A cirurgia é um acto específico mas o seguimento de um paciente é um processo
Martin Alfio Lorenzetti é médico neurocirurgião e dá consultas no Entroncamento e em Abrantes.
Martin Alfio Lorenzetti, 42 anos, é médico neurocirurgião, natural de Milão, Itália. Chegou a Portugal há sete anos e integrou a equipa de Lobo Antunes no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde permaneceu até há cerca de três meses. Agora dedica-se em exclusivo às consultas em clínicas privadas como a Pure Clinic, no Entroncamento, ou a Domus Salutem, em Abrantes. “Uma forma de me dedicar com mais tempo e qualidade ao que realmente gosto de fazer: neurocirurgia ao nível da coluna vertebral”, revela o médico que se diz movido pelo relacionamento com o paciente.
Apesar de ter nascido e crescido em Milão, Martin confessa que sempre quis sair dessa cidade demasiado industrial. “Sempre tive o desejo de mudar. Gosto de mudar de contextos geográficos, culturais, não tive qualquer problema de integração em Portugal, nem mesmo com a língua”, confessa o médico, admitindo que de início falava italiano com sotaque português, mas nunca teve qualquer reclamação dos pacientes.
Apesar da fácil integração, Martin lembra que começar do zero num país diferente foi difícil. “Cheguei e comecei a trabalhar num ritmo como se voltasse a ser interno. Em Itália já era médico especialista há três anos. Trabalhei, mas recebi em troca a possibilidade de fazer o que queria fazer e de crescer em temas como a cirurgia craniana”, refere Martin reforçando que houve meritocracia “uma coisa que já não se vê em Itália”.
Sendo médico cirurgião, responsável por zonas tão sensíveis como o cérebro e a coluna vertebral, O MIRANTE quis saber como se prepara um paciente para uma operação delicada. Martin diz que é médico, mas acima de tudo é um ser humano. “O importante é criar empatia com o paciente”, refere. “Na doença degenerativa da coluna o doente chega depois de passar por um processo onde já experimentou fisioterapia e medicação e sabe que nada deu resultado, assim encara a operação como um último recurso para recuperar a sua vida normal”.
A medicina não é matemática e os problemas podem não se resolver sempre à primeira. O importante é esclarecer o paciente sobre o que se vai fazer e relembrar que nunca há certeza de que tudo resulte conforme o planeado. O clínico explica que a cirurgia é um acto específico, mas o seguimento de um paciente é um processo.
Martin observa o doente e procura uma congruência entre as suas queixas e os exames apresentados. Quando vê que os exames revelam uma patologia focada responsável pelas queixas refractárias aos tratamentos conservadores, propõe ao paciente a solução cirúrgica, explicando claramente as opções de sucesso.
A qualidade de vida em Portugal
Quando era pequeno. Martin queria ser mil coisas diferentes. Na adolescência era “demasiado filósofo”, mas houve pressão da parte da progenitora para estudar medicina. “Criei o interesse e, apesar de não ser um excelente aluno no secundário, dei o máximo na universidade e fui o melhor do curso”.
Com dois filhos pequenos, de 8 e de 4 anos, o mais novo já nascido em Portugal, quando tem férias gosta de ir a Itália, para mostrar as raízes aos descendentes. Sempre que pode também passeia pelo nosso país. “Trabalhei sete anos no Santa Maria e não vi praticamente nada a não ser o hospital”, lamenta Martin, referindo que ainda não conhece o Ribatejo, mas está apaixonado pelo Alqueva, no Alentejo, que lhe lembra a Toscana italiana, com muita natureza e muito verde.
No futuro imagina-se a trabalhar em Portugal onde diz ter paz, qualidade de vida e de trabalho.
Vive em Cascais, onde pratica ténis e surf. Ler e ouvir música são distracções que o ajudam a concentrar-se no trabalho. Opera dois ou três dias por semana, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa.
Não gosta de entrar em discussões sobre o sistema de saúde privado versus serviço nacional de saúde. Para o neurocirurgião o importante é que favoreçam a empatia, o relacionamento e o tempo. “Podemos falar dos grandes grupos, podemos falar da saúde privada ou de saúde pública, mas na realidade essa relação baseada na responsabilidade e na confiança reduz-se a duas pessoas, o paciente e o médico, alguém que está mal e alguém que vai tentar ajudá-lo a melhorar”, remata.