José Júlio inaugurou o seu busto em Vila Franca de Xira
A entrada do mercado municipal da cidade ostenta agora uma estátua do matador de touros.
Não são muitos os homens distinguidos com uma estátua e menos ainda são os que têm a oportunidade de assistir à sua inauguração. O antigo matador de touros José Júlio é, desde sábado, 2 de Fevereiro, uma dessas excepções. Aos 84 anos, foi homenageado em Vila Franca de Xira com uma peça escultórica que o vai perpetuar na cidade que o viu nascer. A iniciativa resulta da vontade de um grupo de aficionados, que o município tornou possível.
O busto, da autoria do escultor espanhol Alberto Germán foi inaugurado perante muitos autarcas, aficionados e ilustres figuras da tauromaquia nacional. José Júlio, acompanhado pela sua esposa, fez o percurso desde a praça do município até ao mercado ao som de pasodoble executado pela banda do Ateneu Artístico Vilafranquense. De olhos postos no busto, referiu-se ao momento como “um desejo que esperava ver tornado realidade”.
O mestre da arena, que cumpre em Outubro 60 anos de alternativa como matador de touros, não perdeu o sentido de humor, apesar de a emoção lhe turvar os olhos límpidos. “Dizia para mim um dia destes: um dia vou a caminho do cemitério e não fica nada escrito”, confessou perante a plateia de admiradores. Sobre o busto que faz jus à fortuna do homem que nasceu em Vila Franca e se fez toureiro na Golegã, o próprio conta a história: “Recordo-me que neste momento estou com um ar azedo. É o momento em que a bílis sobe pelas goelas acima porque se aproximava o patas negras [toiro], mas sem perder o ar sereno e altivo”, conta.
Uma lenda viva
O presidente da câmara municipal, Alberto Mesquita, referiu que o busto nasceu da vontade de um grupo de pessoas a que a autarquia se quis associar. O autarca teceu largos elogios ao matador de touros, que considera “uma figura da terra e de destaque da tauromaquia nacional e internacional”.
No seu discurso fez menção à longa carreira de José Júlio como toureiro, que viveu momentos marcantes e expressivos, demonstrativos da sua total dedicação à profissão e à festa brava, evidenciando o seu contributo na formação de jovens na Escola de Toureio José Falcão. Apesar dos grandes feitos do toureiro, para Alberto Mesquita o que mais sobressai são os valores do homem que a todos soube cativar pela sua forma de ser e estar.
Também João Santos, presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, evocou José Júlio como “uma lenda viva” que leva o nome do concelho pelo mundo. “Vila Franca de Xira não se esqueceu de José Júlio”, disse, referindo que é algo que só acontece àqueles que são especiais e merecedores dessa distinção.
A ideia de criação de um monumento de homenagem ao matador de touros foi desenvolvida por uma comissão formada por um grupo de aficionados formado por Luís Capucha, João Conceição, Osvaldo Falcão, Francisco Pereira e António José Matos. “Uma homenagem em vida que julgamos ter mais sabor”, feita a um homem cuja “imagem se confunde com a de Vila Franca de Xira”, referiu Luís Capucha.
Cinquenta anos a tourear
José Júlio Venâncio Antunes, filho do bandarilheiro Júlio Antunes e sobrinho do forcado Venâncio, fez-se toureiro, entre “treinos e touradas clandestinas, antes da nossa família saber das ganas do rapaz para a arte”, escreve o seu primo e escritor Alves Redol, em “Sombra e Sangue”. Emergiu nas arenas de Portugal e Espanha em finais da década de 50, conquistando a sua alternativa em Saragoça, a 11 de Outubro de 1959. Durante 50 anos manteve-se no activo, sempre de traje aprumado arrebatando plateias de aficionados, com o seu baile de mestria em frente ao toiro.