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Maior fábrica de discos de vinil do país funcionou em Vila Franca de Xira
Espaço onde funcionou a Ibéria está hoje fechado

Maior fábrica de discos de vinil do país funcionou em Vila Franca de Xira

A Ibéria do empresário Manuel Simões chegou a empregar meia centena de trabalhadores. Foi em Vila Franca de Xira que nasceu a primeira fábrica nacional de produção de discos de vinil, na década de 50, a poucas centenas de metros do rio Tejo. Na semana em que se celebra o Dia Europeu da Música, a 21 de Junho, O MIRANTE foi descobrir um pouco mais sobre a sua história.

foto DR Fábrica Ibéria implementou tecnologia inovadora na altura

Alfredo Marceneiro, Berta Cardoso, Tristão da Silva ou Anita Guerreiro são alguns dos nomes grandes do fado nacional cujas vozes foram gravadas e imortalizadas em discos de vinil produzidos em Vila Franca de Xira.
Foi naquela cidade ribatejana que em 1950, nasceu a Ibéria, a primeira fábrica nacional de microgravação de discos de vinil (LP), um facto histórico do qual resta muito pouca memória ou registo. O investimento foi feito pelo empresário Manuel Simões (1917-2008), natural de Pedrógão Grande e um dos primeiros editores discográficos portugueses.
O pedido de construção entregue na câmara municipal data de 1952 mas, como continua a acontecer nos dias de hoje com diversas obras, a licença de ocupação só lhe seria concedida em 1958, já a fábrica laborava a todo o vapor há vários anos.
Até então, a maioria dos discos em circulação no mercado era produzida no Porto e no estrangeiro. O objectivo era acabar com essa hegemonia no mercado e ao mesmo tempo dar oportunidade a músicos desconhecidos de mostrarem o seu valor gravando as suas peças, sobretudo fado, para nichos de mercado.
A fábrica laborou na avenida particular da actual Rua Alves Redol, à data chamada Rua Palha Blanco, de acordo com registos enviados a O MIRANTE pela Fundação Manuel Simões, que preserva algum do espólio deixado pelo empresário.
A Ibéria funcionou apenas durante uma década. Na sua fase mais activa chegou a empregar meia centena de trabalhadores num sector altamente tecnológico para a época. Acabaria por encerrar a meio da década de sessenta devido à forte concorrência da música anglo-saxónica.

Dois pisos e cabine de gravação
O espaço foi depois vendido para acolher uma metalúrgica e posteriormente funcionou como depósito operacional dos correios. Está hoje em processo de venda e na zona não há nenhuma referência a esse passado. Mas os discos prensados na cidade ribatejana ainda podem ser encontrados, com alguma sorte, nos mercados de velharias e em feiras do disco usado, com os seus rótulos “Estoril” e a informação: “Fabricados pela Ibéria em Vila Franca de Xira – Portugal”.
Hipólito Cabaço, coleccionador de vinil residente na cidade, foi um dos que se empenhou há alguns anos em tentar resgatar do passado mais informações sobre a fábrica. Da sua pesquisa no museu municipal, que partilhou com O MIRANTE, percebe-se que a mesma tinha dois pisos. A unidade de laboração ficava no rés-do-chão e albergava um depósito de pasta de vinil (a matéria-prima), sala de caldeira, prensas, fornos e depósito de matrizes (os discos de vinil são produzidos a partir de matrizes, ou discos mestres, feitos de prata e níquel). No mesmo piso funcionava também uma secretaria, um stand de vendas e o escritório do gerente.
No primeiro andar existiu um estúdio, cabine de gravação, um “foyer” para os artistas e uma sala de direcção. O segundo piso era composto por serviços de propaganda e publicidade, arquivo, gabinetes e sanitários.
Depois de ter sido quase dado como morto no princípio dos anos 90, substituído pelas capacidades digitais do disco compacto (CD) e da música em streaming, via internet, o vinil tem sentido um ressurgimento na última década, com vários artistas a lançarem as suas obras naquele formato e até editoras globais, como a Sony, a reactivarem antigas fábricas de prensagem de vinil semelhantes à que existiu em Vila Franca de Xira.
O som de um disco de vinil é obtido quando uma agulha desliza sobre microranhuras em forma de espiral existentes na superfície, da extremidade até ao centro do disco, que é girado por um motor eléctrico. Essas ranhuras fazem vibrar a agulha o que por sua vez transforma as vibrações em sinal eléctrico, possibilitando que seja amplificado e transformado em som audível.

Maior fábrica de discos de vinil do país funcionou em Vila Franca de Xira

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