditar que está em causa a higiene e salubridade pública; e do outro quem entenda que os animais estão a ser prejudicados.
O caso veio a lume na última semana depois de uma moradora do bairro dos Caniços, na Póvoa, ter criticado o facto de os empregados da junta terem removido os recipientes com água e comida que os moradores usavam para alimentar uma colónia de gatos existentes nas proximidades da Associação Popular de Apoio à Criança.
“Os bichos estão por sua conta e são muito meiguinhos, o que estão a fazer é uma crueldade e uma desumanidade porque as pessoas daqui gostavam de alimentar os animais. Há até pessoas, como o senhor Armindo, que vão ao veterinário com eles sempre que precisam”, condena Afonso Almeida, residente.
A verdade é que muitos moradores simpatizam com o acto de alimentar os animais de rua mas descartam a responsabilidade de os adoptar e levar para suas casas. No concelho de Vila Franca de Xira, o Regulamento Municipal de Espaços Exteriores proíbe, desde 2013, que os moradores alimentem os animais errantes e há coimas pesadas para quem desobedeça. Mas até hoje ninguém foi apanhado em flagrante nem multado.
Autarca adoptou três gatos
Jorge Ribeiro (PS), presidente da Junta da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, confirma que os varredores têm instruções para remover os alimentadores e comida que encontrem nas ruas. “Não estamos a tirar por tirar nem para prejudicar os animais. O que está em causa é a salubridade e higiene urbana. A comida nas ruas, além de proibida, não alimenta só os gatos, alimenta baratas, ratos e outras pragas”, lamenta.
O autarca tem três gatos em casa que resgatou das ruas e por isso diz que também cabe aos moradores darem a sua ajuda para que a cidade se torne mais limpa e amiga dos animais. “Existe um programa municipal chamado CED (ver caixa) que ajuda a identificar as colónias e dar mais qualidade de vida aos animais. Não é a alimentação selvagem que resolve o problema e é preciso conseguir passar essa mensagem”, apela.
Programa apoia animais abandonados
Em Fevereiro de 2016 o município de Vila Franca de Xira assinou um protocolo com a associação Animais de Rua visando a criação do projecto CED – Captura, Esterilização e Devolução dos animais ao seu meio ambiente. O projecto visa controlar as colónias de gatos abandonados e selvagens, ou seja, não dóceis o suficiente para serem adoptados. Depois do alerta dos moradores para a existência de uma colónia, o processo envolve a captura dos gatos, esterilização, corte na orelha esquerda para fins de identificação, desparasitação e, por fim, a devolução do animal ao seu território de origem. A associação explica que “sempre que possível” os animais dóceis o suficiente serão encaminhados para adopção.
“O número de gatos abandonados que existem no nosso concelho não está contabilizado. Tem sido difícil de fazer ver às pessoas que não devem alimentar os animais de rua. Esta associação vai fazer também um trabalho muito importante de educação junto das pessoas que os alimentam, porque isso causa muitas vezes problemas de insalubridade, como a comida cheirar mal, por exemplo”, lembrou na altura a vereadora Maria de Fátima Antunes. O município explica que desde o início do programa já foram intervencionadas 30 colónias no concelho, representando mais de 300 animais esterilizados.