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Colheita de órgãos para transplante no Centro Hospitalar do Médio Tejo acima da média nacional
Lucília Pessoa, coordenadora hospitalar de doação do CHMT

Colheita de órgãos para transplante no Centro Hospitalar do Médio Tejo acima da média nacional

Nos hospitais de Santarém e Vila Franca de Xira não há registo de colheitas no ano passado. Somos todos dadores de órgãos para transplante a não ser que declaremos o contrário, mas a colheita de órgãos implica que o dador reúna determinadas condições que nem sempre se verificam. Além disso as circunstâncias para a doação de órgãos são imprevisíveis e variadas. A propósito do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação falámos com os hospitais da área de abrangência de O MIRANTE.

Paulo Sintra, director clínico do HDS

Os hospitais da região fazem parte da lista de unidades hospitalares autorizadas pela Direcção-Geral da Saúde a fazerem colheita de órgãos para transplantes, mas os resultados que obtiveram no último ano não podiam ser mais díspares.
No Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) foram feitas colheitas a 15 dadores, tendo sido colhidos 36 órgãos (13 fígados, 22 rins e um pâncreas), já no Hospital Distrital de Santarém (HDS) não foi efectuada qualquer colheita de órgãos em 2018, por falta de dadores, uma situação também reportada pela administração do Hospital Vila Franca de Xira que falou em “números pouco expressivos” para os restantes anos.
De acordo com a coordenadora hospitalar de doação do CHMT, Lucília Pessoa, tem-se verificado, ao longo dos anos, uma tendência para o aumento do número de colheitas e os resultados obtidos o ano passado são os mais elevados dos últimos dez anos.
Segundo a médica, assistente graduada de medicina interna, o crescente número de colheita de órgãos corresponde a uma maior divulgação, formação e motivação dos profissionais, assim como do trabalho desenvolvido pelo Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST). “Considerando a população da nossa área de influência, a taxa foi de 60 dadores por milhão de habitantes/ano, muito superior à média nacional de 33,6 por milhão de habitantes”, refere.
Paulo Sintra, director clínico do Hospital de Santarém, diz que habitualmente não são ultrapassadas as quatro ou cinco colheitas por ano, um número que se tem mantido estável, à excepção do ano atípico de 2018 sem qualquer registo.
Segundo explicou a O MIRANTE, o número de colheitas depende do número de dadores mas também de um maior envolvimento dos profissionais de saúde. A idade dos dadores é muito variável e está dependente das situações graves que acompanham no HDS. Geralmente os dadores têm menos de 50 anos.
Lucília Pessoa, do Centro Hospitalar do Médio Tejo, refere que o aumento da idade dos dadores é uma realidade tanto a nível nacional como internacional e que isso resulta da carência de órgãos para transplante.
Hoje em dia, explica, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas de manutenção dos dadores e de técnicas de transplantação traduz-se em altas taxas de sucesso, mesmo para dadores idosos e receptores também cada vez com mais idade. “Já os tivemos com 85 anos”, diz Lucília Pessoa. Em Portugal a idade média do dador de órgãos falecidos subiu para 57,3 anos em 2018, quando tinha sido de 53,8 em 2017 e de 55,1 em 2016.
O número de doentes à espera de um transplante em 2018 era de 2.186 pessoas. O número total de órgãos transplantados foi de 829 quando em 2017 tinha sido de 895.

Uma operação delicada
Colher um órgão é uma operação delicada que envolve vários intervenientes desde médicos e enfermeiros, que primeiro contactam com o doente e que o identificam e referenciam como possível dador, passando pelos profissionais da Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente UCIP, que fazem a manutenção, acabando na equipa de colheita e finalmente na de transplante.
A equipa de colheita, constituída por cirurgiões e enfermeiros é proveniente de um dos cinco Gabinetes Coordenadores de Colheita e Transplantação existentes no país, em hospitais centrais. No caso do CHMT vem geralmente do Centro Hospitalar Lisboa Norte - Hospital de Santa Maria, e no caso do Hospital Distrital de Santarém vem do Hospital São José.
O tempo de cirurgia ronda os 60 minutos e o tempo entre colheita e transplante geralmente não ultrapassa as seis horas para, por exemplo, um rim. Quando se trata de um coração o tempo tem que ser inferior. Já as córneas podem aguardar mais tempo, explica Paulo Sintra.
Tanto no CHMT como no HDS as colheitas são efectuadas em dadores em morte cerebral. Isto é, em pacientes com lesões cerebrais catastróficas e irreversíveis, mas que ainda têm circulação, que não estão em paragem cardíaca.
Lucília Pessoa refere que em algumas situações o paciente pode sofrer uma paragem cardíaca antes da chegada ao Serviço de Urgência, mas, sempre que possível, esta é revertida através do Suporte Básico e Suporte Avançado de Vida.
Logo que colhidos, os órgãos são imediatamente transportados ao hospital onde se vai realizar o transplante, onde foram previamente efectuadas as provas de compatibilidade e seleccionado o receptor mais adequado. Este é convocado, internado e preparado para a cirurgia. À chegada ao hospital de destino, os órgãos são entregues à equipa de transplantação, que já se encontra à espera e inicia o transplante.

Todos somos dadores a não ser que declaremos contrário

O primeiro procedimento numa operação de colheita de órgãos é a consulta ao RENNDA (Registo Nacional de Não Dador), pedida ao gabinete de colheita ao qual o hospital está ligado para verificar se o possível dador não manifestou em vida a vontade de não ser dador. Todos os não inscritos são considerados, à luz da Lei Portuguesa, possíveis dadores.

Transplantação de órgãos aumentou 2% no primeiro semestre de 2019

A transplantação de órgãos em Portugal aumentou no primeiro semestre do ano em cerca de 2%, com mais 10 transplantes do que em igual período de 2018, segundo dados do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) divulgados na véspera do Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação que se assinalou, pela primeira vez de forma oficial, a 20 de Julho.
O aumento traduz-se ainda num aumento da taxa de aproveitamento dos órgãos, que passou de 75% no primeiro semestre de 2018, para 81% em 2019, de acordo com o IPST. O organismo refere ainda o número de transplantes renais de dador vivo, que aumentou cerca de 33%, depois de no primeiro semestre de 2018 ter sofrido uma diminuição de 40% face a 2017.

Colheita de órgãos para transplante no Centro Hospitalar do Médio Tejo acima da média nacional

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