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Última Página: O autarca medroso da Chamusca e os outros

Paulo Queimado é presidente de uma associação de municípios ribatejanos que tem medo dos projectos com financiamento europeu.

Os autarcas da região ribatejana entregaram ao presidente da Câmara da Chamusca, Paulo Queimado, a presidência de uma associação que entre outras competências deve gerir a Colónia Balnear da Nazaré. Há muito tempo que ouço falar do assunto porque havia para aquele espaço um projecto de cerca de 18 milhões de euros, financiado em grande parte pela Comunidade Europeia que, entretanto, de ano para ano, foi sendo reduzido e sem qualquer financiamento. Resumindo: Paulo Queimado ficou tão assustado com o lugar que lhe ofereceram, e as responsabilidades que assumiu, que reduziu um projecto de investimento de muitos milhões a coisa nenhuma. Quem conhece Paulo Queimado sabe que ele é fraca roupa; mas os autarcas seus parceiros de associação, que lhe entregaram tamanha responsabilidade, dormem descansados e limitam-se a rir do inábil político da Chamusca? E não sentem vergonha do fracasso? É assim que querem meter a região no mapa? Estamos bem entregues sim senhores.

Não há português que se preze que não ache que anda a ser escutado pela Polícia Judiciaria (PJ). Desde políticos a militares, jornalistas e médicos, empregados públicos e taxistas, todos as pessoas que se acham importantes, e que falam com pessoas importantes, têm medo e gostam de manifestar o receio de que alguém os anda a escutar. Portugal tem 10 milhões de habitantes. Pelas minhas contas, e tendo em conta o número de pessoas que ouço falarem do assunto, pelo menos 5 milhões de portugueses podem estar sob escuta da PJ. Barulhos de fundo e vozes a sobreporem-se durante as chamadas são as interferências mais frequentes que nos fazem crer que estamos a ser escutados. Só quem não conhece a realidade do país, e da PJ, pode divagar e estragar o sono com este assunto.

O exercício da profissão ensinou-me a perceber certas realidades e a dominar certos receios. Confesso que nunca me senti escutado mas já fui protagonista de algumas situações caricatas; uma delas com um amigo de longa data que me ensinou, com conhecimento de causa, como eu podia saber se o meu aparelho estava sob escuta. O dele estava, segundo tentou provar. Soube mais tarde, por outro amigo igualmente sabichão, que aquela consulta ao meu aparelho teria servido para ele accionar uma escuta em proveito próprio. Ainda hoje acho graça à possibilidade de ser escutado; só posso fazer pessoas felizes porque os meus telefonemas regra geral são bem dispostos e bem servidos de palavras chulas.

Um polícia de quem fui amigo disse-me um dia que sabia a que horas eu chegava ao jornal e a que horas saía. A intenção parecia ser afectuosa mas mais tarde vim a saber que só podia ser maldosa. Ainda hoje me rio das intenções porque eu sempre dormi com armas sofisticadas à cabeceira da cama que são os meus sonhos azuis. Um outro amigo ensinou-me que a maneira mais engenhosa de saber os segredos de alguém não é escutando os telefonemas mas vasculhando o caixote do lixo no final do dia de trabalho. O segredo é encontrar quem tenha acesso ao caixote do lixo. Contou-me outras ainda mais engenhosas, que mais tarde encontrei nos livros de escritores como John le Carré, o autor de A Casa da Rússia. Foram ensinamentos que me ajudaram a conhecer as pessoas e nunca serviram ou hão-de servir para trabalhar. JAE

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