uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Em Moçambique faltam pequenas coisas que noutros países são como pão para a boca
foto DR Tiago Martins partiu para Moçambique pelo desafio e crescimento pessoal

Em Moçambique faltam pequenas coisas que noutros países são como pão para a boca

Tiago Martins tem 35 anos, é natural de Tomar e vive há dois anos em Moçambique. Foi pelo desafio e com a ambição de construir uma carreira internacional que aceitou ir trabalhar para Moçambique. Tiago é engenheiro electrotécnico e destaca as diferenças culturais entre o país africano e Portugal. A afabilidade de um povo que se habituou a viver com pouco é uma das características que enaltece.

Nunca esteve nos planos de Tiago Martins emigrar. Quando surgiu a oportunidade para abraçar um desafio internacional já trabalhava no ramo das telecomunicações há cerca de dez anos. Tiago Martins, 35 anos, iniciou o curso de Engenharia Electrotécnica em Leiria mas o facto de ser trabalhador/estudante fez com que, por uma questão de conciliar melhor o tempo, optasse por concluir o curso no Instituto Politécnico de Tomar, cidade natal e onde vivia.
Há três anos que vive em Moçambique. O primeiro ano viveu em Tete, no centro, e há cerca de dois anos que se mudou para Maputo, no sul desse país banhado pelo Índico. “Nunca imaginei que alguma vez iria emigrar mas quando a oportunidade surgiu arrisquei por dois motivos: pelo desafio e crescimento pessoal e também por poder fazer uma carreira internacional”, explica a O MIRANTE. Vive com a namorada, que conheceu em Moçambique.
O engenheiro electrotécnico considera que as principais diferenças entre Moçambique e Portugal são culturais. “Enquanto em Portugal temos qualidade de vida, em Moçambique existem necessidades de pequenas coisas que na Europa são dados adquiridos como a água, energia ou alimentação. Aqui são sempre uma variável incerta, hoje há, amanhã pode não haver”, explica.

Crianças pedintes
pagaram-lhe a portagem
Tiago Martins tem algumas histórias para contar da vida no país que o acolheu. Recorda o episódio em que teve de atravessar uma ponte sobre o rio Zambeze em que é necessário pagar portagem, em dinheiro. E, naquele dia, Tiago e os seus colegas não tinham moedas consigo. “Nessas portagens costumam estar crianças a tentar vender ou a pedir dinheiro. Nesse dia foram eles que nos deram dinheiro para pagarmos a portagem. Foi uma lição de vida. Aquelas crianças que não têm nada e andam a pedir dinheiro deram-nos o pouco que tinham para podermos passar a ponte”, conta.
A adaptação a um país diferente foi fácil. O facto de existir uma grande comunidade de portugueses em Moçambique ajudou. O mais difícil foi deixar a sua zona de conforto e partir rumo ao desconhecido. Quando chegou foi complicado ver a pobreza e as crianças na rua sem tecto para dormir. “Apesar de tudo esboçam-nos um sorriso sempre que lhe damos qualquer coisa, nem que seja uma garrafa de água. É uma realidade completamente diferente de Portugal”, diz.
As saudades da família e os amigos são o mais difícil de ultrapassar. Vem a Portugal duas vezes por ano e diz que estar mais de seis meses sem regressar à sua terra natal não é saudável. Aproveita as férias para regressar a Tomar, onde recarrega baterias para mais uma jornada fora do país. Tiago acompanha tudo o que se passa em Portugal através dos jornais online e da televisão. O contacto com a família e amigos também é permanente com as novas tecnologias. Quando chegou a Moçambique foi com o intuito de ficar dois anos. Por enquanto vai continuar mas está nos seus planos regressar a Portugal, ainda não sabe é quando. “Em Portugal existe melhor qualidade de vida e não falha água nem comida nos supermercados”, relata.

Catástrofe uniu população moçambicana
Apesar de Maputo se situar a cerca de 1200 quilómetros da cidade da Beira, que foi afectada pelo ciclone Idai a 4 de Março deste ano, Tiago Martins recorda que os colegas da sua empresa que vivem na Beira ficaram em casa durante a tempestade e os trabalhos pararam nesse período.
Na manhã seguinte os telemóveis não funcionavam, não havia electricidade nem acessos terrestres ou aéreos. “Apesar da distância, a população do país está unida e existe o sentimento de querer ajudar. Se todos dermos um bocadinho vamos conseguir fazer a diferença”, afirma. Tiago diz que o sentimento é de entreajuda, solidariedade e força. Apesar do susto por causa do ciclone, o engenheiro electrotécnico não quere regressar mais cedo ao seu país.

Em Moçambique faltam pequenas coisas que noutros países são como pão para a boca

Mais Notícias

    A carregar...